Gabriela Liberato
Repórter
O Brasil vive um momento de destaque no cenário do
fisiculturismo, após a vitória histórica do acreano Ramon Dino na categoria
Classic Physique do Mr. Olympia, o maior campeonato de fisiculturismo do mundo.
Neste sábado (18), acontecerá a edição brasileira do evento, o Olympia Brasil,
e o potiguar Jeorge Ferreira da Silva Filho, de 23 anos, representará o Rio
Grande do Norte em sua primeira participação no palco do maior evento de
fisiculturismo do país.
Natural de Natal, Jeorge concilia a rotina de atleta
da categoria Classic Physique Júnior com a sua vida profissional como advogado
criminal. Em entrevista à TRIBUNA DO NORTE, ele conta como foi a preparação
para a competição, e relata quais são os principais desafios no fisiculturismo.
“A parte mais difícil nem é física, é mental. É se
manter firme quando ninguém está vendo, quando o corpo já não responde tão bem.
É uma guerra silenciosa”, resume o atleta, sobre o processo de preparação.
Para chegar ao Olympia, Jeorge encarou uma rotina
intensa e cheia de mudanças. O plano inicial era competir novamente na
competição Musclecontest RN, marcada para 1º de novembro, em Natal, mas, a
poucas semanas do campeonato nacional, ele e sua equipe decidiram acelerar o
cronograma. “Percebemos que o físico já estava se encaixando e que dava pra
adiantar. Mudamos tudo: compramos as passagens e fizemos a inscrição. O Olympia
é o maior campeonato do país, é um sonho para qualquer atleta”, conta.
Jeorge afirmou que a fase final da preparação é a
mais desafiadora: O corpo está cansado, a dieta é restrita e o descanso,
escasso. “É quando entra a disciplina e o amor pelo esporte. Porque o palco é
só um dia, mas o processo são meses de sacrifício”, destacou.
Para dar conta da rotina, ele acorda cedo para o
aeróbico em jejum, leva marmitas e garrafas d’água para audiências e visitas a
presídios, e treina pesado todos os dias. “Conciliar a advocacia criminal com o
esporte é difícil, mas são as duas coisas que mais amo fazer. O segredo é ter
disciplina, e ela se reflete em todas as áreas da vida”, diz.
Mesmo com tanto esforço, Jeorge destaca que o
fisiculturismo ainda não traz retorno financeiro. “O esporte é um hobby para
mim hoje, já que minha vida profissional está na advocacia. Mas é algo que
nunca me deu nenhum retorno financeiro, apenas gastos: dieta, suplementação,
academia, e os campeonatos, que são muito caros. Só uma competição pode custar
de R$1 mil a R$3 mil, fora pintura, fotografia, filiação e suplementação”,
explica.
Mesmo diante dos desafios do esporte, o atleta
manteve a determinação e construiu sua trajetória movido pelo exemplo que
cresceu vendo em casa. Antes de subir aos palcos, Jeorge teve o primeiro
contato com a musculação ao observar o pai, sempre disciplinado nos treinos.
“Meu pai frequentava academia desde sempre e eu olhava para ele e pensava:
quero ter o corpo dele quando crescer. Mas ele só me deixou começar a treinar
aos 18 anos, e foi exatamente o que fiz”, lembra.
Quando iniciou a prática da musculação, ele ainda
não tinha a pretensão de subir aos palcos. “Eu nem fazia ideia do quanto o
esporte exigia, nem que eu tinha uma boa genética para isso, que é algo muito
importante nesse meio. Eu só treinava por prazer, e com o tempo fui gostando
cada vez mais, e levando mais a sério”, frisou.
A decisão de competir veio apenas em 2024, em meio a
um ano turbulento: o último período da faculdade de Direito e à preparação para
o exame da OAB. O atleta conciliou estudos, estágio e treinos com uma dieta
rígida. O resultado: aprovação na prova e o 2º lugar na categoria Classic
Júnior em sua estreia no Musclecontest RN, além do 4º lugar na Classic
Estreantes. “Com o esporte eu aprendi que a disciplina que o fisiculturismo
exige, eu levo para vida toda. Fazer o que precisa ser feito, mesmo cansado,
mesmo desmotivado”, salienta.
Para ele, representar o estado no Olympia Brasil é
um orgulho e uma responsabilidade. “Quando anunciei que ia competir, recebi
muitas mensagens de atletas e pessoas do RN. Senti que tenho uma missão maior,
que é representar o nosso estado nesse campeonato tão importante”, ressaltou.
Jeorge também destaca o apoio fundamental da
família, da equipe de treinadores, dos amigos e da namorada, que acompanhou de
perto todas as etapas. “Ver que todos estão ao meu redor torcendo por mim é a
minha inspiração para continuar no esporte. Faço isso por eles, pois sei que
acreditam que eu tenho potencial para seguir firme”, disse.
O fisiculturismo potiguar
Jeorge reconhece que o cenário do fisiculturismo
local está em crescimento, impulsionado por eventos como a Copa Cidade do Sol e
o Musclecontest RN. “O esporte está se expandindo no RN, mas ainda é pouco
divulgado. O fisiculturismo é muito mais do que estética. É sobre superação e
disciplina”, defende.
Após o Olympia, Jeorge ainda terá mais duas semanas
de preparação para subir novamente ao palco em Natal, no Musclecontest RN, que
acontece no próximo dia 1º de novembro, no Praiamar Natal Hotel e Convention,
em Ponta Negra. “Os eventos que acontecem aqui em Natal costumam lotar, o que
mostra que o interesse do público está crescendo. E é especial poder estar no
palco diante dos amigos e familiares”, conta.
Com a serenidade de quem aprendeu a lidar com os
próprios limites, ele reflete sobre o verdadeiro sentido da jornada. “O público
vê apenas os minutos no palco, mas não imagina o que acontece por trás: meses
de sacrifício, renúncia e controle mental. O palco é a recompensa, mas o que
realmente forma o atleta é o que ele faz quando ninguém está olhando”, encerra,
deixando claro que o verdadeiro troféu é a própria superação.
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