Depois de ir parar nos assuntos mais comentados do
Twitter neste sábado (25), a atriz Klara Castanho usou sua conta oficial no
Instagram para compartilhar um relato sobre os rumores de que teria engravidado
e colocado a criança para adoção.
Segundo o colunista do portal Metrópoles, Leo Dias,
a criança nasceu numa terça-feira, no dia 10 de maio de 2022, por volta das
13h, no Hospital Maternidade Brasil, em Santo André (SP), um menino. Ainda de
acordo com o jornalista, assim que a criança veio ao mundo, ela pediu para que
o bebê fosse retirado imediatamente da sala de parto para não haver nenhum tipo
de contato pele a pele com o recém-nascido. A criança foi entregue à adoção.
Em carta aberta, no que chama de “relato mais
difícil da vida”, a atriz de 21 anos disse ter sido estuprada. “Pensei que
levaria essa dor e esse peso somente comigo. No entanto, não posso silenciar ao
ver pessoas conspirando e criando versões sobre uma violência repulsiva e de um
trauma que eu sofri. Eu fui estuprada”, escreveu Klara Castanho.
Eis a íntegra do relato da atriz:
“CARTA ABERTA Esse é o relato mais
difícil da minha vida. Pensei que levaria essa dor e esse peso somente comigo.
Sempre mantive a minha vida afetiva privada, assim, expô-la desse maneira é
algo que me apavora e remexe dores profundas e recentes. No entanto, não posso
silenciar ao ver pessoas conspirando e criando versões sobre uma violência
repulsiva e de um trauma que sofri. Fui estuprada. Relembrar esse episódio traz
uma sensação de morte, porque algo morreu em mim. Não estava na minha cidade,
não estava perto da minha família nem dos meus amigos.
“Estava completamente sozinha. Não, eu
não fiz boletim de ocorrência. Tive muita vergonha, me senti culpada. Tive a
ilusão de que se eu fingisse que isso não aconteceu, talvez eu esquecesse,
superasse. Mas não foi o que aconteceu. As únicas coisas que tive forças para
fazer foram: tomar a pílula do dia seguinte e fazer alguns exames. E tentei, na
medida do possível e da minha frágil capacidade emocional, seguir adiante, me
manter focada na minha família e no meu trabalho. Mas mesmo tentando levar uma
vida normal, os danos da violência me acompanharam. Deixei de dormir, deixei de
confiar nas pessoas, deixei uma sombra apoderar-se de mim.
“Uma tristeza infinita que eu nunca
tinha sentido antes. As redes sociais são uma ilusão e deixei lá a ilusão de
que a vida estava ok enquanto eu estava despedaçada. Somente a minha família
sabia o que tinha acontecido. Os fatos até aqui são suficientes para me
machucar, mas eles não param por aqui. Meses depois, eu comecei a passar mal,
ter mal-estar. Um médico sinalizou que poderia ser uma gastrite, uma hérnia
estrangulada, um mioma. Fiz uma tomografia e, no meio dela, o exame foi
interrompido às pressas
“E mesmo assim esse profissional me
obrigou a ouvir o coração da criança, disse que 50% do DNA eram meus e que eu
seria obrigada a amá-lo. Essa foi mais uma da série de violências que
aconteceram comigo. Gostaria que tivesse parado por aí, mas, infelizmente, não
foi isso o que aconteceu. Eu ainda estava tentando juntar os cacos quando tive
que lidar com a informação de ter um bebê. Um bebê fruto de uma violência que
me destruiu como mulher. Eu não tinha (e não tenho) condições emocionais de dar
para essa criança o amor, o cuidado e tudo o que ela merece ter. Entre o
momento que eu soube da gravidez e o parto se passaram poucos dias. Era demais
para processar, para aceitar e tomei a atitude que eu considero mais digna e
humana.
“No dia em que a criança nasceu, eu,
ainda anestesiada do pós-parto, fui abordada por uma enfermeira que estava na
sala de cirurgia. Ela fez perguntas e ameaçou: ‘Imagina se tal colunista
descobre essa história’. Eu estava dentro de um hospital, um lugar que era para
supostamente para me acolher e proteger. Quando cheguei no quarto já havia
mensagens do colunista, com todas as informações. Ele só não sabia do estupro.
Eu ainda estava sob o efeito da anestesia. Eu não tive tempo de processar tudo
aquilo que estava vivendo, de entender, tamanha era a dor que eu estava sentindo.
Eu conversei com ele, expliquei tudo o que tinha me acontecido. Ele prometeu
não publicar. Um outro colunista também me procurou dias depois querendo saber
se eu estava grávida e eu falei com ele. Mas apenas o fato de eles saberem,
mostra que os profissionais que deveriam ter me protegido em um momento de
extrema dor vulnerabilidade, que têm a obrigação legal de respeitar o sigilo da
entrega, não foram éticos, nem tiveram respeito por mim e nem pela criança.
Bom, agora, a notícia se tornou pública, e com ela vieram mil informações
erradas e ilações mentirosas e cruéis. Vocês não têm noção da dor que eu sinto.
Tudo o que fiz foi pensando em resguardar a vida e o futuro da criança. Cada
passo está documentado e de acordo com a lei. A criança merece ser criada por
uma família amorosa, devidamente habilitada à adoção, que não tenha as
lembranças de um fato tão traumático. E ela não precisa saber que foi resultado
de uma violência tão cruel. Como mulher, eu fui violentada primeiramente por um
homem e, agora, sou reiteradamente violentada por tantas outras pessoas que me
julgam. Ter que me pronunciar sobre um assunto tão íntimo e doloroso me faz ter
que continuar vivendo essa angústia que carrego todos os dias
“A verdade é dura, mas essa é a história
real. Essa é a dor que me dilacera. No momento, eu estou amparada pela minha
família e cuidando da minha saúde mental e física. Minha história se tornar
pública não foi um desejo meu, mas espero que, ao menos, tudo o que me
aconteceu sirva para que mulheres e meninas não se sintam culpadas ou
envergonhadas pelas violências que elas sofrem. Entregar uma criança em adoção
não é um crime, é um ato supremo de cuidado. Eu vou tentar me reconstruir, e
conto com a compreensão de vocês para me ajudar a manter a privacidade que o
momento exige. Com carinho, Klara Castanho”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário