Embora Comando Vermelho
(CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC) tenham em sua certidão
de nascimento a mesma origem – o sistema prisional brasileiro –, são facções
com modus operandi muito distintos. Nas últimas semanas, ambas foram
alvo de operações policiais. Na última semana de outubro, 2.500 agentes de
segurança entraram nos complexos do Alemão e da Penha para prender líderes do
CV. Ao todo, 121 pessoas morreram. Em agosto, a operação Carbono mirou
postos de gasolina e refinarias que lavavam dinheiro para o PCC.
O PCC hoje já é classificado como máfia – sua
estrutura é verticalizada, imita o funcionamento de uma empresa e restringe o
uso da violência a momentos específicos, autorizados pelas chefias, de modo a
evitar a atenção de policiais e da imprensa. O que não significa, por óbvio,
que a facção não seja sangrenta. O PCC tem seu próprio tribunal e monopoliza o
tráfico de cocaína em São Paulo e em boa parte do Brasil, controlando as rotas
que levam o entorpecente da América Latina até a Europa.
A facção tem avançado nos últimos anos rumo ao
domínio de estruturas que viabilizam o funcionamento da cadeia produtiva da
droga. Uma dessas pontas, por exemplo, é a lavagem de dinheiro, por meio de
postos de gasolina, refinarias de combustíveis, garimpo de ouro e até comércios
de bens de consumo.
Se o PCC opera no atacado, o Comando Vermelho
funciona mais próximo de uma lógica de varejo. A facção, que ambiciona se
nacionalizar, cresce país afora por um sistema de adesão de facções menores,
como se fossem “franquias” do crime organizado. Não é mera coincidência que
vários presos e mortos na operação que aconteceu no Rio semana passada eram de
outros estados. Líderes de grupos menores podem se associar ao CV e aderirem à
sua cartilha, passando por uma espécie de “formação” nas sedes da facção, no
Rio de Janeiro.
Depois, cada chefe tem autonomia para gerir o seu
território da forma como achar melhor – por isso, a matança e a violência do CV
são mais evidentes. Controlar a venda de gás, o transporte ilegal de pessoas,
cobrar “pedágio” de padarias, mercados e farmácias, decidir quem entra e quem
das comunidades fazem parte das estratégias que o CV usa para manter bairros e
cidades inteiras sob o seu controle.
A ideia imita o modus operandi das milícias
cariocas, que monopolizam o comércio legal e ilegal dos bairros sob seu
domínios. “No PCC, não se mata sem autorização, há um monopólio da violência.
No CV, mata-se a torto e a direito, quem decide é o chefe local”,
afirma Roberto Uchôa, ex-policial federal e doutorando pela Universidade
de Coimbra.
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