segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Opinião do Estadão: Petrobras contrata prejuízo

 


O ufanismo e a fanfarronice costumeiros marcaram presença na cerimônia lulopetista em que a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, ao lado de um efusivo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, oficializou o retorno da produção de fertilizantes na Bahia e em Sergipe a partir de janeiro. As fábricas, juntamente com a que foi reativada no Paraná e a do Mato Grosso do Sul, ainda em construção, atenderão a 35% da demanda nacional por fertilizantes nitrogenados, como profetizou a executiva.

Como diria Garrincha, em sua simplicidade genial, faltou somente combinar com os russos – literalmente, já que a Rússia é o principal fornecedor de fertilizantes para o Brasil, mercado em que é altamente competitivo, apesar da guerra deflagrada em fevereiro de 2022 com a Ucrânia, que encareceu seus produtos. A saída gradativa da Petrobras desse mercado ocorreu por causa dos sucessivos prejuízos absorvidos na produção, uma atividade com alto custo de matéria-prima que concorria com produtos importados mais baratos.

A volta da estatal ao setor começou com a reativação da fábrica do Paraná, no ano passado, quando a unidade já acumulava prejuízo de R$ 3,5 bilhões. Antigos funcionários da unidade que já haviam sido indenizados pela demissão foram readmitidos sem que houvesse novo processo seletivo, como seria o correto. Tudo para acelerar a reativação. Na Bahia, a Petrobras prevê investir R$ 38 milhões, depois de encerrar litígio bilionário com a Unigel em razão do fechamento da fábrica.

Mas nada disso parece fazer diferença. Para Lula, o que importa é “inaugurar” as fábricas e anunciar a criação de empregos a toque de caixa, pois a campanha eleitoral de 2026 não tarda a bater à porta. E, para isso, recorrer ao caixa da Petrobras é o atalho mais rápido, ainda que o negócio não faça sentido para a empresa do ponto de vista comercial e mesmo que não tenha sido planejado qualquer acordo com a agroindústria nacional com compromisso firme de compra da produção futura, independentemente da oferta externa.

O Recôncavo Baiano parece ter sido escolhido a dedo para o anúncio, e Lula não escondeu a pressão que exerce sobre a companhia. “Estou convencido de que a Petrobras ainda não deu tudo o que ela tem que dar ao povo brasileiro”, afirmou, mesmo diante da promessa de Magda Chambriard de investir mais de R$ 2,6 bilhões na Bahia, berço político de petistas do alto escalão, como o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e o líder do governo no Senado, Jaques Wagner. Até o ministro de Minas e Energia, o mineiro Alexandre Silveira, fez questão de tirar uma casquinha na cerimônia, dizendo-se um “baianeiro”.

A obsessão de Lula em torno da produção de fertilizantes pela Petrobras foi um dos motivos da troca do petista Jean Paul Prates por Magda Chambriard na presidência da empresa, no ano passado. Prates até anulou o veto da companhia para voltar a investir no segmento, mas Lula considerou lento o processo de retomada. Agora, o presidente mostra de vez que a Petrobras está, de fato, a serviço de seu governo, e não do Estado brasileiro.

Opinião do Estadão

 

 

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