segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Com críticas e disputas internas, superfederação entre PP e União Brasil sofre debandada antes mesmo de oficialização

 


Ainda em processo de consolidação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a federação entre União Brasil e PP, batizada de União Progressista, acumula baixas e conflitos locais que ameaçam sua viabilidade antes mesmo da formalização. A promessa de unir duas legendas de perfil liberal-conservador para ampliar o espaço da direita no Congresso e construir um palanque robusto para 2026 transformou-se em um mosaico de disputas regionais, desfiliações e desconfiança entre dirigentes.

A federação, articulada pelos presidentes partidários Ciro Nogueira (PP) e Antonio Rueda (União), enfrenta resistência interna e críticas públicas de líderes, como o governador Ronaldo Caiado (União-GO). Para esse grupo, a avaliação é que o projeto acabou amplificando rivalidades locais e acelerando saídas.

Dirigentes dos dois partidos reconhecem as dificuldades, mas avaliam que desfiliações e debandadas são naturais quando duas legendas grandes se unem e que, ao mesmo tempo que há saídas, novos quadros serão atraídos para os dois partidos.

Em uma federação, os partidos precisam ter a mesma posição nas eleições municipais, estaduais e para Presidência por no mínimo quatro anos. Em troca, somam forças com o fundo partidário, eleitoral, tempo de propaganda e bancadas no Congresso, tornando-se um grupo influente e decisivo nas principais disputas eleitorais do país.

O pedido para que a aliança seja formalizada está em estágio inicial e ainda não há um relator definido no TSE. Para valer em 2026, a federação precisa ter o aval da Corte a pelo menos seis meses da eleição, ou seja, em 4 de abril do ano que vem. A perspectiva dos dirigentes dos partidos é que a autorização saia até lá.

Mesmo com as disputas regionais, as cúpulas nacionais das duas legendas dizem que a federação irá se concretizar e que a aliança entre União e PP será benéfica para as duas legendas. Mas há contestação.

— Essa tentativa de federação está levando à perda de deputados e a conflitos internos na maioria dos estados. Deveria se refluir, já que ainda está em fase de noivado, sem homologação. O mais prudente seria rever o processo e continuar aliados, respeitando as características de cada estado — diz Caiado.

Um dos casos de divergência mais emblemáticos ocorreu no Paraná, onde dois dos principais nomes da bancada ruralista romperam com o bloco. O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado Pedro Lupion, deixou o PP e se filiou ao Republicanos, em movimento avalizado pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP). Já o deputado Felipe Francischini também deve deixar o União e migrar para o Podemos, partido que passa por uma reestruturação sob seu comando e deve integrar o grupo do governador Ratinho Júnior (PSD) na disputa estadual de 2026.

As desfiliações acontecem em meio ao fortalecimento do senador Sergio Moro (União-PR) no partido. Ele conseguiu o aval da cúpula nacional da sigla para uma intervenção no diretório estadual do Paraná, que deixou de ser de Francischini, e está sob seu comando.

Moro é pré-candidato a governador e tem liderado as pesquisas. Por outro lado, Francischini e Lupion são aliados de Ratinho, que ainda vai decidir quem irá apoiar como sucessor. A tendência é que seja um nome do PSD e rivalize com Moro. O PP é da base de Ratinho e tem demonstrado contrariedade com a pré-candidatura do ex-juiz.

Além das disputas internas de poder, há também divergências pelo comando da federação nos maiores colégios eleitorais, ainda que não haja necessariamente atritos entre os dois partidos. Um exemplo é o Rio, onde o cenário estadual das legendas está indefinido após o presidente da Assembleia, Rodrigo Bacellar (União Brasil), não conseguir ter o apoio da oposição para ser candidato contra a provável tentativa do prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD), de ser governador.

O diretório do União no Rio é presidido pelo próprio Bacellar, mas concentra várias alas internas e abriga tanto aqueles que querem uma candidatura contra Paes, quanto quem negocia apoio ao prefeito. A sigla no estado também está sob forte influência da cúpula nacional da legenda. O presidente do União, Antonio Rueda, é também vice-presidente do partido no Rio e tenta ser candidato a deputado federal pelo estado.

