O senador Alessandro Vieira disse na Comissão de
Constituição e Justiça do Senado que o ministro Alexandre de Moraes participou
da elaboração do PL da Dosimetria.
“O grande acordo envolve diretamente o ministro
Alexandre de Moraes, que se entende no direito de interagir com senadores e
deputados, sugerindo inclusive texto, enquanto ao mesmo tempo na tribuna da
Suprema Corte verbaliza o contrário, que o Congresso vai muito mal. Este texto
é fruto de um acordo do governo Lula, parte da oposição, o ministro Moraes,
dentre outros ministros”, afirmou o senador.
Em entrevista ao jornalista Josias de Souza,
Alessandro Vieira foi contundente na sua crítica a Alexandre de Moraes:
“O ministro Alexandre conversou com vários
senadores, discutiu detalhes de redação, sugeriu redações e, depois, faz
discurso da tribuna do STF, dizendo que é contra essas mudanças que atentam
contra a democracia. Defesa da democracia virou desculpa para qualquer
canalhice. As pessoas fazem no escurinho uma coisa, mas pegam o microfone e são
defensoras da democracia, e aí a gente tem que se perguntar que democracia é
essa.”
Que democracia é essa ecoa aquela outra pergunta de
que país é esse, e a resposta para ambas é simples no determinismo: somos um
país tropical, uma democracia tropical, o nosso clima apodrece tudo
rapidamente, quando não faz que as coisas já nasçam meio estragadas.
O acordão para o PL da Dosimetria é só mais um
capítulo da nossa história pervertida, não o pior de todos, devo dizer, e causa
espanto apenas em quem não conhece o Brasil ou reluta a aceitar a realidade
nacional que o algoz dos bolsonaristas possa ter participado da jabuticaba para
aliviar a cana de gente que condenou a penas francamente ridículas de tão
longas.
Por que ele estaria nessa? Ao que parece, o PL da
Dosimetria é moeda de troca para a aprovação de Jorge Messias para o STF.
O único dado original nisso tudo é que nunca houve
homem tão poderoso na história da República como Alexandre de Moraes, à exceção
do ditador Getúlio Vargas e dos generais-presidentes do regime militar.
Nem Gilmar Mendes chega a ter tanto poder, embora não
se deva brincar com ele de jeito nenhum.
O decano do STF sempre esteve mais para eminência
parda, apesar do seu comportamento não raro esfuziante; Alexandre de Moraes,
por sua vez, apresenta-se aos brasileiros como o portador infalível de verdades
indiscutíveis. Ele é o Verbo encarnado da democracia e da justiça.
Os imperadores romanos se acreditavam deuses, e
aassistimos a fenômeno semelhante no Brasil. A crença de ser portador de uma
missão divina — e, portanto, dotado de natureza divina — é a única explicação
para que Alexandre de Moraes não veja problema em ser vítima, investigador,
acusador e juiz em um mesmo processo.
Por ter natureza divina, Alexandre de Moraes é
ubíquo nos processos e na política, como se vê agora, no caso do PL da
Dosimetria. Ele condenou bolsonaristas; ele legisla para diminuir a pena de
quem condenou, deixando aberta a possibilidade de beneficiar o ex-presidente do
qual foi carrasco implacável; e ele manifesta publicamente oposição ao projeto
de lei que ajudou a escrever. Pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo.
Obviamente, como Verbo Encarnado, o ministro não se
sente obrigado a dar explicações sobre nada, muito menos sobre o incrível
sucesso do escritório de advocacia da sua mulher. Alexandre é Deus e também o
Seu profeta.
Mario Sabino - Metrópoles

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