Os expedientes de seis horas se
transformaram em plantões de 14 a 16 horas diárias. Não há fim de semana, não
há feriado. A enfermeira Gabriela Cruz, 35 anos, deixou o filho de 6 anos com
os pais, no interior, há dois meses, desde que começou a atuar diretamente no
combate ao novo coronavírus no Hospital Giselda Trigueiro, referência para
doenças infectocontagiosas, e primeira unidade a receber pacientes suspeitos
para a Covid-19 no Rio Grande do Norte. Desde então, vê o menino a cada 10 ou 15
dias.
“A gente liga um para o outro, chora,
mas eu digo que a mamãe está fazendo isso para proteger ele”, conta a
profissional que tem 11 anos de profissão e há três é diretora de enfermagem da
unidade de saúde. “A gente não tem medo de adoecer. Temos medo é de alguém da
nossa família adoecer, de ficarmos nos sentindo culpados”, conta ao G1 por
telefone.
Sob seu comando, são cerca de 350
técnicos de enfermagem e 50 enfermeiros trabalhando em um ritmo exaustivo. Até
agora, nenhum profissional que trabalha na unidade adoeceu, mas a sobrecarga
física e emocional preocupa.
“É uma sobrecarga emocional muito
forte. É um trabalho exaustivo, com a tensão de fazer tudo certo para o
paciente, de conseguir atender a todos, de fazer tudo certo para evitar
contaminação. Se houver um óbito, temos que saber que fizemos tudo que estava
ao nosso alcance. O paciente fica isolado e a gente não pode deixar ele
sozinho. Ali nós somos a família dele”, conta.
A tensão se converte em euforia e
motivação nas pequenas vitórias. Nesta quarta-feira (29), a comemoração era
pela melhora de um jovem paciente de Covid-19, que estava em uma situação
“gravíssima” e conseguiu melhora no quadro.
A nova realidade é algo jamais visto
pela enfermeira, durante seus anos de exercício da profissão. Ela conta que
profissionais mais antigos na unidade relatam as dificuldades durante a crise
causada pela gripe H1N1, que também infectou muitas pessoas na cidade e
superlotou o hospital.
Para ela, a situação mais difícil foi
no início da nova pandemia, quando ainda havia menos informação sobre a doença
e foi preciso enfrentar o medo até mesmo de alguns profissionais. Também foi
preciso correr contra o tempo para conseguir materiais, como equipamentos de
proteção individual, e para reorganizar o fluxo de trabalho. “O hospital teve
que se ajustar à nova realidade, já atendendo aos pacientes, ao contrário de
outros”, conta.
Tanto que, agora, ela considera que a
unidade está numa situação mais “confortável” do que esperava. Ainda assim, é
preciso estar atento. Um dos desafios, por exemplo, é ampliar a área exclusiva
para atendimento a pacientes do coronavírus.
Até mesmo os profissionais que estão
de folga têm ido ajudar no trabalho. Gabriela revela que a equipe tem sido
acompanhada por psicólogos para conseguir lidar com a pressão. Apesar disso,
considera que os profissionais vão conseguir vencer o desafio e que logo poderá
ver o filho.

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