O Rio Grande do Norte é um dos estados que enviaram
informações de forma insuficiente para os indicadores de violência contra
mulher. O mapeamento faz parte de uma parceria entre o Observatório da Mulher
contra a Violência do Senado Federal, a empresa social Gênero e Número e o
Instituto Avon. Os pedidos de dados de segurança aos estados e ao Distrito
Federal foram encaminhados pela Gênero e Número, em meados de 2022. O Maranhão,
Tocantins, Piauí, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro,
Paraná, e Rio Grande do Sul também se juntam ao RN neste indicativo.
Dezoito estados e o Distrito Federal (DF) não forneceram dados sobre violência contra as mulheres, em descumprimento à Lei Acesso à Informação (LAI). Entre eles, Acre, Paraíba e Santa Catarina negaram completamente o acesso aos seus indicadores estaduais. Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e DF não responderam aos pedidos de envio dos indicadores.
Em resposta, Maranhão, Tocantins, Piauí, Rio Grande
do Norte, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná, e
Rio Grande do Sul enviaram informações insuficientes. Apenas os estados de
Roraima, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Ceará, São Paulo e Espírito Santo
mandaram os dados completos conforme solicitado.
“Como somos do Senado, a gente tem feito um trabalho
de procurar os senadores desses estados que ainda não enviaram [os dados] para
pedir esse reforço junto aos secretários de Segurança estaduais, para ver se a
gente consegue esses dados e dar continuidade ao projeto”, disse a coordenadora
do Observatório da Mulher no Senado Federal, Maria Teresa Prado, em entrevista
à Agência Brasil.
A reportagem da Agência Brasil entrou
em contato com os estados que não apresentaram as informações solicitadas para
ouvir seus posicionamentos, mas até a publicação deste conteúdo não recebeu
resposta.
Levantamento
A parceria surgiu da necessidade de unificar,
organizar, analisar e monitorar estatísticas públicas nacionais sobre violência
contra mulheres. O primeiro caminho da pesquisa foi utilizar a LAI para pedir
às unidades federativas dados sobre segurança pública, especialmente, dos
registros de ocorrência e feminicídios, e ainda das chamadas para a Polícia
Militar.
O projeto partiu do entendimento que, para a
pesquisa, era preciso fazer o mapeamento dos dados pelos integrantes da
parceria e, assim, garantir “a transparência e a disponibilidade de bases sobre
violência contra as mulheres em diferentes setores: saúde, segurança pública,
justiça, entre outros”. A intenção era assegurar o cumprimento da lei, que
garante acesso aos dados a todos os cidadãos de forma igualitária.
“A gente quer trabalhar a qualidade desses dados
gerais de violência contra mulher para que eles sejam melhorados. É nessa linha
que a gente quer trabalhar com essa parceria”, pontuou a coordenadora do
Observatório da Mulher no Senado Federal.
Segundo a coordenadora de Projetos, Pesquisa e
Impacto do Instituto Avon, Beatriz Accioly, por meio dessas informações será
possível entender qual o cenário brasileiro em relação à violência contra a
mulher:
“O projeto é de criar esse repositório [de dados]
que vai estar hospedado em [uma extensão] .gov, ou seja, vai ter uma plataforma
oficial ligada ao Senado Federal.”
Beatriz acrescenta que essa consolidação de dados já
ocorreu com o DataSUS em relação à saúde da mulher. No entanto, as informações
relativas à segurança pública ainda não têm uma plataforma de fácil acesso,
destacou.
Padronização
De acordo com a coordenadora do Observatório da
Mulher, a ideia é trabalhar em cima da conscientização sobre a importância
desse levantamento. “A gente sabe que são vários impedimentos, desde a pessoa
que preenche o boletim, o fato de ter um formulário único. São várias questões
para serem tratadas e [é importante que] isso seja resolvido para que a gente
tenha um banco de dados”, diz Maria Teresa, acrescentando que além de virem,
muitas vezes, incompletos, os dados são organizados de forma diferente em cada
estado.
De acordo com os pesquisadores, o trabalho seria
mais fácil se as unidades da federação e o Distrito Federal tivessem uma
padronização. Maria Teresa lembrou que, em 2021, foi aprovada a lei que criou a
Política Nacional de Dados e Informações Relacionadas à Violência contra as
Mulheres (PNAINFO), mas ainda precisa de regulamentação para entrar em prática.
“O que é chocante é a gente ver que os dados de feminicídio
são altos, mas pensar que existe uma subnotificação muito grande. Se fosse
real, ainda seria muito maior”, completou Maria Teresa.
Políticas públicas
A coordenadora do observatório espera que, com as
medidas anunciadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para garantir mais
segurança e direitos das mulheres, as pesquisas evoluam com maior
disponibilidade de dados que vão favorecer a elaboração de políticas públicas.
“Tenho muita esperança que sim. Só o fato de ter o
Ministério da Mulher e ter as ações anunciadas que perpassam todos os
ministérios. Colocar a questão da mulher como questão transversal aos
ministérios acho que foi muito importante. Agora cabe a gente cobrar tudo que
estava ali. Tudo indica que o tema vai ser priorizado”, afirmou Maria Teresa.
Na visão de Beatriz Accioly, o dado é um instrumento
para possibilitar análises, diagnósticos, direcionar recursos e tomar decisões.
“Para isso é que deve ser utilizado, mesmo que não tenha a qualidade que se
procura. A gente tem que trabalhar nas duas frentes: buscar a qualidade, a
transparência, mas também utilizar os que tem na medida do possível para
orientar as políticas públicas”, apontou.
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