Agora RN
Conhecido pelo potencial de produção de petróleo, o
Rio Grande do Norte já viveu uma era em que a extração do combustível fóssil
era um dos principais produtos que movimentava a economia estadual. No entanto,
os próximos anos podem guardar uma surpresa a ponto de fazer o estado viver uma
nova revolução econômica também por causa do Petróleo. Desta vez, os recursos
podem vir de águas profundas na área de Pitu, na Bacia Potiguar. Isso tudo,
depende da perfuração para delimitar a área e entender a viabilidade ou não da
exploração. No entanto, um geólogo defende a volta da Petrobras para exploração
terrestre como medida para influência positiva imediata à economia potiguar.
A área em questão fica aproximadamente a 60 km da
costa de Areia Branca, na região da Costa Branca potiguar, próximo à fronteira
com o estado do Ceará, e foi descoberta em 2013. De acordo com a estatal, a
profundidade final do poço é de 4.200 metros. Em dezembro do ano passado, a
Petrobras já tinha divulgado um Novo Plano estratégico de investimentos de
cerca de US$ 78 bilhões para o período de 2023 a 2027.
A exploração da Margem Equatorial, que engloba
bacias no Norte e Nordeste da costa brasileira e compreende a faixa que se
estende do Amapá ao Rio Grande do Norte, tem previsão de receber investimentos
de aproximadamente US$ 3 bilhões, cerca de R$ 15,6 bilhões. “Com as descobertas
que houveram na região da margem oceânica de frente à Venezuela, Guianas e
Suriname, você passou a olhar com outros olhos as bacias da margem equatorial,
que é Foz do Amazonas, Barreirinhas, Ceará e Potiguar”, explicou Orildo Lima e
Silva, presidente da Associação Profissional dos Geólogos do Rio Grande do
Norte (Agern).
No entanto, a região não pôde ser classificada como
campo em virtude de algumas etapas do processo de classificação não terem sido
totalmente concluídas. “Esse [Pitú] foi chamado o poço número um que descobriu
a área e confirmou uma existência de óleo com determinada espessura. Que
confirmada, seria economicamente viável. Depois, foi perfurado um segundo poço
que diminuiu a espessura da potencial jazida. Esfriou um pouco a área. Nessa
época já tinha se descoberto o pré-sal, a Petrobras iniciou os investimentos
para o pré-sal e Pitu ficou um pouco no banho-maria, vamos dizer assim”,
esclareceu Orildo.
Mas de acordo com o especialista, uma terceira
perfuração, que delimitaria a jazida, poderia dar um norte ao futuro da
atividade de exploração no estado em águas profundas, o que pode acontecer a
médio e longo prazo. “A partir do momento que delimitar a jazida, será
estruturado o plano de desenvolvimento da área e aí ele passará a ser dominado
como campo de petróleo. Hoje, você conhece a espessura de óleo do primeiro
poço, que confirma a existência de óleo na bacia potiguar em águas profundas,
mas você não tem delimitação lateral, vamos dizer assim, que delimite a área
para que ela passe a ser um campo. Com esse terceiro poço que vai ser
perfurado, vai ser concluída a fase de delimitação de área e aí você vai ter o
campo de Pitu que vai entrar na fase de explotação, de produção. E isso é uma
coisa que deve acontecer em um prazo de cinco a 10 anos se confirmada a
jazida”, prevê.
Conforme o geólogo, após a comprovação de
delimitação de área, ainda é necessário declarar se o poço é viável
economicamente para a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis (ANP) para perfurar poços de desenvolvimento e produção e ainda
é necessário a construção de navios do tipo Unidade Flutuante de Produção,
Armazenamento e Descarregamento (FPSO – Floating Production Storage Offloading
Unit).
Vale ressaltar que a continuação da bacia da Margem
Equatorial passa pelas bacias do Suriname, das Guianas e também pela do
Orinoco, na Venezuela, a principal do País vizinho que é membro da Organização
dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e tem as maiores reservas de
petróleo no planeta. Ainda assim, a bacia do Orinoco guarda semelhanças com a
da Margem Equatorial, à qual a bacia Potiguar faz parte. “Existem similaridades
geológicas, mas são bacias diferentes. Assim como a bacia potiguar tem
diferenças com a do Ceará, que tem diferenças com a bacia de Barreirinhas que
tem diferenças com a bacia da Foz do Amazonas. E que por sua vez terão
diferenças das bacias da Foz do Orinoco”, observou Lima e Silva.
