Abu Mohammad al-Julani é
uma das figuras mais controversas do Oriente Médio contemporâneo. Ex-comandante
da Frente al-Nusra, braço sírio da Al-Qaeda, ele se tornou um dos principais
líderes do novo arranjo político na Síria após a derrocada do regime de Bashar
al-Assad.
Em 2016, al-Julani
anunciou o rompimento com a Al-Qaeda e rebatizou seu grupo como Hay’at Tahrir
al-Sham (HTS), numa tentativa de se apresentar como força nacionalista e não
mais jihadista. Analistas, contudo, veem o movimento como uma estratégia de
rebranding, sem mudança ideológica profunda.
Mesmo com essa tentativa
de se distanciar do extremismo global, os Estados Unidos mantêm al-Julani na
lista de terroristas internacionais, com sanções e recompensa de até US$ 10
milhões por informações que levem à sua captura.
Hoje, o HTS controla
vastas áreas da província de Idlib, no norte da Síria, exercendo poder
político, militar e administrativo. No entanto, o governo liderado por
al-Julani é acusado por organizações de direitos humanos de uma série de
abusos: prisões arbitrárias de opositores e jornalistas, tortura em centros de
detenção, execuções extrajudiciais, repressão violenta a protestos e
perseguição a minorias religiosas.
As denúncias também
apontam para restrições severas à imprensa e à atuação de organizações
humanitárias na região, consolidando o controle autoritário do HTS sob um
discurso de estabilidade e ordem.
Assim, mesmo após o fim do
regime de Assad, a ascensão de al-Julani levanta questionamentos sobre o futuro
da Síria — entre o desejo de soberania nacional e a continuação de práticas
repressivas que lembram os piores capítulos da guerra civil.

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