No Rio Grande do Norte, dois projetos em
andamento estão em fase de testes e podem oferecer alternativa para garantir
uma mobilidade turística mais sustentável
Por William Medeiros.
Em meio ao avanço das discussões sobre
sustentabilidade e à urgência em reduzir emissões de gás carbônico, os buggys
elétricos têm surgido como aposta para um turismo mais sustentável. No Rio
Grande do Norte, duas tecnologias estão sendo testadas: uma desenvolvida
pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-RN), em parceria
com outras instituições, e outra criada pela startup paranaense eION ampliando
as possibilidades de inovação no setor.
Utilizados com frequência em ambientes ao ar livre,
como faixas litorâneas e percursos off-road, os buggys são veículos compactos
feitos em fibra de vidro, normalmente sem portas, com tração apenas na parte
traseira e pneus traseiros de maior dimensão. Esses automóveis costumam ser
associados a atividades recreativas, circulando por superfícies de areia,
dunas, trechos gramados ou caminhos enlameados. A presença deles é mais
marcante na região Nordeste, onde a paisagem costeira favorece o uso desse tipo
de transporte em passeios e deslocamentos turísticos.
Em uma sociedade onde se discute, cada vez mais,
estratégias de descarbonização do setor automotivo, esses veículos possuem
papel essencial para garantir um mundo mais sustentável, principalmente por serem
usados em áreas de natureza. Com foco em reduzir as emissões de carbono na
atmosfera e garantir um turismo mais focado na sustentabilidade, há sete anos
existem projetos de buggys elétricos no Brasil.
Selvagem elétrico
Desenvolvido no Rio Grande do Norte, é parte do
Projeto Verena, que o SENAI-RN executa desde 2018 no Brasil com a Câmara de
Indústria e Comércio da cidade de Trier (EIC Trier), da Alemanha. O veículo é
uma produção da empresa Selvagem, sediada em Parnamirim, e conta com apoio da
Baterias Weg.
O veículo alcança uma velocidade máxima aproximada
de 120 km/h. No estágio atual de desenvolvimento, sua autonomia — ou seja, a
distância percorrida com a bateria totalmente carregada — é de cerca de 100 km,
podendo aumentar conforme os testes forem conduzidos e ajustes futuros forem
implementados no modelo. A recarga pode ser feita em tomadas convencionais,
levando entre 3 e 4 horas para que a bateria seja completamente abastecida.
De acordo com uma das gestoras da Selvagem, Michele
Oliveira, o projeto está na segunda etapa do desenvolvimento do projeto
elétrico, que passa por adaptações na suspensão dianteira, bateria e no sistema
de freios. “Esse veículo já percorreu vários estados para exposição, é uma
proposta inovadora demais para a gente e, a nossa expectativa, é que esse
projeto vai alavancar e atender a demanda que a gente tem na empresa (…) A
experiência foi excelente, tanto em termos de inovação tecnológica, como de
aprendizado para equipe como um todo. Esse projeto só tem alavancar mesmo e
fazer muito sucesso não só aqui no Rio Grande do Norte, como em outros
estados”, disse ela.
Buggy Power
O Buggy Power, da startup eION, foi idealizado entre
2017 e 2018, através de um grupo de engenheiros, conforme indica um dos
idealizadores, o Francisco Milton. O engenheiro teria lançado a ideia para
amigos após descobrir o diagnóstico de autismo do filho e, em conversas com o
médico, soube de estudos que relacionam a maior incidência de casos a partir do
aumento da poluição nas cidades.
“A partir daí eu fiquei com aquilo na cabeça e
pensando como eu poderia ajudar a solucionar esse problema da poluição e todos
os males que ela causa”, conta. Milton complementa que, até o momento, os
feedbacks de quem testa a tecnologia têm sido positivos.
Com 3,35 metros de comprimento, 2,01 metros de
distância entre eixos e 1,79 metro de largura, o buggy elétrico comporta até
cinco ocupantes e é disponibilizado em três configurações — Básica,
Intermediária e Superior — que se diferenciam pelos conjuntos de bateria. A
opção básica oferece cerca de 150 km de autonomia, a intermediária alcança
aproximadamente 250 km e a versão superior pode atingir até 500 km. O tempo
para uma recarga completa varia entre 2 e 5 horas.
Independente da versão escolhida, o modelo inclui
itens como assentos anatômicos, freios a disco nas quatro rodas, acelerador
eletrônico, sistema de regeneração de energia durante as frenagens e controle
eletrônico de tração.
No Rio Grande do Norte, dois veículos da marca estão
sendo testados em áreas urbanas. Os modelos possuem 18 cavalos de potência e
rodam em até 60 quilômetros por hora. O presidente do Sindicato dos Bugueiros
Profissionais do RN (Sindbuggy), Hertz Medeiros, comenta o que tem sido
avaliado na tecnologia até o momento.
“O que a gente está desenvolvendo aqui é a gestão do
gerenciamento de potência do carro, porque na duna tem momentos que exige
aquela potência repentina. Esse plano de gerenciamento que tem nele, essa
gestão de potência dele, da curva de potência, é um pouco mais suave. Então são
dados que a gente está colhendo, passando para a fábrica para que sejam feitas
essas adaptações”, comenta Hertz.
Benefícios dos buggys elétricos
O presidente do Sindibuggy-RN argumenta que os
buggys elétricos representam um marco no setor automotivo e turístico. “A gente
está tentando dar um salto tecnológico. Isso aí é uma revolução, se realmente
tudo der certo, se esse projeto caminhar e for aprovado, ok?! É um salto
tecnológico e, assim, a gente vai estar na vanguarda dessa parte do turismo
verde e dos veículos elétricos”, comenta.
Para Francisco Milton, os benefícios são a ausência
de emissões de gás carbônico e o silêncio do motor. “Os motores elétricos são
muito mais eficientes do que os motores de combustão, o custo do quilômetro
rodado é muito baixo, além disso, a ausência de barulho em atividades ligadas
ao meio ambiente é muito positiva (…) você não tem aquele cheiro de fumaça”,
aponta.
Além da questão ambiental, a gestora da Selvagem
aponta outros benefícios ligados à parte econômica. “Os maiores benefícios são
a questão ambiental, inovação tecnológica, geração de empregos, treinamentos no
segmento de mobilidade elétrica, bem como atender a demanda [de mercado]”,
avalia.
“A manutenção é muito mais fácil e muito mais
rápida. Além da economia em si, em relação ao motor à combustão, porque o custo
é menor”, complementa o professor aposentado do Senai-RN e colaborador da
Selvagem, José Fernandes.
Desafios
Os principais desafios de implementação da tecnologia
atualmente são a autonomia em dunas e o reabastecimento em áreas naturais. “O
veículo a combustão tem um rendimento muito melhor superior, principalmente nas
dunas. Então o veículo elétrico vai fazer um percurso mais leve, beira de
praia, ele sobe sim em algumas dunas mais baixas”, comenta Michele.
“O buggy é uma atividade bem peculiar, porque nós
saímos aqui em torno das nove da manhã. Então, o passeio vai ser, por exemplo,
no Litoral Norte, que tem uma média de 200 carros por dia. Esses 200 carros que
vão chegar em vários pontos vão precisar ser reabastecidos. A bateria dele é de
100 quilômetros, o nosso passeio dá 110, mais ou menos, ele vai precisar de uma
recarga”, conta Hertz. O presidente do Sindibuggy-RN comenta que uma solução
para isso seria a criação de postos de abastecimento por meio de energia eólica
ou solar.
Produção e popularização
Em relação aos principais gargalos que dificultam a
implementação da tecnologia com mais efetividade no mercado brasileiro, estão a
falta de regulamentação, incentivos fiscais e alto custo.
Milton aponta que diversos protótipos já foram
feitos, bem como ensaios em laboratórios. Porém, “falta ainda uma etapa de
homologação junto ao Senatran. A gente já tem toda a documentação elaborada
para isso. Já produzimos cerca de 20 buggys elétricos e, para que ele alcance
preços mais acessíveis, é preciso fabricar em uma maior escala”, comenta.
Michele acredita que a produção e popularização do
produto esteja próxima de acontecer. “À priori nós vamos implementar as
modificações necessárias no projeto e, paralelo à isso, estamos buscando os
incentivos que precisamos para poder alavancar a produção”, comenta. Ela alega
que está em busca de investimentos por meio de programas do governo estadual.
Caso tudo isso se cumpra, a expectativa é ampliar a produção em meados do
segundo semestre de 2026.
A equipe da TV Ponta Negra fez um
teste drive comparando buggys movidos a combustão e comparando com os modelos
elétricos. Confira na matéria abaixo:


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