domingo, 9 de novembro de 2025

CAMPESTRENSE - Programa vai investir no crescimento do turismo nas serras do Agreste do RN

 



Larissa Duarte
Repórter

Nas curvas frias da Serra do Agreste Potiguar, onde o vento sopra histórias antigas, as cidades aguardam a reinvenção dos seus destinos. Entre pousadas e o aroma de uma culinária típica, surge um projeto que pretende mudar o rumo da economia local: o Plano de Ação Territorial (PAT) do Turismo, lançado pelo Banco do Nordeste. O programa promete transformar as vocações dos municípios de Serra de São Bento, Passa e Fica, Monte das Gameleiras e São José do Campestre para transformar a beleza natural em desenvolvimento através do fortalecimento do turismo. Com a duração de dois anos, a expectativa é que o programa libere, no mínimo, R$ 10 milhões em crédito para as quatro cidades.

O PAT nasce dentro do Programa de Desenvolvimento Territorial (Prodeter) e aposta na união entre poder público, instituições e empreendedores para que o turismo serrano deixe de ser um sonho sazonal e se torne fonte contínua de renda. “As ações terão um horizonte inicial de dois anos, com a meta de atender, no mínimo, 30 empresas. Queremos qualificar esses empreendimentos para o crédito e aprimorar também as iniciativas dos municípios, fortalecendo a governança, a sustentabilidade e a geração de renda”, explica o gerente executivo de Desenvolvimento Territorial do Banco do Nordeste, Agnelo Peixoto.

São estratégias pensadas em conjunto, metas desenhadas a muitas mãos e uma mesma convicção de que o futuro da serra depende do fortalecimento de quem vive nela. Agnelo fala com a convicção de quem já viu o turismo transformar paisagens e destinos. “O Banco do Nordeste tem um olhar diferenciado para o setor e recursos do FNE para estruturar pousadas, restaurantes, chalés e receptivos. A estimativa inicial é que entre R$ 5 milhões e R$ 10 milhões sejam liberados em crédito para essa região”, afirma. Para Agnelo, essa não é uma política que chega e parte, mas uma construção que se mantém acompanhando cada etapa do desenvolvimento.

Em São José do Campestre, a cerca de 111km da capital, o impacto do plano se traduz em expectativas. Aos 67 anos, o pousadeiro Paulo Tarso vê a transformação de perto. Dono de uma hospedagem que há duas décadas acolhe viajantes, ele acredita que o desenvolvimento passa primeiro pela estrada, pela divulgação dos destinos e pela preparação dos empreendimentos.

“O turismo passa e a cidade acolhe essa economia. O que isso traz? Desenvolvimento, emprego e renda. Esse é o caminho do crescimento de São José do Campestre para entrar no turismo. Para que haja um upgrade forte, é preciso pertencimento. O território precisa estar unido, com uma causa só”, detalha. Dentro do PAT do Turismo, Paulo está planejando novos investimentos para aprimorar a estrutura do espaço que hoje conta com uma ocupação média de 60% a 70% no ano.

São vozes como a dele que explicam a relevância de políticas voltadas ao interior. Campestre tem uma economia modesta, com Produto Interno Bruto (PIB) per capita de R$ 9,6 mil, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas carrega um patrimônio que não cabe em números: sua paisagem, sua gente e sua cultura. É nas ruas tranquilas, entre a Casa de Cultura Popular Palácio Borborema Potiguar e o Monte Cruzeiro Frei Damião, que o turismo começa a ganhar forma.

As quatro cidades que formam o território da Serra do Agreste Potiguar reúnem alguns dos cenários mais encantadores do interior do Rio Grande do Norte. Em Serra de São Bento, o turismo já é consolidado, com pousadas, trilhas e mirantes que se tornaram referência. Monte das Gameleiras desponta como destino de natureza, com cachoeiras e festivais. Passa e Fica, por sua vez, se fortalece na gastronomia e na integração de rotas ecológicas e culturais.

Nesses caminhos íngremes, a Agência de Desenvolvimento das Serras do Agreste Potiguar (Adesap) se tornou a voz integrada das quatro cidades. À frente dela, o presidente Evilásio Belmont coordena o comitê gestor que trabalha os eixos do turismo, empreendedorismo e agricultura familiar. “Nosso principal objetivo é treinar e capacitar a comunidade para que os visitantes sejam bem recebidos e que as pessoas continuem morando no território. É preciso dar oportunidade a quem vive aqui de entrar na linha do empreendedorismo”, conta.

