Sob a expectativa de fechar 2025 com o maior rombo
de sua história, ao redor de R$ 10 bilhões – até setembro o prejuízo já
ultrapassava R$ 6 bilhões –, os Correios receberam aval do Tesouro para um
empréstimo bancário de R$ 12 bilhões. Esse dinheiro não será usado basicamente
em investimentos, mas para o pagamento dos débitos de curto prazo, precatórios
(dívidas de condenações em processos judiciais) e despesas operacionais, como
os salários dos funcionários, que respondem por cerca de 70% dos custos
bilionários da estatal (R$ 11,7 bilhões de janeiro a setembro), além de um
plano de demissão voluntária.
Atolada em dívidas e sem disponibilidade de caixa, a
estatal está em situação gravíssima, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
fala em transformá-la em empresa de economia mista, com o ingresso do capital
privado em uma sociedade com controle estatal. Lula levantou essa remotíssima
possibilidade como se fosse natural que companhias privadas aceitem se associar
a uma estatal que está sob sério risco de insolvência, submetendo-se à
interferência do Estado.
Com essa visão distorcida, Lula parece enxergar
qualquer estatal como uma Petrobras, empresa de capital misto que ele
frequentemente critica por distribuir bons dividendos a seus acionistas. Nada
mais distante da realidade. Refém do jogo político, os Correios viraram uma
empresa com despesas que em muito excedem suas receitas e que, com a abertura
do mercado de entregas de encomendas, não resistiu à livre concorrência. Mesmo
contando com vantagens competitivas importantes, como isenção tributária e
presença em todo o País, sucumbe à eficiência de grandes grupos de logística.
Apesar de todas as evidências de má administração
estatal, a tese do governo petista é de que os Correios são um exemplo dos
malefícios da quebra do monopólio estatal. Em recente entrevista ao
jornal O Globo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, repetiu a
cantilena de que a empresa ficou com o ônus da universalização do serviço
postal e alegou que, “quando se acaba com um monopólio e todo mundo começa a
competir pelo filé mignon da logística, vai se perder espaço no mercado”.
O governo jamais vai admitir, mas não foi somente a
concorrência que quebrou os Correios. Em lugar de se preparar para enfrentar os
novos tempos, a empresa estatal serviu para acomodar apadrinhados políticos em
cargos de direção, inchando o quadro de funcionários e pagando salários
incompatíveis com a situação da empresa – o auge dessa esbórnia foi a
distribuição de um bônus natalino, no ano passado, no valor de R$ 2,5 mil, em
plena crise.
Os Correios já tiveram mais de 110 mil funcionários.
Planos de demissões a partir de 2017 reduziram o quadro para em torno de 80
mil. A título de comparação, o Mercado Livre, líder no mercado de entregas,
tinha planos de encerrar o ano com 55 mil funcionários no Brasil. Depois de
retirar a empresa do programa de privatizações, Lula autorizou, em 2024,
concurso púbico com 3.511 vagas para a empresa.
Recentemente, o presidente disse que o povo
brasileiro não pode pagar pelo prejuízo dos Correios, mas é provavelmente isso
o que vai acontecer: o crédito de R$ 12 bilhões para a estatal só foi possível
com o Tesouro como avalista. Se a empresa não pagar, quem paga é o Tesouro, com
dinheiro do contribuinte.
Opinião do Estadão

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