O mau hálito, ou halitose, é um problema que afeta
as pessoas de várias formas. Mexe com a autoestima e também pode provocar uma
série de fobias sociais, como o receio de conversar, beijar e interagir com
outras pessoas em geral. Segundo a Associação Brasileira de Halitose, o mau
hálito afeta cerca de 30% da população no país. Embora muitas vezes o problema
esteja associado apenas à má higiene bucal, o mau cheiro persistente também
pode ser um indicativo de doenças sistêmicas mais sérias. Alguns sinais de
alerta exigem mais investigação por parte de especialistas.
A halitose pode ter múltiplas origens — bucais,
nasais, gástricas e comportamentais. A abordagem clínica deve considerar o
histórico familiar, mas também avaliar fatores ambientais e de estilo de vida.
Segundo Gabriela Karla, da equipe de odontologia do Hospital Universitário
Onofre Lopes (HUOL), a maioria dos casos de halitose é de origem bucal e está
mais comumente relacionada à falta de higiene.
A cirurgiã-dentista explica que, quando não há uma
rotina de higiene bucal frequente, a placa bacteriana se acumula nos dentes e
mucosas, promovendo inflamação e produção de compostos voláteis sulfurados. “Em
geral, é muito comum a placa acumular-se nos dentes, levando a lesões de cárie,
formando a saburra lingual, bem como desenvolvendo inflamações crônicas nos
tecidos que sustentam os dentes, como na gengivite e doença periodontal”,
explica.
O dentista deve encaminhar o paciente para outros
especialistas quando o mau hálito persistir, mesmo após tratamento odontológico
adequado e melhora na higiene bucal. É nesse caso que as outras causas
possíveis devem ser investigadas. Uma delas, segundo Gabriela, pode ser a
xerostomia, a sensação de boca seca, frequentemente induzida por medicamentos
com propriedades anticolinérgicas, antidepressivos ou anti-histamínicos, pois
causam redução do fluxo salivar e favorecem o crescimento bacteriano.
Ainda existem outras causas, segundo Gabriela Karla,
como o gotejamento pós-nasal secundário, a rinite, sinusite crônica e tonsilólitos
(cálculos amigdalianos), que podem reter detritos e bactérias. Podem ser
incluídos ainda hábitos alimentares, como consumo constante de alho e cebola,
além do consumo de álcool e tabaco.
As características da saliva também são um fator a
ser observado: a quantidade e a composição enzimática da saliva variam entre as
pessoas, e essas diferenças podem até ter base genética. Uma saliva mais
viscosa ou em menor volume dificulta a autolimpeza da boca e favorece a
proliferação de bactérias.
Problemas sistêmicos
“Algumas vezes a halitose está relacionada também a
causas sistêmicas”, afirma a cirurgiã-dentista. Ela cita a cetoacidose
diabética, que pode gerar hálito cetônico (odor adocicado ou semelhante a
frutas fermentadas), insuficiência hepática ou renal avançada, e a doença do
refluxo gastroesofágico.
Gabriela explica que a diabetes mellitus também pode
levar à redução do fluxo salivar, aumento da concentração de ureia e alterações
no pH salivar, o que está fortemente associado com a doença periodontal, favorecendo
o desenvolvimento de halitose.
É preciso ressaltar que infecções pulmonares ou
sinusais crônicas, como secreções acumuladas nos seios da face ou nos pulmões,
podem alterar o cheiro do ar expirado.
Além das doenças gastrointestinais, como o refluxo
ácido, gastrite ou disfunções hepáticas, que podem provocar odores
característicos na respiração. Se o quadro vem acompanhado de perda de peso,
fadiga, febre ou alterações digestivas, é fundamental investigar.
Devido à variedade de possíveis causas, o
diagnóstico da halitose persistente muitas vezes exige uma abordagem integrada.
Segundo Gabriela Karla, pode ser feito inicialmente um exame clínico detalhado,
incluindo a conversa com o paciente e o exame físico intraoral e extraoral.
“Aproximadamente de 80 a 90% dos casos têm origem intraoral, sendo a saburra
lingual, doenças periodontais e práticas inadequadas de higiene bucal os
principais fatores”, enfatiza.
Ela explica que o método mais utilizado é a avaliação
organoléptica, onde um profissional treinado avalia o odor exalado pela boca do
paciente. “Para maior precisão, pode-se utilizar a cromatografia gasosa, que
quantifica compostos sulfurados voláteis (VSCs), principais responsáveis pelo
mau hálito”, ensina.
Mitos
Um dos mitos mais comuns sobre mau hálito, afirma a
cirurgiã-dentista, é acreditar que o problema é causado principalmente por
problemas gástricos, sendo que até 90% dos casos de halitose têm origem
intraoral. “Assim como pensar que enxaguantes bucais eliminam o mau hálito de
forma definitiva, mas, para isso, deve ser tratada a causa da halitose”,
completa.
Aliás, os enxaguantes bucais, para serem realmente
eficazes, devem possuir determinados componentes e agentes antimicrobianos,
como clorexidina, cetilpiridínio, dióxido de cloro e zinco, que podem resolver
o mau hálito de origem intraoral. “E claro, tudo isso associado a métodos
mecânicos de controle da placa, como escovação, uso de dentifrícios com flúor,
fio dental ou escovas interdentais”, ressalta.
O tratamento da halitose depende da causa. Pode
envolver dentista, otorrino, gastroenterologista e, em alguns casos, até
acompanhamento psicológico. Falar sobre mau hálito ainda é difícil para muita
gente, mas a solução só começa entendendo a causa.
O mau hálito não deve ser ignorado ou tratado apenas
com enxaguantes bucais e balas refrescantes. São estratégias que apenas
mascaram o problema, mas não resolvem a origem. O ideal é identificar a causa e
tratar o que está por trás do sintoma.
Para prevenir a halitose, enfatiza a
cirurgiã-dentista, é preciso manter uma rotina de higiene bucal adequada,
utilizando fio e escova dental de cerdas macias, escovando dentes e língua após
as refeições ou pelo menos três vezes ao dia. É preciso manter a higiene das
próteses dentárias, além da visita regular ao profissional dental. “É
importante também manter a hidratação, evitar alimentos de cheiro forte, álcool
e fumo”, completa.

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