quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

Conselho de Pacheco, análise técnica e imposição do regimento: entenda por que Alcolumbre cancelou a sabatina de Jorge Messias

 


A decisão do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), de cancelar a sabatina do advogado-geral da União, Jorge Messias, ocorreu após avaliações técnicas e políticas. Sem a mensagem presidencial formalizando a indicação ao Supremo Tribunal Federal (STF), a conclusão foi que tentar criar um precedente inédito no regimento e usar a publicação no Diário Oficial como alternativa seria arriscado e poderia ampliar o tensionamento com o Palácio do Planalto. 

Pelo Regimento Interno, o processo de sabatina só pode começar após o envio e a leitura da mensagem presidencial. É a partir dela que o Senado abre a tramitação formal, com numeração própria e possibilidade de anexar documentos — como o relatório pela aprovação da indicação ou não.

A mensagem deve vir acompanhada de currículo detalhado, declarações fiscais, lista de publicações e outras informações previstas no Artigo 383 do regimento. Sem esse material, não há base jurídica para vista coletiva, publicização do relatório ou realização da audiência pública. Técnicos avaliaram ainda que não caberia ao Senado coletar documentos que são de responsabilidade do Executivo.

Nos bastidores, a Mesa Diretora chegou a analisar uma alternativa para manter o calendário: utilizar apenas a publicação do nome de Messias no Diário Oficial da União como ponto de partida da tramitação. A iniciativa seria inédita e preservaria as datas já marcadas. Mas foi descartada diante do risco de questionamentos jurídicos e da possibilidade de anulação posterior de todo o processo. 

Além dos técnicos, Alcolumbre recebeu conselhos do presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Otto Alencar (PSD-BA), e do ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG) sobre a impossibilidade de se mudar o rito previsto no regimento interno e então descartou a ideia, segundo aliados. 

A avaliação foi que, sem a mensagem, haveria vício regimental, já que o rito exige etapas formais e publicidade mínima antes da sabatina. Além disso, a medida poderia ser judicializada, criando insegurança sobre a validade de uma eventual aprovação. 

O maior tempo decorrido entre o anúncio de um indicado e o envio da mensagem ao Congresso no terceiro mandato de Lula ocorreu com a indicação de Cristiano Zanin, em junho de 2023, quando o procedimento foi concluído em 12 dias. Já a indicação de Flavio Dino, em novembro de 2023, foi comunicada em três dias. O Planalto estabeleceu o período de 12 dias como prazo para delimitar como argumento que não há demora ou atraso no envio.

Alcolumbre já havia sinalizado irritação com o governo por ter anunciado o calendário antes de enviar a mensagem e, depois, ter deixado o documento de fora. Em nota, afirmou que a omissão era “grave e sem precedentes” e configurava “interferência no cronograma da sabatina”. Ele enfatizou que o calendário — que previa leitura do relatório, vista coletiva e sabatina — seguia o padrão das indicações anteriores e tinha o objetivo de concluir o processo ainda em 2025.

A suspensão reduziu a pressão imediata sobre o governo e deu ao Planalto tempo adicional para reorganizar a articulação. Mas, até o envio da mensagem presidencial, o processo permanece travado — e Alcolumbre mantém a posição de que não há como avançar sem o cumprimento integral das etapas regimentais.

O que diz o regimento sobre a escolha de autoridades

1. A indicação só começa após a leitura da mensagem presidencial

A mensagem deve ser lida em plenário e encaminhada à comissão competente. Sem a leitura, não existe processo, não há relatório e não há sabatina.

2. A mensagem precisa vir acompanhada de documentos obrigatórios

a) Currículo detalhado, com: histórico profissional; discriminação dos períodos de atuação; lista de publicações do indicado.

b) Declarações formais do indicado, incluindo: existência de parentes envolvidos em atividades relacionadas à sua profissão; participações societárias; comprovação de regularidade fiscal (federal, estadual e municipal); relação de ações judiciais em que figure como autor ou réu, com status atualizado; informações sobre atuação, nos últimos 5 anos, em tribunais, conselhos de estatais ou cargos de direção em agências reguladoras.

c) Texto escrito em que o indicado demonstre experiência, formação técnica e afinidade moral e intelectual com o cargo.

d) No caso de cargos internacionais, relatórios produzidos pelo Itamaraty sobre o país ou organismo, acordos firmados e atos pendentes de aprovação do Congresso.

3. Etapas obrigatórias dentro da comissão

Após receber a mensagem e os documentos:

a) O relator apresenta o relatório, podendo solicitar informações adicionais.

b) Vista coletiva automática deve ser concedida a todos os membros da comissão.

c) O relatório é publicado no portal do Senado, para conhecimento público.

d) O portal deve receber perguntas da sociedade, que são enviadas ao relator e avaliadas quanto ao uso na sabatina.

e) Pode haver audiência pública complementar, caso surjam novos elementos relevantes.

4. Só depois de todas essas fases pode haver sabatina e votação

A sabatina é a penúltima etapa. A votação no plenário só ocorre após a aprovação na comissão e o cumprimento de todo o rito.

O Globo

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Real Time: Gestão Fátima Bezerra é desaprovada por 65% no RN

  A governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), tem sua gestão desaprovada por 65% dos eleitores, segundo pesquisa do Real Time...