domingo, 9 de novembro de 2025

Os sinais que vêm da boca: Mau hálito pode estar atrelado a uma série de problemas de saúde

 


O mau hálito, ou halitose, é um problema que afeta as pessoas de várias formas. Mexe com a autoestima e também pode provocar uma série de fobias sociais, como o receio de conversar, beijar e interagir com outras pessoas em geral. Segundo a Associação Brasileira de Halitose, o mau hálito afeta cerca de 30% da população no país. Embora muitas vezes o problema esteja associado apenas à má higiene bucal, o mau cheiro persistente também pode ser um indicativo de doenças sistêmicas mais sérias. Alguns sinais de alerta exigem mais investigação por parte de especialistas.

A halitose pode ter múltiplas origens — bucais, nasais, gástricas e comportamentais. A abordagem clínica deve considerar o histórico familiar, mas também avaliar fatores ambientais e de estilo de vida. Segundo Gabriela Karla, da equipe de odontologia do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL), a maioria dos casos de halitose é de origem bucal e está mais comumente relacionada à falta de higiene.

A cirurgiã-dentista explica que, quando não há uma rotina de higiene bucal frequente, a placa bacteriana se acumula nos dentes e mucosas, promovendo inflamação e produção de compostos voláteis sulfurados. “Em geral, é muito comum a placa acumular-se nos dentes, levando a lesões de cárie, formando a saburra lingual, bem como desenvolvendo inflamações crônicas nos tecidos que sustentam os dentes, como na gengivite e doença periodontal”, explica.

O dentista deve encaminhar o paciente para outros especialistas quando o mau hálito persistir, mesmo após tratamento odontológico adequado e melhora na higiene bucal. É nesse caso que as outras causas possíveis devem ser investigadas. Uma delas, segundo Gabriela, pode ser a xerostomia, a sensação de boca seca, frequentemente induzida por medicamentos com propriedades anticolinérgicas, antidepressivos ou anti-histamínicos, pois causam redução do fluxo salivar e favorecem o crescimento bacteriano.

Ainda existem outras causas, segundo Gabriela Karla, como o gotejamento pós-nasal secundário, a rinite, sinusite crônica e tonsilólitos (cálculos amigdalianos), que podem reter detritos e bactérias. Podem ser incluídos ainda hábitos alimentares, como consumo constante de alho e cebola, além do consumo de álcool e tabaco.

As características da saliva também são um fator a ser observado: a quantidade e a composição enzimática da saliva variam entre as pessoas, e essas diferenças podem até ter base genética. Uma saliva mais viscosa ou em menor volume dificulta a autolimpeza da boca e favorece a proliferação de bactérias.

Problemas sistêmicos

“Algumas vezes a halitose está relacionada também a causas sistêmicas”, afirma a cirurgiã-dentista. Ela cita a cetoacidose diabética, que pode gerar hálito cetônico (odor adocicado ou semelhante a frutas fermentadas), insuficiência hepática ou renal avançada, e a doença do refluxo gastroesofágico.

Gabriela explica que a diabetes mellitus também pode levar à redução do fluxo salivar, aumento da concentração de ureia e alterações no pH salivar, o que está fortemente associado com a doença periodontal, favorecendo o desenvolvimento de halitose.

É preciso ressaltar que infecções pulmonares ou sinusais crônicas, como secreções acumuladas nos seios da face ou nos pulmões, podem alterar o cheiro do ar expirado.

Além das doenças gastrointestinais, como o refluxo ácido, gastrite ou disfunções hepáticas, que podem provocar odores característicos na respiração. Se o quadro vem acompanhado de perda de peso, fadiga, febre ou alterações digestivas, é fundamental investigar.

Devido à variedade de possíveis causas, o diagnóstico da halitose persistente muitas vezes exige uma abordagem integrada. Segundo Gabriela Karla, pode ser feito inicialmente um exame clínico detalhado, incluindo a conversa com o paciente e o exame físico intraoral e extraoral. “Aproximadamente de 80 a 90% dos casos têm origem intraoral, sendo a saburra lingual, doenças periodontais e práticas inadequadas de higiene bucal os principais fatores”, enfatiza.

Ela explica que o método mais utilizado é a avaliação organoléptica, onde um profissional treinado avalia o odor exalado pela boca do paciente. “Para maior precisão, pode-se utilizar a cromatografia gasosa, que quantifica compostos sulfurados voláteis (VSCs), principais responsáveis pelo mau hálito”, ensina.

Mitos

Um dos mitos mais comuns sobre mau hálito, afirma a cirurgiã-dentista, é acreditar que o problema é causado principalmente por problemas gástricos, sendo que até 90% dos casos de halitose têm origem intraoral. “Assim como pensar que enxaguantes bucais eliminam o mau hálito de forma definitiva, mas, para isso, deve ser tratada a causa da halitose”, completa.

Aliás, os enxaguantes bucais, para serem realmente eficazes, devem possuir determinados componentes e agentes antimicrobianos, como clorexidina, cetilpiridínio, dióxido de cloro e zinco, que podem resolver o mau hálito de origem intraoral. “E claro, tudo isso associado a métodos mecânicos de controle da placa, como escovação, uso de dentifrícios com flúor, fio dental ou escovas interdentais”, ressalta.

O tratamento da halitose depende da causa. Pode envolver dentista, otorrino, gastroenterologista e, em alguns casos, até acompanhamento psicológico. Falar sobre mau hálito ainda é difícil para muita gente, mas a solução só começa entendendo a causa.

O mau hálito não deve ser ignorado ou tratado apenas com enxaguantes bucais e balas refrescantes. São estratégias que apenas mascaram o problema, mas não resolvem a origem. O ideal é identificar a causa e tratar o que está por trás do sintoma.

Para prevenir a halitose, enfatiza a cirurgiã-dentista, é preciso manter uma rotina de higiene bucal adequada, utilizando fio e escova dental de cerdas macias, escovando dentes e língua após as refeições ou pelo menos três vezes ao dia. É preciso manter a higiene das próteses dentárias, além da visita regular ao profissional dental. “É importante também manter a hidratação, evitar alimentos de cheiro forte, álcool e fumo”, completa.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Exportações do Brasil para os EUA caem 25% nos três primeiros meses após tarifaço

  As exportações do Brasil para os Estados Unidos caíram 25% nos três primeiros meses após Donald Trump aplicar tarifas de 50% sobre a impor...