POTENCIAL ECONÔMICO
Para o geólogo, a área em questão tem potencial, mas
não é possível fazer adivinhações. “Pitu e toda margem equatorial tem um
potencial enorme em médio e longo prazo. Não é uma coisa que vai acontecer em
2024. Tem um potencial real, mas tem um nível potencial. Só se vai ter uma
projeção mais definitiva a partir da delimitação da área e do plano de
desenvolvimento da área. São projetos de médio e longo prazo”, afirmou.
No entanto, o presidente da Agern defende que para
influências a curto prazo na economia do Estado, o setor petrolífero depende do
retorno da Petrobras na exploração dos campos terrestres, mesmo que em parceria
com empresas privadas. “O que vai garantir retorno econômico imediato ao RN é a
retomada da operação da produção pela Petrobras. Como funcionava até 2015 e que
a produção estava acima de 50 mil barris por dia. O que a Tribuna do Norte tem
feito, dando voz à Redepetro e Fecomércio, é quase um crime de lesa pátria
porque estão mentindo sobre o aumento da produção, a produção vem em queda, é
só olhar no gráfico da ANP porque a Petrobras dos governos anteriores deixou de
investir no RN”, defendeu.
Ele criticou a atuação de empresas privadas que
passaram a exercer a atividade no estado. “Colocar a gestão da produção
potiguar na mão de algumas empresas é jogar o futuro do RN na mão da pior
espécie de empresário privado que existe. A Petrobras operando as áreas, ela
trabalha em parceria com a iniciativa privada e traz investimentos para o RN. A
versão contrária pega um bando de empresários que só quer saber do bolso deles
e não quer saber do desenvolvimento do RN. Fica dando umas migalhas e pedindo
para reduzir os royalties para a ANP, como conseguiram pela metade; pedindo
para reduzir custo com licenciamento ambiental e pegando projeto de incentivo
para reduzir a tributação da parte deles. A Petrobras nunca se recusou a pagar
todos os tributos, licenças ambientais de acordo com a legislação”, criticou.
Cidade fluminense pode servir como
exemplo ao RN
O município fluminense de Macaé, a 190 km da cidade
do Rio de Janeiro, é reconhecida como a “capital brasileira do petróleo”. Na
década de 1970, tinha a pesca como uma das principais atividades do município
que tinha cerca de 30 mil habitantes. Com a descoberta dos poços de petróleo na
região e o consequente avanço da exploração e da produção em alto-mar, houve um
aumento na demanda por serviços especializados em petróleo e gás. O suficiente
para formar uma extensa cadeia de fornecedores na região para atender a demanda
da Petrobras na Bacia de Campos. Com isso, a população da cidade cresceu a
ponto de chegar a 266.136 pessoas, segundo estimativa de 2021 feita pelo
Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE).
Com isso, o setor de petróleo e gás acabou se
tornando um dos principais motores da economia da cidade fluminense, gerando
empregos diretos e indiretos em empresas de serviços, construção civil,
transporte, comércio e turismo. A cidade se tornou um centro de treinamento e
capacitação de mão de obra especializada em petróleo e gás, atraindo
trabalhadores de outras regiões do Brasil e até mesmo de outros países.
Vale ressaltar que, em períodos de queda no preço do
petróleo, a cidade teve a economia impactada, causando redução de investimentos
e demissão de trabalhadores. Entretanto, existe um plano de revitalização dos
campos maduros e início de operação de novas plataformas, há um planejamento de
que a Petrobras aumente o poder de produção das reservas situadas na região da
cidade. Com isso, há uma previsão da capacidade da produção da Bacia de Campos
subir de 600 mil barris diários para até 900 mil barris diários até 2028,
segundo o gerente da Unidade de Negócios da Bacia de Campos.
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