sábado, 20 de dezembro de 2025

Opinião do Estadão: O socorro a um moribundo

 


Sob a expectativa de fechar 2025 com o maior rombo de sua história, ao redor de R$ 10 bilhões – até setembro o prejuízo já ultrapassava R$ 6 bilhões –, os Correios receberam aval do Tesouro para um empréstimo bancário de R$ 12 bilhões. Esse dinheiro não será usado basicamente em investimentos, mas para o pagamento dos débitos de curto prazo, precatórios (dívidas de condenações em processos judiciais) e despesas operacionais, como os salários dos funcionários, que respondem por cerca de 70% dos custos bilionários da estatal (R$ 11,7 bilhões de janeiro a setembro), além de um plano de demissão voluntária.

Atolada em dívidas e sem disponibilidade de caixa, a estatal está em situação gravíssima, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fala em transformá-la em empresa de economia mista, com o ingresso do capital privado em uma sociedade com controle estatal. Lula levantou essa remotíssima possibilidade como se fosse natural que companhias privadas aceitem se associar a uma estatal que está sob sério risco de insolvência, submetendo-se à interferência do Estado.

Com essa visão distorcida, Lula parece enxergar qualquer estatal como uma Petrobras, empresa de capital misto que ele frequentemente critica por distribuir bons dividendos a seus acionistas. Nada mais distante da realidade. Refém do jogo político, os Correios viraram uma empresa com despesas que em muito excedem suas receitas e que, com a abertura do mercado de entregas de encomendas, não resistiu à livre concorrência. Mesmo contando com vantagens competitivas importantes, como isenção tributária e presença em todo o País, sucumbe à eficiência de grandes grupos de logística.

Apesar de todas as evidências de má administração estatal, a tese do governo petista é de que os Correios são um exemplo dos malefícios da quebra do monopólio estatal. Em recente entrevista ao jornal O Globo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, repetiu a cantilena de que a empresa ficou com o ônus da universalização do serviço postal e alegou que, “quando se acaba com um monopólio e todo mundo começa a competir pelo filé mignon da logística, vai se perder espaço no mercado”.

O governo jamais vai admitir, mas não foi somente a concorrência que quebrou os Correios. Em lugar de se preparar para enfrentar os novos tempos, a empresa estatal serviu para acomodar apadrinhados políticos em cargos de direção, inchando o quadro de funcionários e pagando salários incompatíveis com a situação da empresa – o auge dessa esbórnia foi a distribuição de um bônus natalino, no ano passado, no valor de R$ 2,5 mil, em plena crise.

Os Correios já tiveram mais de 110 mil funcionários. Planos de demissões a partir de 2017 reduziram o quadro para em torno de 80 mil. A título de comparação, o Mercado Livre, líder no mercado de entregas, tinha planos de encerrar o ano com 55 mil funcionários no Brasil. Depois de retirar a empresa do programa de privatizações, Lula autorizou, em 2024, concurso púbico com 3.511 vagas para a empresa.

Recentemente, o presidente disse que o povo brasileiro não pode pagar pelo prejuízo dos Correios, mas é provavelmente isso o que vai acontecer: o crédito de R$ 12 bilhões para a estatal só foi possível com o Tesouro como avalista. Se a empresa não pagar, quem paga é o Tesouro, com dinheiro do contribuinte.

Opinião do Estadão

 

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