Cláudio Oliveira
Repórter
Mais do que uma vitrine do agronegócio potiguar, a
Festa do Boi, que começa nesta sexta-feira (10) e segue até o dia 18, no Parque
Aristófanes Fernandes, em Parnamirim, se consolida como espaço de inovação,
negócios e fortalecimento de cadeias produtivas estratégicas, com destaque para
a do queijo artesanal, que ganha relevância econômica e cultural no estado.
Para os produtores, a feira é uma oportunidade única de ampliar vendas e fechar
parcerias.
A edição de 2025 da festa traz a presença mais
efetiva de queijos artesanais do Rio Grande do Norte, apresentados pela
Associação de Empreendedores do Leite (Empreleite). Fundada em 2022, a entidade
reúne produtores da agricultura familiar que encontraram no queijo uma
alternativa para aumentar os rendimentos frente à baixa lucratividade do leite
in natura.
A associada Micarla Fernandes, produtora da Fazenda
Lima, em São Pedro, explica que o diferencial do queijo artesanal está na
origem. “É feito onde o produtor tem o cuidado, as etapas de produção, do capim
ao queijo. É leite cru, não pasteurizado, feito à mão. Literalmente artesanal,
com carinho, amor e dedicação”.
O resultado é o reconhecimento em premiações, como
no último Encontro Nordestino do Setor de Leite e Derivados (ENEL), quando um
queijo maturado no café Jaçanã, que ela produz, foi premiado. “Quando mandei
meus queijos para o concurso, três produtos voltaram premiados. A manteiga da
terra levou bronze, o maturado levou prata e o nosso desenvolvido com café
levou superouro. Ter um produto premiado mostra que há avaliação técnica por
trás e nos estimula a continuar no trabalho que estamos desenvolvendo”.
A Empreleite conta hoje com 12 associados, sendo
seis produtores de queijo e em processo de certificação. “A produção ainda é
pequena, mas conseguimos agregar valor ao litro de leite produzido na
propriedade. Por exemplo, na Fazenda Lima, transformando o leite em queijo
maturado, o litro passa a valer R$ 12, enquanto o preço médio do leite cru é de
R$ 2,30 a R$ 2,50”, afirma Micarla.
Durante a feira, os visitantes poderão conhecer o pavilhão dos animais e a loja
colaborativa da Empreleite, com degustação de queijos maturados, temperados e
recheados com goiabada, carne de sol e bacon, além de manteiga, ricota, doce de
leite, café, mel e biscoitos produzidos artesanalmente. “Vai ser uma
experiência gastronômica, mostrando a diversidade e qualidade do queijo
potiguar e de outros produtos artesanais”, destaca Micarla.
Outro destaque é a presença da Agência Sebrae em um
espaço de 5 mil m² voltado à inovação, conhecimento e fortalecimento da
economia local, apresentando soluções para o campo, experiências gastronômicas,
práticas de sustentabilidade e oportunidades de negócios. Elton Alves, gestor
da Agência Sebrae Festa do Boi, diz que a atuação do Sebrae foi reformulada na
festa. “Em cada edição reafirmamos o papel do Sebrae neste ambiente tão
emblemático para o desenvolvimento rural potiguar. Durante os nove dias da
feira, a gente constrói pontes entre a tradição e o futuro, conectando
produtores, empreendedores e consumidores em um ecossistema de conhecimento,
negócios e inovação”, afirma.
A programação inclui palestras, oficinas, exposições
e aproximações comerciais para diversas cadeias produtivas, como bovinocultura,
apicultura, suinocultura, horticultura, fruticultura e tecnologias sociais.
Entre os destaques estão a Fazendinha Modelo, a Queijeira Artesanal Modelo
Nivardo Melo e a Exposição Queijos Artesanais do Brasil. No balcão Saberes e
Sabores, além das oficinas de harmonização de produtos do Feito Potiguar, haverá
cuppings (provas técnicas de cafés especiais) com foco em cafés do Nordeste,
especialmente os produzidos em Jaçanã e Portalegre.
O espaço também terá ações de sustentabilidade,
economia criativa, vitrine de produtos locais e praça de alimentação
diversificada.
R$ 85 milhões em negócios
A expectativa dos organizadores da 63ª Festa do Boi
é movimentar R$ 85 milhões em negócios e receber cerca de 500 mil visitantes ao
longo dos oito dias, consolidando a festa como referência regional e nacional
no setor. Segundo o presidente da Associação Norte Riograndense de Criadores
(ANORC), Matheus França, a estimativa de negócios resulta de planejamento e
parceria com instituições financeiras e leilões: “Quando a gente começa a
conversar com eles, alinhar as parcerias para a Festa do Boi, eles já passam os
números do ano passado e também com as previsões deste ano. O Banco do
Nordeste, por exemplo, tem uma previsão de financiamento dentro da festa de 50
milhões, lembrando que ano passado eram 45 milhões”.
França destaca ainda o crescimento das transações
dentro da própria feira: “Ano passado tivemos apenas cinco leilões, este ano
teremos sete, além de dois eventos novos de venda de animais, que devem gerar
em torno de 8 a 10 milhões de reais só em faturamento”, prevê. A soma desses
números, junto aos parceiros bancários e agentes de fomento, projeta R$ 85
milhões em movimentação financeira para a edição de 2025.
Com quase 3 mil animais expostos — bovinos, ovinos e
caprinos — a programação inclui sete leilões oficiais e a edição especial do
“Genética Potiguar”, dividido entre machos e fêmeas, atendendo à demanda por
animais com genética diferenciada. Compradores de Minas Gerais, São Paulo,
Goiás e Mato Grosso devem participar, reforçando o alcance nacional da feira.
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