Ao declarar publicamente que hoje “ficaria no centro,
nem esquerda, nem direita”, o vice-governador Walter Alves (MDB) não apenas se
desvinculou do eixo governista liderado pelo PT, do qual é parte, como também
sinalizou reposicionamento para 2026. “Se eu pudesse escolher, hoje, Ezequiel,
eu ficava sabe aonde? No centro. Nem esquerda, nem direita. A gente é centro”,
afirmou, olhando para o presidente da Assembleia, Ezequiel Ferreira (PSDB), a
quem trouxe simbolicamente para o mesmo campo: o centro, protagonizado pelo
prefeito de Mossoró, Allyson Bezerra (União Brasil).
O gesto verbalizado em público não surgiu de forma
isolada. Segundo apuração do Diário do RN, conversas entre Walter e Allyson
ocorrem há meses e avançaram significativamente nas últimas semanas. Pessoas
próximas aos dois afirmam que o alinhamento político está “quase fechado”.
Nesse sentido, circula nos bastidores a
possibilidade de a irmã do presidente da Assembleia compor uma chapa
majoritária como vice em uma aliança encabeçada por Allyson Bezerra.
Walter e Ezequiel, aliados, já reafirmaram
publicamente a parceria para 2026. A migração de Ezequiel para o MDB é vista
como praticamente definida, o que ampliaria o poder do partido sob o comando de
Walter. Com o MDB fortalecido e com capilaridade no interior potiguar, a
combinação se torna eleitoralmente atrativa para qualquer candidatura.
Para Allyson, que hoje não tem um grupo sólido e
encontra barreiras para se inserir totalmente no projeto da oposição de
direita, esse arranjo preencheria uma lacuna estratégica: estrutura política e
narrativa de centro. Ele teria em seu palanque o União Brasil, seu partido, o
PP, do deputado João Maia, o PSD da senadora Zenaide Maia, e o MDB, com o maior
número de prefeitos no Estado e que deve formar a maior bancada da Assembleia
com a migração de Ezequiel.
Walter já dialogava com Allyson no começo do ano;
era o interlocutor do governo em mediações que teriam ocorrido com a intenção,
inicialmente, de aproximar o prefeito de Mossoró do projeto eleitoral do
governismo. Naquele momento, havia a possibilidade da formação da chapa com
Allyson para o governo, Fátima e Zenaide para as duas vagas do Senado.
Em março deste ano, Allyson protagonizou um
movimento inédito: recepcionou pessoalmente Lula e a governadora Fátima Bezerra
(PT) durante a visita presidencial à inauguração da Barragem de Oiticica. O
aeroporto Dix-Sept Rosado, em Mossoró, serviu de base para a comitiva, e o
prefeito não apenas ofereceu logística, foi ao encontro, cumprimentou e posou
para fotos ao lado de Lula e da governadora. A cena se repetiu semanas depois,
na entrega do residencial Mossoró III, do Minha Casa, Minha Vida, ao lado de
Fátima e do ministro das Cidades, Jader Filho.
Após se afastar da ideia, as conversas com Walter teriam continuado desde
então.
Um eventual afastamento de Walter representaria um
golpe duplo para o grupo liderado pela governadora Fátima Bezerra. Primeiro,
porque fragiliza a tentativa do PT de construir um palanque competitivo para
2026 em meio ao cenário de déficit fiscal e desgaste administrativo, elementos
que já dificultam a candidatura de Fátima ao Senado.
Além disso, abre a possibilidade de uma eleição
indireta na Assembleia caso a governadora se afaste do cargo para disputar o
Senado. Sem Walter na linha sucessória alinhado ao governo, a transição ficaria
vulnerável e colocaria o controle do Executivo nas mãos de forças externas ao
bloco petista. Essa chance é um risco real para o projeto governista.
O ponto de cautela de Walter está em Brasília.
Interlocutores relatam que o vice-governador ainda não cravou definição porque
aguarda movimentos possíveis do presidente Lula e do governo federal que possam
reposicionar sua ideia. Se o MDB nacional ou o Planalto sinalizarem prioridade
para reenquadrar Walter no projeto governista, os projetos e conversas dele
mudam e ele pode assumir o governo e declarar apoio ao projeto de Fátima, Cadu
e Lula.
Enquanto isso, até o momento, a tendência dominante
nos bastidores é de que o vice-governador já esteja com um pé fora do grupo e
outro no caminho de Allyson.
Uma fonte do governo disse ao Diário do RN que a
governadora Fátima Bezerra vai conversar com Walter Alves nos próximos dias
para esclarecer pontos e saber o que há de boato e de verdade nessas
informações que apontam para um rompimento do grupo PT/MDB.
Diário do RN

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