Existente há quase 30 anos no Brasil, o mercado
livre de energia passou por uma mudança significativa no seu ambiente de
negócios em janeiro de 2024, quando o Ministério de Minas e Energia (MME)
permitiu que empresas com conta de luz a partir de R$ 5 mil, ou demanda
contratada de pelo menos 30kw pudessem ingressar no Ambiente de Contratação
Livre (ACL). No Rio Grande do Norte, essa forma de negociar a energia está em
ascensão, segundo dados da Câmara Comercializadora de Energia Elétrica (CCEE).
De 516 unidades consumidoras que estavam no mercado até agosto de 2024, o
número saltou para 794 unidades até agosto de 2025, um crescimento de 54%. A
adesão, que tem sido percebida nacionalmente, tem trazido benefícios para
usuários, segundo interlocutores do setor energético. No total, 34% da energia
consumida no estado é por meio do mercado livre, de acordo com dados da
Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia Elétrica (Abraceel).
Segundo dados da CCEE enviados à TRIBUNA DO NORTE, o
número de novas migrações tem crescido no estado nos últimos três anos: foram
68 em 2023, 109 em 2024 e 166 em 2025, considerando dados de janeiro a agosto.
Os principais setores com mais migrações no RN em 2025 são o de serviços, com
89; comércio, com 24 migrações e minerais não-metálicos, com 20 migrações.
Segundo Adriana Sambiase, gerente-executiva de
Cadastros e Contratos da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE),
são vários os motivos que explicam o crescimento do mercado livre de energia no
Brasil. Entre eles está a possibilidade de se gerar economia nas faturas,
aliado ao fato de que o cliente negocia condições especiais e características
específicas para o seu negócio diretamente com a empresa comercializadora.
“Logo que o mercado abriu, em janeiro de 2024,
tivemos um aumento imediato expressivo, porque tínhamos uma demanda represada
de consumidores que já conheciam o mercado livre, que já tinham tomado suas
decisões e quando veio a abertura, tivemos números expressivos de crescimento
que perdurou no ano de 2024. Em 2025, continuamos com esse ritmo expressivo de
crescimento, já numa fase de consolidação, porque aquelas empresas que estavam
nesse anseio migraram de imediato e agora, ao longo do tempo, novas empresas
vão conhecendo o mercado e continuam migrando”, explica Adriana Sambiase.
Nesse tipo de mercado, por exemplo, todos podem
negociar condições comerciais como preço, quantidade de energia contratada,
período de suprimento, data de pagamento, dentre outras resoluções. Entre
janeiro e setembro de 2025, mais de 18 mil novas unidades consumidores migraram
no país, o que totaliza cerca de 80 mil em todo o Brasil atualmente. Vale
salientar que, mesmo no mercado livre, os consumidores entrantes ainda pagam
taxas às distribuidoras concessionárias nos estados.
“A mensagem é liberdade. Liberdade de escolher o
fornecedor, negociar condições contratuais, preços, prazos, e isso trás, além
da economia, que é o principal que as empresas focam na vinda para o mercado
livre, a previsibilidade, porque ela pode fazer contratos de curto, médio e
longo prazo. Então há um controle maior com seu gasto financeiro com energia e
a questão da sustentabilidade, porque no mercado livre pode-se escolher a fonte
de energia que se vai comprar. Pode ser um fonte renovável, por exemplo, se a
empresa tem metas de ESG, descarbonização”, acrescenta Adriana Sambiase, da
CCEE.
Segundo dados da Câmara de Comercialização de
Energia Elétrica, o Brasil possui 480 empresas comercializadoras que podem
fornecer energia por meio do Ambiente de Livre Contratação. Dessas, 137 foram
habilitadas como varejistas a partir da Portaria Normativa nº 50 MME de 27 de
setembro de 2022, que ampliou o mercado para consumidores.
Uma dessas empresas é a Neoenergia Comercializadora.
A diretora comercial da empresa, Rita Knop, cita que o mercado livre de energia
é “uma das principais transformações do setor elétrico brasileiro nas últimas
décadas”. Knop afirma ainda que, entre as vantagens do mercado livre estão a
oportunidade de uma economia mensal de até 35% na conta de luz, o que
representa uma redução de até quatro contas por ano, segundo ela. Rita
acrescenta que os consumidores precisam estar atentos na escolha das empresas
comercializadoras.
“Diante da diversidade de empresas que atuam no
mercado livre, é importante estar atento à solidez e à experiência das
comercializadoras de energia. Isso porque a contratação de empresas com atuação
recente neste segmento ou estrutura pouco consolidada pode representar riscos à
continuidade e à segurança do fornecimento”, cita.
“A escolha consciente contribui para uma transição
segura ao mercado livre, alinhada às necessidades e expectativas dos
consumidores. Por isso, é preciso redobrar a atenção na hora de escolher a
comercializadora com a qual o cliente firmará o contrato para evitar
imprevistos. Nesse contexto, optar por empresas com trajetória reconhecida e
experiência consolidada, como a Neoenergia, traz maior previsibilidade e
confiança na prestação dos serviços, minimizando riscos para as operações”,
acrescenta Rita Knop.