A atuação da agência já rende frutos. Parcerias com o Banco do Nordeste, Sebrae e empresas privadas começaram a tirar ideias do papel. Em Monte das Gameleiras será inaugurado um parque ambiental como um convite à convivência entre natureza e visitante. Outro projeto, o “Florir”, pretende transformar a estrada que liga Serra de São Bento ao centro da cidade vizinha em um corredor de flores e educação ambiental. São gestos que traduzem um conceito de que o turismo sustentável precisa florescer junto com quem mora na serra.

Concessão de crédito envolve capacitação

O Plano de Ação Territorial do Turismo nas Serras do Agreste Potiguar não se limita apenas ao desenvolvimento de grandes empreendedores, mas também impacta o apoio aos pequenos locais, formais ou informais, que são fundamentais para o crescimento do setor de turismo. O CrediAmigo, linha de microcrédito do Banco do Nordeste, surge como um dos pilares desse processo, oferecendo não só financiamento, mas também capacitação e orientação.

De acordo com Carpeggiani Gomes, gerente do CrediAmigo no RN, o impacto vai além da simples concessão de crédito. Ele é um agente transformador, ajudando o empreendedor a estruturar melhor seu negócio, melhorar a gestão e a visão estratégica. “No setor do turismo, especificamente nessa região onde atuamos fortemente, o CrediAmigo está presente junto a esses empreendedores para ajudá-los a desenvolver suas atividades, realizar sonhos, estruturar melhor seus negócios e fortalecer os empreendimentos. Tudo isso favorece diretamente a economia das cidades”, avalia.

A atuação do Banco do Nordeste, por meio do CrediAmigo, já mostrou resultados significativos em outras regiões do estado, e a meta é expandir ainda mais esse impacto no Agreste Potiguar. Ao todo, são 565 clientes em São José do Campestre, 286 em Passa e Fica, 131 em Serra de São Bento, e 54 em Monte das Gameleiras. Apenas em 2025, para as quatro cidades, foram liberados mais de R$ 7 milhões através do CrediAmigo, um incremento de 20% em relação ao ano anterior.

Em São José do Campestre, o anseio pelo Plano é claro na trajetória de Diego Custódio, proprietário de uma hamburgueria na praça da Igreja Matriz. Com cinco anos de experiência no ramo e agora com a abertura de uma nova unidade há 15 dias em Passa e Fica, ele enxerga na chegada do PAT uma oportunidade de crescimento e diversificação. “Espero que tudo isso dê uma movimentação maior para a região. Eu atendo uma média de 100 clientes aqui e 150 em Passa e Fica. Quero crescer mais”, conta. Para Diego, o grande desafio é a capacitação de mão de obra local, algo que o PAT pretende mitigar por meio de cursos e programas de treinamento.

Essa mesma vontade de ver a cidade florescer move o jovem Elvis Kennedy, 21, proprietário da única churrascaria da cidade. “O turismo daqui ainda tem muito a ser explorado. É uma região rica em fauna e flora, mas falta investimento e incentivo”, disse. Enquanto nos dias de semana cerca de 50 pessoas circulam por dia no estabelecimento, aos sábados e domingos ele vê o movimento quase quadruplicar. “Nos finais de semana, chega a 200 pessoas e boa parte de turistas. Espero que o plano aumente o fluxo, traga mais visitantes e gere mais empregos”, afirma.

Por isso, Agnelo Peixoto destaca o papel do Plano de Ação Territorial em criar uma infraestrutura para esses empreendedores. “O crédito, se a pessoa não tiver boa gestão dos recursos, pode virar uma dor de cabeça e não é isso que queremos. Queremos que o crédito seja orientado e integrado, que melhore a vida da pessoa, o bem-estar e a dignidade humana”, explica Agnelo, gerente executivo de Desenvolvimento Territorial do Banco do Nordeste.

A integração entre o CrediAmigo e as outras linhas de financiamento do Banco do Nordeste também é fundamental para consolidar esse processo. “Com a orientação que oferecemos, o crédito se torna muito mais do que um simples financiamento. Ele se torna uma ferramenta estratégica para o crescimento sustentável do setor”, conclui Carpeggiani Gomes.

Para o presidente da Adesap, Evilásio Belmont, o sucesso do PAT depende da união. “A governança integrada é a chave para o desenvolvimento. Por isso, estamos trabalhando para fortalecer a parceria entre todos os envolvidos, garantindo que o potencial do turismo nas serras seja explorado de forma sustentável e que os empreendedores locais tenham as condições necessárias para prosperar”, afirma.

Com o avanço do PAT, as quatro cidades do Agreste Potiguar passam a se posicionar de forma articulada no mapa turístico do RN.

 


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