quarta-feira, 24 de setembro de 2025

TANGARAENSE - Falta de medicamentos ameaça transplantados

 


Pacientes que passaram por transplante de coração no Rio Grande do Norte enfrentam a interrupção no fornecimento de imunossupressores pela Unidade Central de Agentes Terapêuticos (Unicat). Os remédios, fundamentais para evitar a rejeição do órgão, estão em falta há pelo menos dois meses e, diante do desabastecimento, famílias têm recorrido a doações emergenciais ou ao pagamento de altos valores em farmácias privadas. O problema ocorre em pleno Setembro Verde, mês de incentivo à doação de órgãos, e expõe a fragilidade da rede que deveria assegurar a continuidade do tratamento dos transplantados.

A ausência atinge principalmente medicamentos como a ciclosporina e o micofenolato de mofetila, substâncias consideradas indispensáveis para esse público. De acordo com informações da tabela da Unicat, atualizada diariamente, a ciclosporina está em processo de licitação e o micofenolato aguarda distribuição pelo Ministério da Saúde. Essas lacunas administrativas têm provocado interrupções recorrentes no acesso aos fármacos, que não permitem falhas no uso. Fora da rede pública, o custo mensal pode ultrapassar R$ 1.500, valor inviável para a maioria dos transplantados.

Cristina Fialho, 56, passou pelo transplante em fevereiro de 2023 e hoje sofre com essa falta de medicamentos. “O primeiro ano foi de recuperação, porque meu transplante foi muito complicado e minha situação era bastante crítica. Nesse período, o fornecimento foi regular, recebíamos até mais de uma caixa por mês. Era um serviço muito bom”, conta. Com o tempo, o cenário mudou. “O problema começou em 2024, quando passaram a haver atrasos na entrega e reposição. Medicamentos como ciclosporina e micofenolato de mofetila começaram a faltar. São fundamentais e muito caros”, relata.

Segundo Cristina, a ciclosporina pode custar entre R$ 400 e R$ 500 por caixa. Quando não consegue na rede pública, a saída é contar com doações de outros pacientes ou com estoques emergenciais em hospitais. “Quando há atraso, às vezes conseguimos no hospital em que fiz o transplante. Outras vezes, recorremos a transplantados que cedem doações. Isso gera uma ansiedade absurda”, lamenta.

O drama também atinge José Valdson, 36, que depende do micofenolato de mofetila após o transplante de coração realizado em dezembro de 2023. “A falta pode provocar uma rejeição, pela qual eu passei recentemente, e o sofrimento foi muito grande pra mim e minha família”, afirma. Desde a falta de medicamento no estoque da Unicat, ele só conseguiu seguir o tratamento graças a doações.

Diante disso, José afirma viver sob constante insegurança. “É desesperador, pois antes do transplante eu sofri muito vendo minha vida se indo aos poucos e o medo se instala dentro da minha casa de passar por isso novamente. Tenho uma filha de 6 anos e ela já passou por muita coisa. Tento blindá-la, mas é quase impossível”, detalha.

De acordo com técnicas do Ministério da Saúde, tanto a ciclosporina quanto o micofenolato de mofetila têm uso aprovado para prevenção da rejeição em transplantes cardíacos, renais e hepáticos. A reportagem da TRIBUNA DO NORTE procurou a Sesap para esclarecer a situação do fornecimento de imunossupressores aos transplantados cardíacos, mas não houve retorno.

 

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