Ambiente permite economia para empresas
O Ambiente de Contratação Livre (ACL) permite que
empresas e consumidores possam economizar nas contas de energia e gerar
reinvestimentos nos negócios. A avaliação é do presidente da Comissão Estadual
de Energias Renováveis da Fiern (Coere/Fiern), Sérgio Azevedo.
Ele aponta que a redução nos custos se dá por três
fatores: a troca de equipamentos e lâmpadas de alto consumo por equipamentos de
maior eficiência energética; a avaliação posterior da compra via Mercado Livre
e, por fim, verificar se vale a pena gerar a própria energia. Ainda segundo
Sérgio Azevedo, para muitos empreendedores, em especial na indústria, a energia
é um dos principais insumos para os gestores.
“O Mercado Livre não requer nenhum investimento e
você consegue comprar 20 a 30% mais barato em relação a estar comprando nas
tarifas normais do ambiente regulado. Então já há uma redução de tarifa. Nisso,
faz-se o terceiro passo: diante dessa realidade, sabendo exatamente quantos
kw/hora eu gasto, multiplicado pela quantidade de energia mais barata que é do
mercado livre, e aí se vê se vale a pena colocar a própria geração. Essa é a
conta”, explica.
Para o presidente da Federação das Indústrias do RN
(Fiern), Roberto Serquiz, “o Mercado Livre é mais uma alternativa para que o
empresário possa fazer a sua avaliação de como ele vai conseguir reduzir o seu
custo dos principais insumos da produção que é energia. Então vejo isso como
uma opção saudável de que o empresário tenha agora mais uma alternativa, mais
uma opção para tomar a sua decisão”, acrescenta.
Em nota, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e
Turismo do RN (Fecomércio) afirma que o aumento do consumo de energia do
mercado livre no RN advém de três fatores: a abertura do mercado para todas as
empresas de média e alta tensão (Grupo A); a conscientização da população, seja
pessoa física ou jurídica, das possibilidades e benefícios desse mercado, como
a economia na conta de luz e viabilidade, mesmo sem grandes investimentos; além
da ampliação das linhas de financiamento para investimentos em geração própria.
“Os maiores benefícios são a redução da conta de
luz, a previsibilidade do valor da conta a médio e longo prazo e a não
necessidade de se descapitalizar para usufruir desses benefícios. A abertura do
mercado para os consumidores de média e alta tensão permitiu à maioria das
empresas do setor de comércio, serviços e turismo migrar para o mercado livre,
o que temos acompanhado ocorrer no RN”, informou a entidade.
Governo quer ampliar mercado livre
O Governo Federal estuda ampliar o acesso ao mercado
livre de energia para todos os consumidores a partir do ano de 2027. A ideia
que está atualmente em análise é que a abertura, que será em duas fases, comece
para indústrias e comércios e posteriormente passe a abranger os demais
consumidores.
O Ministério de Minas e Energia (MME) aprovou no
começo de setembro a Consulta Pública n° 196, que regulamenta a abertura do
mercado de energia elétrica para que todos os consumidores brasileiros,
incluindo os residenciais, possam escolher seu fornecedor, como acontece com os
serviços de telefonia e internet, por exemplo. A medida integra as discussões
da Medida Provisória 1.304/2025, com prazo para ser analisada até 07 de
novembro e que e tem como objetivo ampliar a concorrência no setor elétrico,
garantindo maior poder de negociação ao usuário e modernizar as opções
tarifárias disponíveis.
Para Adriana Sambiase, gerente-executiva de
Cadastros e Contratos da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE),
a abertura do mercado livre de energia para a baixa tensão é um “marco
importantíssimo” para o setor que poderá permitir que 90 milhões de brasileiros
possam escolher seus fornecedores de energia.
“Vale ressaltar que a CCEE está preparada para a
abertura do mercado livre para a baixa tensão. Preparamos muito bem o terreno
para o futuro, contribuindo ativamente para propor melhorias visando a abertura
integral, buscando simplificar o dia a dia do consumidor e dos fornecedores de
energia no varejo. Paralelamente, triplicamos nossa capacidade de armazenamento
e processamento de dados, realizamos uma série de treinamentos e encontros com
o setor para ajudar na preparação desse momento histórico que estamos vivendo”,
finaliza.
- Mercado
Livre de Energia
O Ambiente de Contratação Livre (ACL),
popularmente conhecido como Mercado Livre de Energia, é uma modalidade de
contratação em que consumidores podem escolher livremente seus fornecedores de
energia elétrica, podendo optar por energias renováveis, sustentáveis e que
proporcionam redução de custos e condições personalizadas.
Antes da Portaria Normativa nº 50 MME de
27 de setembro de 2022, apenas grandes consumidores podiam comprar energia
nessa modalidade em função das regras de migração, que exigiam altos padrões de
consumo.
Com as novas regras do Governo Federal,
consumidores de alta tensão passaram a ter a possibilidade de ingressar no
Ambiente de Contratação Livre, com demanda mínima de 30kW, por exemplo, o
equivalente a cerca de R$ 5 mil por conta.

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