O ministro do Turismo, Celso Sabino, já decidiu que
vai ficar no governo Lula mesmo que para isso precise deixar sua legenda, o
União Brasil, que deu a ele até o último dia 19 para o desembarque. Licenciado
do mandato de deputado federal pelo Pará e pré-candidato ao Senado Federal, ele
recebeu do presidente a garantia de apoio na campanha de 2026. Mas, para isso,
vai precisar encontrar um novo partido, e não está sendo nada fácil.
Como mostrou O GLOBO, o ministro, que chegou a
entregar uma carta de demissão ao presidente no último dia 26, afirmou a
aliados que permanecerá à frente da pasta após o União Brasil abrir um processo
de expulsão por ele não ter obedecido à determinação para se desligar do
governo do PT no prazo estipulado pela cúpula.
Sabino tem dito aos aliados que prefere ficar e
aproveitar a visibilidade proporcionada pela COP30 em Belém em novembro e o
Círio de Nazaré, programado para o próximo final de semana, para vitaminar a
futura campanha. Além disso, caso se mantenha no ministério até o prazo de
desincompatibilização, em março, terá o controle sobre milhões de reais em
emendas.
A questão é que, saindo do União, ele vai precisar
de outra legenda para se candidatar. E o maior partido de apoio ao governo no
Pará, o MDB, já está com a chapa para 2026 formada e não tem intenção de abrir
espaço para mais um candidato ao Senado.
Segundo fontes ouvidas pela equipe do blog, o
governador do Pará, Helder Barbalho, que está no segundo mandato e não pode
disputar a reeleição, concorrerá a uma das duas vagas em disputa no Senado em
uma ampla frente partidária. Para isso, precisará renunciar em março de 2026 e
abrirá caminho para que sua vice, Hana Ghassan (MDB), assuma o governo e
dispute a reeleição no comando da máquina pública.
Já o presidente da Assembleia Legislativa do Pará,
Chicão (MDB), que foi vice de Helder Barbalho na prefeitura de Ananindeua (PA),
deverá concorrer à segunda cadeira do Senado.
O entorno do governador também fez chegar a Sabino
que ele não teria espaço nem mesmo para disputar a reeleição da Câmara dos
Deputados pelo partido. Isso porque a prioridade do grupo político é trabalhar
pela candidatura do ministro das Cidades, Jader Filho, que nunca disputou cargo
eletivo e demandará um esforço concentrado para angariar votos no Pará. O
patriarca do clã, Jader Barbalho, completará 82 anos no ano que vem e não
disputará a reeleição no Senado.
Sem condições de migrar para o MDB, Sabino poderia
tentar se filiar ao PSB do vice de Lula, Geraldo Alckmin, como alternativa para
concorrer ao Senado com o apoio do presidente da República. Para isso, porém,
vai precisar do aval do presidente nacional do partido, João Campos, prefeito
de Recife, o que ainda é incerto.
Campos participou da campanha vitoriosa de Igor
Normando (MDB), a quem chama de “amigo” nas redes sociais, à prefeitura de
Belém no ano passado. Normando é primo de Helder Barbalho e tem como vice
Cássio Andrade, que é o presidente do PSB no Pará.
O ministro do Turismo considera na sua estratégia
que, a despeito da proximidade entre João Campos e o grupo de Helder, o
principal opositor do governador é o atual prefeito de Ananindeua, Doutor
Daniel Santos, que é filiado ao PSB e trabalha para disputar o comando do Pará
contra Hana Ghassan.
Ex-aliado de Helder, Daniel rompeu com o MDB. Em
2024, derrotou com larga vantagem o candidato apoiado pelo governador na
cidade, o deputado federal emedebista Antonio Doido. Em Belém, apoiou o
bolsonarista Delegado Éder Mauro (PL) no segundo turno, mas ele perdeu para
Normando.
Por isso, para Sabino, a “saída PSB” depende da
disposição de Campos em bancar a candidatura de oposição do prefeito de
Ananindeua aos Barbalho enquanto o prefeito de Recife negocia o apoio do MDB à
sua candidatura ao governo de Pernambuco.
Embora a eleição seja apenas no ano que vem, quanto
mais Sabino demorar para fazer a troca de partido, mais difícil será encontrar
um partido competitivo, já que as alianças nos estados estão em plena
negociação e, diferentemente dos deputados, que são muitos, as vagas para
candidaturas ao Senado são bem mais restritas. A janela para os políticos
mudarem de legenda sem ferir a fidelidade partidária será aberta em menos de
seis meses. Até lá, é provável que Sabino venha a prospectar outras opções para
além do MDB e o PSB.
Malu Gaspar - O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário