As canetas emagrecedoras, como o Mounjaro
(tirzepatida) e o Wegovy (semaglutida), viraram símbolo da perda de peso rápida
e se tornaram objeto de desejo de quem busca resultados imediatos.
Como forma de controlar as vendas e assegurar que o
uso ocorra sob acompanhamento médico, a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) determinou em junho que esses medicamentos só podem
ser vendidos mediante retenção da receita em farmácias devidamente
autorizadas.
No entanto, mesmo com as restrições, uma
investigação exposta nos últimos dias revelou a comercialização ilegal do
Mounjaro em farmácias e na Feira dos Importados de Brasília, o maior
centro popular de vendas da região. Segundo reportagem do Metrópoles, o
produto, importado de forma irregular, era oferecido a preços que podem
ultrapassar R$ 4 mil no mercado paralelo.
A procura por substâncias de uso controlado fora dos
canais oficiais tem crescido na mesma proporção da popularidade desses
medicamentos. Mas quais são os riscos de consumir um produto sem procedência
comprovada?
Riscos vão de reações alérgicas a
falência de órgãos
De acordo com o endocrinologista André Camara de
Oliveira, diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia
Regional São Paulo (SBEM-SP), o uso de versões falsificadas do Mounjaro pode
representar um perigo grave à saúde.
“O paciente pode estar injetando desde uma
substância sem princípio ativo até compostos tóxicos, bactérias, solventes
industriais ou doses erradas”, explica o médico.
Ele acrescenta que esses produtos não passam por
controle de qualidade, esterilização nem rastreabilidade exigidos pela Anvisa e
pela fabricante Eli Lilly.
Segundo o especialista, há casos documentados por
agências regulatórias internacionais, como a Food and Drug Administration (FDA,
dos Estados Unidos) e a Agência Europeia de Medicamentos (EMA), que relatam
reações alérgicas severas, hipoglicemia, sepse e até falência de órgãos.
“Aplicar soluções não estéreis pode causar abscessos
e infecções graves. Além disso, a ausência da ação esperada pode descompensar o
metabolismo de quem tem diabetes ou obesidade”, completa.
Como reconhecer uma caneta falsificada?
Em meio à disseminação de produtos ilegais, a
atenção aos detalhes da embalagem se torna essencial. André Camara explica que
os produtos originais da Eli Lilly possuem selos de segurança intactos, código
de barras legível, número de lote e validade em alto relevo, além do logotipo
“Lilly” gravado no corpo da caneta e no lacre metálico.
Já versões falsificadas podem apresentar
rótulos desalinhados, fontes incorretas, ausência do número de registro no
Ministério da Saúde e inconsistências no lote.
“Uma forma segura de verificar a autenticidade é
consultar o número do lote no site da Anvisa ou da própria fabricante. Produtos
oferecidos em redes sociais ou marketplaces não regulamentados devem ser
considerados suspeitos”, orienta o especialista.
O que fazer se desconfiar do produto
Caso haja suspeita de falsificação, a
endocrinologista Carolina Janovsk, professora da Universidade Federal de São
Paulo (Unifesp), orienta interromper imediatamente o uso e procurar atendimento
médico.
“Se houver sintomas como suor frio, tremores,
confusão mental, fraqueza ou desmaios, é preciso buscar ajuda urgente, pois
podem indicar hipoglicemia causada por insulina ou contaminantes presentes em
versões falsas”, afirma.
A especialista recomenda guardar a embalagem, o
recibo e o número do lote, que podem ajudar na investigação. Também é possível
registrar a denúncia pelo sistema VigiMed, da Anvisa, e acionar o serviço de
atendimento da Eli Lilly Brasil, pelo telefone 0800 701 0444 ou
WhatsApp (11) 5108-0101, para verificar a autenticidade do lote e receber
orientação.
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