quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Perspectivas do setor mineral envolvem terras raras e exportação de ferro no RN

 


Ícaro Carvalho
Repórter

Considerados uma das novas fronteiras da exploração mineral no Brasil, as terras raras e os minerais críticos e estratégicos já se consolidam como realidade no Rio Grande do Norte em duas vertentes: desenvolvimento de pesquisas para empresas de fora do país e atração de players interessados em minerais existentes no RN, como lítio, tântalo, nióbio e tungstênio. Neste último caso, o estado é pioneiro na extração de scheelita, principal fonte do tungstênio. O Centro de Tecnologia Mineral do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), em Currais Novos, tem desenvolvido iniciativas nessa área e busca recursos para ampliar as ações.

Segundo Elias Nunes, diretor de Planejamento e Negócios do CT Mineral, apesar de estar vinculado ao IFRN, o espaço não trabalha necessariamente como uma escola, mas sim como uma empresa desenvolvendo serviços tecnológicos na área de mineração. Em 2022, o CT foi credenciado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Industrial (Embrapi) para desenvolvimento de inovação tecnológica para o setor de indústria. O primeiro projeto contratado ocorreu em 2023. Na ocasião, uma empresa mineradora australiana procurou o CT para desenvolver uma rota hidrometalúrgica para concentração de elementos terras raras.

“O CT Mineral possui atualmente dois laboratórios de hidrometalurgia em que fazemos esses processos de separação desses elementos terras raras, que são minerais críticos e estratégicos. De lá para cá já estamos no terceiro projeto com a terceira empresa com a mesma linha de pesquisa. A demanda só tende a crescer”, explica.

Além disso, há uma perspectiva de um projeto em parceria com o Consórcio Nordeste para desenvolver uma grande pesquisa com o intuito de viabilizar estudos na Província Pegmatítica da Borborema, localizada entre o RN e a Paraíba, para levantamento do potencial da região em relação aos minerais críticos. A ideia é captar recursos da ordem de R$ 40 milhões, sendo metade para cada estado.

O Consórcio Nordeste chegou a informar que este é o primeiro programa pensado para o desenvolvimento das rotas tecnológicas para transformação desses minerais na região, com previsão de publicação de editais ou chamadas para aprovação dos projetos ainda em 2025.

As terras raras formam um grupo de 17 componentes químicos encontrados na natureza, podendo ser encontrados geralmente misturados a outros minérios e com extração e separação complexa. Segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos, o Brasil possui a segunda maior reserva do mundo, com 21 milhões de toneladas.

Esses minérios podem ser utilizados, por exemplo, em turbinas eólicas, motores de carros elétricos, chips de computadores e celulares, baterias, satélites, foguetes, mísseis, entre outros. Nos últimos meses, em meio ao tarifaço anunciado pelo governo dos Estados Unidos ao Brasil, os minerais críticos e estratégicos despertaram o interesse do presidente norte-americano, Donald Trump, virando alvo de negociações entre os dois países para a extinção das tarifas impostas.

Localizado em Currais Novos, o CT Mineral foi inaugurado em 2019. O polo executa projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PDGI) em parceria com empresas industriais das áreas geológica, mineral e metalúrgica. Desde a inauguração, o CT vem se destacando não apenas como um ponto de apoio para o IFRN, mas também como um parceiro estratégico para empresas e instituições que atuam na mineração.

“Submetemos uma proposta, mostramos nosso potencial de infraestrutura, equipe de pesquisa e fomos credenciados. E desde então estamos desenvolvendo inovação para o setor de inovação. Temos projetos contratados. Estamos em três eixos: prestação de serviços tecnológicos, desenvolvimento de pesquisa e inovação e oferta de pequenas capacitações e cursos específicos”, explica. Um dos cursos ofertados foi para a Aura Minerals, que explora ouro em Currais Novos. Por meio da parceria, os operadores da planta de beneficiamento foram formados no CT Mineral.

