Larissa Duarte
Repórter
Nas curvas frias da Serra do Agreste Potiguar, onde
o vento sopra histórias antigas, as cidades aguardam a reinvenção dos seus
destinos. Entre pousadas e o aroma de uma culinária típica, surge um projeto
que pretende mudar o rumo da economia local: o Plano de Ação Territorial (PAT)
do Turismo, lançado pelo Banco do Nordeste. O programa promete transformar as
vocações dos municípios de Serra de São Bento, Passa e Fica, Monte das
Gameleiras e São José do Campestre para transformar a beleza natural em desenvolvimento
através do fortalecimento do turismo. Com a duração de dois anos, a expectativa
é que o programa libere, no mínimo, R$ 10 milhões em crédito para as quatro
cidades.
O PAT nasce dentro do Programa de Desenvolvimento
Territorial (Prodeter) e aposta na união entre poder público, instituições e
empreendedores para que o turismo serrano deixe de ser um sonho sazonal e se
torne fonte contínua de renda. “As ações terão um horizonte inicial de dois
anos, com a meta de atender, no mínimo, 30 empresas. Queremos qualificar esses
empreendimentos para o crédito e aprimorar também as iniciativas dos
municípios, fortalecendo a governança, a sustentabilidade e a geração de
renda”, explica o gerente executivo de Desenvolvimento Territorial do Banco do
Nordeste, Agnelo Peixoto.
São estratégias pensadas em conjunto, metas
desenhadas a muitas mãos e uma mesma convicção de que o futuro da serra depende
do fortalecimento de quem vive nela. Agnelo fala com a convicção de quem já viu
o turismo transformar paisagens e destinos. “O Banco do Nordeste tem um olhar
diferenciado para o setor e recursos do FNE para estruturar pousadas,
restaurantes, chalés e receptivos. A estimativa inicial é que entre R$ 5
milhões e R$ 10 milhões sejam liberados em crédito para essa região”, afirma.
Para Agnelo, essa não é uma política que chega e parte, mas uma construção que
se mantém acompanhando cada etapa do desenvolvimento.
Em São José do Campestre, a cerca de 111km da
capital, o impacto do plano se traduz em expectativas. Aos 67 anos, o pousadeiro
Paulo Tarso vê a transformação de perto. Dono de uma hospedagem que há duas
décadas acolhe viajantes, ele acredita que o desenvolvimento passa primeiro
pela estrada, pela divulgação dos destinos e pela preparação dos
empreendimentos.
“O turismo passa e a cidade acolhe essa economia. O
que isso traz? Desenvolvimento, emprego e renda. Esse é o caminho do
crescimento de São José do Campestre para entrar no turismo. Para que haja um
upgrade forte, é preciso pertencimento. O território precisa estar unido, com
uma causa só”, detalha. Dentro do PAT do Turismo, Paulo está planejando novos
investimentos para aprimorar a estrutura do espaço que hoje conta com uma
ocupação média de 60% a 70% no ano.
São vozes como a dele que explicam a relevância de
políticas voltadas ao interior. Campestre tem uma economia modesta, com Produto
Interno Bruto (PIB) per capita de R$ 9,6 mil, de acordo com dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas carrega um patrimônio que não
cabe em números: sua paisagem, sua gente e sua cultura. É nas ruas tranquilas,
entre a Casa de Cultura Popular Palácio Borborema Potiguar e o Monte Cruzeiro
Frei Damião, que o turismo começa a ganhar forma.
As quatro cidades que formam o território da Serra
do Agreste Potiguar reúnem alguns dos cenários mais encantadores do interior do
Rio Grande do Norte. Em Serra de São Bento, o turismo já é consolidado, com
pousadas, trilhas e mirantes que se tornaram referência. Monte das Gameleiras
desponta como destino de natureza, com cachoeiras e festivais. Passa e Fica,
por sua vez, se fortalece na gastronomia e na integração de rotas ecológicas e
culturais.
Nesses caminhos íngremes, a Agência de
Desenvolvimento das Serras do Agreste Potiguar (Adesap) se tornou a voz
integrada das quatro cidades. À frente dela, o presidente Evilásio Belmont
coordena o comitê gestor que trabalha os eixos do turismo, empreendedorismo e
agricultura familiar. “Nosso principal objetivo é treinar e capacitar a
comunidade para que os visitantes sejam bem recebidos e que as pessoas
continuem morando no território. É preciso dar oportunidade a quem vive aqui de
entrar na linha do empreendedorismo”, conta.
