Pacientes que passaram por transplante de coração no
Rio Grande do Norte enfrentam a interrupção no fornecimento de
imunossupressores pela Unidade Central de Agentes Terapêuticos (Unicat). Os remédios,
fundamentais para evitar a rejeição do órgão, estão em falta há pelo menos dois
meses e, diante do desabastecimento, famílias têm recorrido a doações
emergenciais ou ao pagamento de altos valores em farmácias privadas. O problema
ocorre em pleno Setembro Verde, mês de incentivo à doação de órgãos, e expõe a
fragilidade da rede que deveria assegurar a continuidade do tratamento dos
transplantados.
A ausência atinge principalmente medicamentos como a
ciclosporina e o micofenolato de mofetila, substâncias consideradas
indispensáveis para esse público. De acordo com informações da tabela da
Unicat, atualizada diariamente, a ciclosporina está em processo de licitação e
o micofenolato aguarda distribuição pelo Ministério da Saúde. Essas lacunas
administrativas têm provocado interrupções recorrentes no acesso aos fármacos,
que não permitem falhas no uso. Fora da rede pública, o custo mensal pode
ultrapassar R$ 1.500, valor inviável para a maioria dos transplantados.
Cristina Fialho, 56, passou pelo transplante em
fevereiro de 2023 e hoje sofre com essa falta de medicamentos. “O primeiro ano
foi de recuperação, porque meu transplante foi muito complicado e minha
situação era bastante crítica. Nesse período, o fornecimento foi regular,
recebíamos até mais de uma caixa por mês. Era um serviço muito bom”, conta. Com
o tempo, o cenário mudou. “O problema começou em 2024, quando passaram a haver
atrasos na entrega e reposição. Medicamentos como ciclosporina e micofenolato
de mofetila começaram a faltar. São fundamentais e muito caros”, relata.
Segundo Cristina, a ciclosporina pode custar entre
R$ 400 e R$ 500 por caixa. Quando não consegue na rede pública, a saída é
contar com doações de outros pacientes ou com estoques emergenciais em
hospitais. “Quando há atraso, às vezes conseguimos no hospital em que fiz o
transplante. Outras vezes, recorremos a transplantados que cedem doações. Isso
gera uma ansiedade absurda”, lamenta.
O drama também atinge José Valdson, 36, que depende
do micofenolato de mofetila após o transplante de coração realizado em dezembro
de 2023. “A falta pode provocar uma rejeição, pela qual eu passei recentemente,
e o sofrimento foi muito grande pra mim e minha família”, afirma. Desde a falta
de medicamento no estoque da Unicat, ele só conseguiu seguir o tratamento
graças a doações.
Diante disso, José afirma viver sob constante
insegurança. “É desesperador, pois antes do transplante eu sofri muito vendo
minha vida se indo aos poucos e o medo se instala dentro da minha casa de
passar por isso novamente. Tenho uma filha de 6 anos e ela já passou por muita
coisa. Tento blindá-la, mas é quase impossível”, detalha.
De acordo com técnicas do Ministério da Saúde, tanto
a ciclosporina quanto o micofenolato de mofetila têm uso aprovado para
prevenção da rejeição em transplantes cardíacos, renais e hepáticos. A
reportagem da TRIBUNA DO NORTE procurou a Sesap para esclarecer a situação do
fornecimento de imunossupressores aos transplantados cardíacos, mas não houve
retorno.
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