Por sua vez, o PP do Rio tem uma maior coesão interna, mas também não decidiu o rumo que irá tomar na eleição estadual. O presidente do diretório é o deputado Doutor Luizinho, líder do partido na Câmara, que tem diálogo aberto com Paes, mas também com o bolsonarismo, que deseja lançar candidatura contra o prefeito.

Já em São Paulo, o impasse envolve grupos mais antagônicos. Ex-presidente da Câmara Municipal da capital, Milton Leite (União), atual vice-presidente nacional da legenda, reivindica a presidência estadual do bloco. Já o deputado Maurício Neves (PP-SP), presidente da executiva paulista do PP, também afirma contar com apoio para chefiar a estrutura.

Ex-prefeito de Salvador e vice-presidente do União, ACM Neto rechaça a hipótese de a federação não se concretizar:

— A discussão em relação à federação é fato superado. Agora é a gente avaliar como fortalecer os projetos para 2026 em todo o Brasil. Não há nenhuma hipótese de reversão dessa decisão.

Apesar do racha, avaliação semelhante é compartilhada pela líder do PP no Senado, Tereza Cristina (MS).

— A federação levou muito tempo para ser gestada e poder chegar ao ponto de ser anunciada. Ela ainda não foi homologada pelo TSE, mas está em vias de ser. A federação veio para ficar. Enquanto ela não estiver homologada, pode acontecer (de não ser formalizada), mas eu acho difícil. Isso são acomodações que vão sendo feitas ao longo desse período até a definição.

Integrantes envolvidos nas negociações para a federação admitem que houve um atraso para que a documentação fosse enviada ao TSE, mas dizem que isso aconteceu por problemas burocráticos de validação de assinaturas e que agora a única etapa restante é o aval da Justiça Eleitoral para que a aliança saia do papel. Além do aval da Corte, a federação ainda precisa cumprir uma série de exigências formais — entre elas, unificação de estatutos, distribuição de recursos do fundo partidário e definição de comando nos 27 estados.

Na cúpula na sigla, o desarranjo é visto pela ótica da disputa eleitoral. A insatisfação de Caiado, por exemplo, poderia ser explicada pela intenção do governador em ser candidato à Presidência a qualquer custo. Isso será mais difícil com a federação das siglas. Há uma expectativa de que o governador, que tem relação antiga de proximidade com a cúpula do União, entre em acordo com os colegas de partido, não peça desfiliação e seja convencido a aceitar a federação com o PP.

Outro que discorda da federação é o deputado Kim Kataguiri (União-SP), que deverá sair da legenda para se filiar ao Missão, partido cuja criação ele foi um dos articuladores:

— Eu já achei a fusão com o PSL um erro pela mesma razão. Deixa-se de ser um partido ideológico, com identidade e quadros históricos, para ser um partido genérico e com liderança caótica.

Veja alguns estados nos quais há disputas:

Paraná: Dois dos principais nomes da bancada ruralista romperam com o bloco. Pedro Lupion deixou o PP e se filiou ao Republicanos, com aval de Tarcísio de Freitas. Já o deputado Felipe Francischini também deve deixar o União e migrar para o Podemos. Pano de fundo é a pré-candidatura de Sergio Moro ao governo estadual.

Rio de Janeiro: O diretório do União no estado concentra várias alas internas e abriga tanto aqueles que querem uma candidatura contra Eduardo Paes, quanto quem negocia apoio ao prefeito. O PP do Rio tem uma maior coesão interna, mas também não decidiu o rumo que irá tomar na eleição estadual.

São Paulo: Ex-presidente da Câmara Municipal da capital, Milton Leite (União), atual vice-presidente nacional da legenda, reivindica o comando estadual do bloco. Já o deputado Maurício Neves , presidente da executiva paulista do PP, também afirma contar com apoio para chefiar a estrutura.

Paraíba: O deputado Mersinho Lucena (PP) cogita deixar o partido. Seu pai, o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, já se filiou ao MDB, ampliando o racha interno. Em outro sinal de rusga, o senador Efraim Filho (União) quer ser candidato a governador, enquanto o PP pretende lançar o vice-governador Lucas Ribeiro.

Acre: A convivência entre o senador Alan Rick (União) e o grupo do governador Gladson Camelli (PP) é considerada “insustentável”. Em meio à crise, lideranças estaduais do bloco deixaram de participar de reuniões conjuntas, e aliados próximos dizem que Rick cogita se filiar ao Republicanos caso o impasse persista.

O Globo

 

 

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