A atuação da agência já rende frutos. Parcerias com
o Banco do Nordeste, Sebrae e empresas privadas começaram a tirar ideias do
papel. Em Monte das Gameleiras será inaugurado um parque ambiental como um
convite à convivência entre natureza e visitante. Outro projeto, o “Florir”,
pretende transformar a estrada que liga Serra de São Bento ao centro da cidade
vizinha em um corredor de flores e educação ambiental. São gestos que traduzem
um conceito de que o turismo sustentável precisa florescer junto com quem mora
na serra.
Concessão de crédito envolve capacitação
O Plano de Ação Territorial do Turismo nas Serras do
Agreste Potiguar não se limita apenas ao desenvolvimento de grandes
empreendedores, mas também impacta o apoio aos pequenos locais, formais ou
informais, que são fundamentais para o crescimento do setor de turismo. O
CrediAmigo, linha de microcrédito do Banco do Nordeste, surge como um dos
pilares desse processo, oferecendo não só financiamento, mas também capacitação
e orientação.
De acordo com Carpeggiani Gomes, gerente do
CrediAmigo no RN, o impacto vai além da simples concessão de crédito. Ele é um
agente transformador, ajudando o empreendedor a estruturar melhor seu negócio,
melhorar a gestão e a visão estratégica. “No setor do turismo, especificamente
nessa região onde atuamos fortemente, o CrediAmigo está presente junto a esses
empreendedores para ajudá-los a desenvolver suas atividades, realizar sonhos,
estruturar melhor seus negócios e fortalecer os empreendimentos. Tudo isso
favorece diretamente a economia das cidades”, avalia.
A atuação do Banco do Nordeste, por meio do
CrediAmigo, já mostrou resultados significativos em outras regiões do estado, e
a meta é expandir ainda mais esse impacto no Agreste Potiguar. Ao todo, são 565
clientes em São José do Campestre, 286 em Passa e Fica, 131 em Serra de São
Bento, e 54 em Monte das Gameleiras. Apenas em 2025, para as quatro cidades,
foram liberados mais de R$ 7 milhões através do CrediAmigo, um incremento de
20% em relação ao ano anterior.
Em São José do Campestre, o anseio pelo Plano é
claro na trajetória de Diego Custódio, proprietário de uma hamburgueria na
praça da Igreja Matriz. Com cinco anos de experiência no ramo e agora com a
abertura de uma nova unidade há 15 dias em Passa e Fica, ele enxerga na chegada
do PAT uma oportunidade de crescimento e diversificação. “Espero que tudo isso
dê uma movimentação maior para a região. Eu atendo uma média de 100 clientes
aqui e 150 em Passa e Fica. Quero crescer mais”, conta. Para Diego, o grande
desafio é a capacitação de mão de obra local, algo que o PAT pretende mitigar
por meio de cursos e programas de treinamento.
Essa mesma vontade de ver a cidade florescer move o
jovem Elvis Kennedy, 21, proprietário da única churrascaria da cidade. “O
turismo daqui ainda tem muito a ser explorado. É uma região rica em fauna e
flora, mas falta investimento e incentivo”, disse. Enquanto nos dias de semana
cerca de 50 pessoas circulam por dia no estabelecimento, aos sábados e domingos
ele vê o movimento quase quadruplicar. “Nos finais de semana, chega a 200
pessoas e boa parte de turistas. Espero que o plano aumente o fluxo, traga mais
visitantes e gere mais empregos”, afirma.
Por isso, Agnelo Peixoto destaca o papel do Plano de
Ação Territorial em criar uma infraestrutura para esses empreendedores. “O
crédito, se a pessoa não tiver boa gestão dos recursos, pode virar uma dor de
cabeça e não é isso que queremos. Queremos que o crédito seja orientado e
integrado, que melhore a vida da pessoa, o bem-estar e a dignidade humana”,
explica Agnelo, gerente executivo de Desenvolvimento Territorial do Banco do
Nordeste.
A integração entre o CrediAmigo e as outras linhas
de financiamento do Banco do Nordeste também é fundamental para consolidar esse
processo. “Com a orientação que oferecemos, o crédito se torna muito mais do
que um simples financiamento. Ele se torna uma ferramenta estratégica para o
crescimento sustentável do setor”, conclui Carpeggiani Gomes.
Para o presidente da Adesap, Evilásio Belmont, o
sucesso do PAT depende da união. “A governança integrada é a chave para o
desenvolvimento. Por isso, estamos trabalhando para fortalecer a parceria entre
todos os envolvidos, garantindo que o potencial do turismo nas serras seja
explorado de forma sustentável e que os empreendedores locais tenham as condições
necessárias para prosperar”, afirma.
Com o avanço do PAT, as quatro cidades do Agreste
Potiguar passam a se posicionar de forma articulada no mapa turístico do RN.


Nenhum comentário:
Postar um comentário