Ainda em processo de consolidação no Tribunal
Superior Eleitoral (TSE), a federação entre União Brasil e PP, batizada de
União Progressista, acumula baixas e conflitos locais que ameaçam sua
viabilidade antes mesmo da formalização. A promessa de unir duas legendas de
perfil liberal-conservador para ampliar o espaço da direita no Congresso e
construir um palanque robusto para 2026 transformou-se em um mosaico de
disputas regionais, desfiliações e desconfiança entre dirigentes.
A federação, articulada pelos presidentes
partidários Ciro Nogueira (PP) e Antonio Rueda (União), enfrenta resistência
interna e críticas públicas de líderes, como o governador Ronaldo Caiado
(União-GO). Para esse grupo, a avaliação é que o projeto acabou amplificando
rivalidades locais e acelerando saídas.
Dirigentes dos dois partidos reconhecem as
dificuldades, mas avaliam que desfiliações e debandadas são naturais quando duas
legendas grandes se unem e que, ao mesmo tempo que há saídas, novos quadros
serão atraídos para os dois partidos.
Em uma federação, os partidos precisam ter a mesma
posição nas eleições municipais, estaduais e para Presidência por no mínimo
quatro anos. Em troca, somam forças com o fundo partidário, eleitoral, tempo de
propaganda e bancadas no Congresso, tornando-se um grupo influente e decisivo
nas principais disputas eleitorais do país.
O pedido para que a aliança seja formalizada está em
estágio inicial e ainda não há um relator definido no TSE. Para valer em 2026,
a federação precisa ter o aval da Corte a pelo menos seis meses da eleição, ou
seja, em 4 de abril do ano que vem. A perspectiva dos dirigentes dos partidos é
que a autorização saia até lá.
Mesmo com as disputas regionais, as cúpulas
nacionais das duas legendas dizem que a federação irá se concretizar e que a
aliança entre União e PP será benéfica para as duas legendas. Mas há
contestação.
— Essa tentativa de federação está levando à perda
de deputados e a conflitos internos na maioria dos estados. Deveria se refluir,
já que ainda está em fase de noivado, sem homologação. O mais prudente seria
rever o processo e continuar aliados, respeitando as características de cada
estado — diz Caiado.
Um dos casos de divergência mais emblemáticos
ocorreu no Paraná, onde dois dos principais nomes da bancada ruralista romperam
com o bloco. O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado Pedro
Lupion, deixou o PP e se filiou ao Republicanos, em movimento avalizado pelo
governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP). Já o deputado Felipe
Francischini também deve deixar o União e migrar para o Podemos, partido que
passa por uma reestruturação sob seu comando e deve integrar o grupo do
governador Ratinho Júnior (PSD) na disputa estadual de 2026.
As desfiliações acontecem em meio ao fortalecimento
do senador Sergio Moro (União-PR) no partido. Ele conseguiu o aval da cúpula
nacional da sigla para uma intervenção no diretório estadual do Paraná, que
deixou de ser de Francischini, e está sob seu comando.
Moro é pré-candidato a governador e tem liderado as
pesquisas. Por outro lado, Francischini e Lupion são aliados de Ratinho, que
ainda vai decidir quem irá apoiar como sucessor. A tendência é que seja um nome
do PSD e rivalize com Moro. O PP é da base de Ratinho e tem demonstrado
contrariedade com a pré-candidatura do ex-juiz.
Além das disputas internas de poder, há também
divergências pelo comando da federação nos maiores colégios eleitorais, ainda
que não haja necessariamente atritos entre os dois partidos. Um exemplo é o
Rio, onde o cenário estadual das legendas está indefinido após o presidente da
Assembleia, Rodrigo Bacellar (União Brasil), não conseguir ter o apoio da
oposição para ser candidato contra a provável tentativa do prefeito da capital,
Eduardo Paes (PSD), de ser governador.
O diretório do União no Rio é presidido pelo próprio
Bacellar, mas concentra várias alas internas e abriga tanto aqueles que querem
uma candidatura contra Paes, quanto quem negocia apoio ao prefeito. A sigla no
estado também está sob forte influência da cúpula nacional da legenda. O
presidente do União, Antonio Rueda, é também vice-presidente do partido no Rio
e tenta ser candidato a deputado federal pelo estado.
Por sua vez, o PP do Rio tem uma maior coesão
interna, mas também não decidiu o rumo que irá tomar na eleição estadual. O
presidente do diretório é o deputado Doutor Luizinho, líder do partido na
Câmara, que tem diálogo aberto com Paes, mas também com o bolsonarismo, que
deseja lançar candidatura contra o prefeito.