Beneficiamento é desafio no setor de calcário

Tendo uma produção bruta de 25,8 milhões de toneladas nos últimos 14 anos, o calcário é um dos minerais mais explorados no Rio Grande do Norte, mas com desafios a serem superados pelo setor. Segundo avaliação do presidente Sindicato das Indústrias de Extração de Calcário, Fabricação de Cimento, Cal e de Argamassa do Estado do Rio Grande do Norte (Sinecim-RN), Marcelo Rosado, o beneficiamento e agregação de valor do produto são pontos a serem superados. A solução, segundo ele, passa pela disponibilização linhas de crédito e pelo apoio ao industriário por parte do Governo Federal.

“Temos uma abundância de reservas naturais de calcário muito boa comparada com o restante do Brasil. Temos duas fábricas de cimento, que tem o calcário como matéria-prima, mas o desafio maior é como agregar valor a esse calcário. Para se fazer isso, precisa-se de equipamentos e investimentos mais caros para trabalhar a granulometria do moinho. Quanto mais fino esse calcário quando se for vender, mais se agrega valor. E, para conseguir fazer isso, precisa-se de recursos a juros subsidiados, que você consiga melhorar o valor do que está sendo comercializado”, explica.

Ainda segundo Marcelo Rosado, também são necessárias pesquisas para se aproveitar as especificidades do calcário, com composições químicas diferentes. “O calcário você usa do creme dental a material alimentício, material de construção, indústria química, é um material versátil. Mas para isso precisa-se de pesquisas para saber a composição e equipamentos para se fazer beneficiamento. Nisso, conseguiríamos agregar valor a esse produto e, dessa forma, gerar empregos e trazer prosperidade para as regiões”, cita.

O calcário extraído no Rio Grande do Norte, segundo Rosado, vai para indústrias e fábricas de cimento no estado, e o material é consumido de maneira interna pela indústria da construção civil. Com o beneficiamento, que já ocorre em algumas empresas, mas ainda numa pequena proporção, o valor agregado poderia ser maior para as empresas exploradoras do mineral.

Empresa quer exportar ferro do RN

Com estudos iniciados há mais de 12 anos e uma série de pesquisas desenvolvidas no Rio Grande do Norte, a empresa indiana Fomento trabalha com a perspectiva de iniciar a viabilização de uma mina para extração de ferro pellet feed no segundo semestre de 2026. A informação é do gerente geral do projeto Ferro Potiguar e representante da Fomento no Brasil, Rodrigo Bezerra Coelho Santos. O projeto já atinge um Capex de US$ 434 milhões, equivalente a R$ 2,6 bilhões na cotação atual.

“Estamos aguardando a Licença Prévia do Idema que deve sair no início de novembro. Tendo a LP, temos a intenção de começar as construções da mina no segundo semestre de 2026”, explica o representante da empresa no Brasil. A empresa também negocia desapropriações e compra de terras junto ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

A perspectiva da empresa é fazer uma extração de 2 milhões de toneladas anuais durante um período de até 16 anos. O minério foi encontrado nas proximidades da microrregião Borborema Potiguar, entre as cidades de Serra Caiada, Sítio Novo, Senador Elói de Souza e Lagoa de Velhos. As pesquisas começaram em 2014 e o projeto aguarda conclusões na fase de Licença Prévia (LP) ainda para 2025.

Sendo a grande aposta da empresa no mundo, o pellet feed encontrado no RN é um minério de ferro considerado diferenciado e conhecido como “minério verde”, sendo mais fino, mais rico e com baixos níveis de impurezas. O pellet feed é considerado uma matéria-prima promissora para a descarbonização do setor de siderurgia. Após o ferro ser processado, a expectativa da empresa é de que o grau de teor de beneficiamento atinja 66,7%.

Segundo divulgações recentes da Fomento do Brasil, a perspectiva é gerar de 4.500 empregos diretos e indiretos entre a fase de obras e operação. A empresa estima ainda que o projeto vai gerar milhões em impostos, sendo R$ 750 milhões para a União, R$ 400 milhões para o Estado e R$ 350 milhões para os municípios. Para escoar o ferro ao longo de até 16 anos, a empresa aposta num diagnóstico feito pela própria companhia, que aponta que o Porto de Natal, após readequações, pode auxiliar no escoamento para a Europa.


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