Já em São Paulo, o impasse envolve grupos mais
antagônicos. Ex-presidente da Câmara Municipal da capital, Milton Leite
(União), atual vice-presidente nacional da legenda, reivindica a presidência
estadual do bloco. Já o deputado Maurício Neves (PP-SP), presidente da
executiva paulista do PP, também afirma contar com apoio para chefiar a
estrutura.
Ex-prefeito de Salvador e vice-presidente do União,
ACM Neto rechaça a hipótese de a federação não se concretizar:
— A discussão em relação à federação é fato
superado. Agora é a gente avaliar como fortalecer os projetos para 2026 em todo
o Brasil. Não há nenhuma hipótese de reversão dessa decisão.
Apesar do racha, avaliação semelhante é
compartilhada pela líder do PP no Senado, Tereza Cristina (MS).
— A federação levou muito tempo para ser gestada e
poder chegar ao ponto de ser anunciada. Ela ainda não foi homologada pelo TSE,
mas está em vias de ser. A federação veio para ficar. Enquanto ela não estiver
homologada, pode acontecer (de não ser formalizada), mas eu acho difícil. Isso
são acomodações que vão sendo feitas ao longo desse período até a definição.
Integrantes envolvidos nas negociações para a
federação admitem que houve um atraso para que a documentação fosse enviada ao
TSE, mas dizem que isso aconteceu por problemas burocráticos de validação de
assinaturas e que agora a única etapa restante é o aval da Justiça Eleitoral
para que a aliança saia do papel. Além do aval da Corte, a federação ainda
precisa cumprir uma série de exigências formais — entre elas, unificação de
estatutos, distribuição de recursos do fundo partidário e definição de comando
nos 27 estados.
Na cúpula na sigla, o desarranjo é visto pela ótica
da disputa eleitoral. A insatisfação de Caiado, por exemplo, poderia ser
explicada pela intenção do governador em ser candidato à Presidência a qualquer
custo. Isso será mais difícil com a federação das siglas. Há uma expectativa de
que o governador, que tem relação antiga de proximidade com a cúpula do União,
entre em acordo com os colegas de partido, não peça desfiliação e seja
convencido a aceitar a federação com o PP.
Outro que discorda da federação é o deputado Kim
Kataguiri (União-SP), que deverá sair da legenda para se filiar ao Missão,
partido cuja criação ele foi um dos articuladores:
— Eu já achei a fusão com o PSL um erro pela mesma
razão. Deixa-se de ser um partido ideológico, com identidade e quadros
históricos, para ser um partido genérico e com liderança caótica.
Veja alguns estados nos quais há disputas:
Paraná: Dois
dos principais nomes da bancada ruralista romperam com o bloco. Pedro Lupion
deixou o PP e se filiou ao Republicanos, com aval de Tarcísio de Freitas. Já o
deputado Felipe Francischini também deve deixar o União e migrar para o
Podemos. Pano de fundo é a pré-candidatura de Sergio Moro ao governo estadual.
Rio
de Janeiro: O diretório do União no estado concentra várias
alas internas e abriga tanto aqueles que querem uma candidatura contra Eduardo
Paes, quanto quem negocia apoio ao prefeito. O PP do Rio tem uma maior coesão
interna, mas também não decidiu o rumo que irá tomar na eleição estadual.
São
Paulo: Ex-presidente da Câmara Municipal da capital,
Milton Leite (União), atual vice-presidente nacional da legenda, reivindica o
comando estadual do bloco. Já o deputado Maurício Neves , presidente da
executiva paulista do PP, também afirma contar com apoio para chefiar a
estrutura.
Paraíba: O
deputado Mersinho Lucena (PP) cogita deixar o partido. Seu pai, o prefeito de
João Pessoa, Cícero Lucena, já se filiou ao MDB, ampliando o racha interno. Em
outro sinal de rusga, o senador Efraim Filho (União) quer ser candidato a
governador, enquanto o PP pretende lançar o vice-governador Lucas Ribeiro.
Acre: A
convivência entre o senador Alan Rick (União) e o grupo do governador Gladson
Camelli (PP) é considerada “insustentável”. Em meio à crise, lideranças
estaduais do bloco deixaram de participar de reuniões conjuntas, e aliados
próximos dizem que Rick cogita se filiar ao Republicanos caso o impasse
persista.
O Globo

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