Ícaro Carvalho
Repórter
Considerados uma das novas fronteiras da exploração
mineral no Brasil, as terras raras e os minerais críticos e estratégicos já se
consolidam como realidade no Rio Grande do Norte em duas vertentes:
desenvolvimento de pesquisas para empresas de fora do país e atração de players
interessados em minerais existentes no RN, como lítio, tântalo, nióbio e
tungstênio. Neste último caso, o estado é pioneiro na extração de scheelita,
principal fonte do tungstênio. O Centro de Tecnologia Mineral do Instituto
Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), em Currais Novos, tem desenvolvido
iniciativas nessa área e busca recursos para ampliar as ações.
Segundo Elias Nunes, diretor de Planejamento e
Negócios do CT Mineral, apesar de estar vinculado ao IFRN, o espaço não trabalha
necessariamente como uma escola, mas sim como uma empresa desenvolvendo
serviços tecnológicos na área de mineração. Em 2022, o CT foi credenciado pela
Empresa Brasileira de Pesquisa Industrial (Embrapi) para desenvolvimento de
inovação tecnológica para o setor de indústria. O primeiro projeto contratado
ocorreu em 2023. Na ocasião, uma empresa mineradora australiana procurou o CT
para desenvolver uma rota hidrometalúrgica para concentração de elementos
terras raras.
“O CT Mineral possui atualmente dois laboratórios de
hidrometalurgia em que fazemos esses processos de separação desses elementos
terras raras, que são minerais críticos e estratégicos. De lá para cá já
estamos no terceiro projeto com a terceira empresa com a mesma linha de
pesquisa. A demanda só tende a crescer”, explica.
Além disso, há uma perspectiva de um projeto em
parceria com o Consórcio Nordeste para desenvolver uma grande pesquisa com o
intuito de viabilizar estudos na Província Pegmatítica da Borborema, localizada
entre o RN e a Paraíba, para levantamento do potencial da região em relação aos
minerais críticos. A ideia é captar recursos da ordem de R$ 40 milhões, sendo
metade para cada estado.
O Consórcio Nordeste chegou a informar que este é o
primeiro programa pensado para o desenvolvimento das rotas tecnológicas para
transformação desses minerais na região, com previsão de publicação de editais
ou chamadas para aprovação dos projetos ainda em 2025.
As terras raras formam um grupo de 17 componentes
químicos encontrados na natureza, podendo ser encontrados geralmente misturados
a outros minérios e com extração e separação complexa. Segundo o Serviço
Geológico dos Estados Unidos, o Brasil possui a segunda maior reserva do mundo,
com 21 milhões de toneladas.
Esses minérios podem ser utilizados, por exemplo, em
turbinas eólicas, motores de carros elétricos, chips de computadores e
celulares, baterias, satélites, foguetes, mísseis, entre outros. Nos últimos
meses, em meio ao tarifaço anunciado pelo governo dos Estados Unidos ao Brasil,
os minerais críticos e estratégicos despertaram o interesse do presidente
norte-americano, Donald Trump, virando alvo de negociações entre os dois países
para a extinção das tarifas impostas.
Localizado em Currais Novos, o CT Mineral foi
inaugurado em 2019. O polo executa projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e
Inovação (PDGI) em parceria com empresas industriais das áreas geológica,
mineral e metalúrgica. Desde a inauguração, o CT vem se destacando não apenas
como um ponto de apoio para o IFRN, mas também como um parceiro estratégico
para empresas e instituições que atuam na mineração.
“Submetemos uma proposta, mostramos nosso potencial
de infraestrutura, equipe de pesquisa e fomos credenciados. E desde então
estamos desenvolvendo inovação para o setor de inovação. Temos projetos
contratados. Estamos em três eixos: prestação de serviços tecnológicos,
desenvolvimento de pesquisa e inovação e oferta de pequenas capacitações e
cursos específicos”, explica. Um dos cursos ofertados foi para a Aura Minerals,
que explora ouro em Currais Novos. Por meio da parceria, os operadores da
planta de beneficiamento foram formados no CT Mineral.
Beneficiamento é desafio no setor de
calcário
Tendo uma produção bruta de 25,8 milhões de
toneladas nos últimos 14 anos, o calcário é um dos minerais mais explorados no
Rio Grande do Norte, mas com desafios a serem superados pelo setor. Segundo
avaliação do presidente Sindicato das Indústrias de Extração de Calcário,
Fabricação de Cimento, Cal e de Argamassa do Estado do Rio Grande do Norte
(Sinecim-RN), Marcelo Rosado, o beneficiamento e agregação de valor do produto
são pontos a serem superados. A solução, segundo ele, passa pela
disponibilização linhas de crédito e pelo apoio ao industriário por parte do
Governo Federal.
“Temos uma abundância de reservas naturais de
calcário muito boa comparada com o restante do Brasil. Temos duas fábricas de
cimento, que tem o calcário como matéria-prima, mas o desafio maior é como
agregar valor a esse calcário. Para se fazer isso, precisa-se de equipamentos e
investimentos mais caros para trabalhar a granulometria do moinho. Quanto mais
fino esse calcário quando se for vender, mais se agrega valor. E, para
conseguir fazer isso, precisa-se de recursos a juros subsidiados, que você
consiga melhorar o valor do que está sendo comercializado”, explica.
Ainda segundo Marcelo Rosado, também são necessárias
pesquisas para se aproveitar as especificidades do calcário, com composições
químicas diferentes. “O calcário você usa do creme dental a material alimentício,
material de construção, indústria química, é um material versátil. Mas para
isso precisa-se de pesquisas para saber a composição e equipamentos para se
fazer beneficiamento. Nisso, conseguiríamos agregar valor a esse produto e,
dessa forma, gerar empregos e trazer prosperidade para as regiões”, cita.
O calcário extraído no Rio Grande do Norte, segundo
Rosado, vai para indústrias e fábricas de cimento no estado, e o material é
consumido de maneira interna pela indústria da construção civil. Com o beneficiamento,
que já ocorre em algumas empresas, mas ainda numa pequena proporção, o valor
agregado poderia ser maior para as empresas exploradoras do mineral.
Empresa quer exportar ferro do RN
Com estudos iniciados há mais de 12 anos e uma série
de pesquisas desenvolvidas no Rio Grande do Norte, a empresa indiana Fomento
trabalha com a perspectiva de iniciar a viabilização de uma mina para extração
de ferro pellet feed no segundo semestre de 2026. A informação é do gerente
geral do projeto Ferro Potiguar e representante da Fomento no Brasil, Rodrigo
Bezerra Coelho Santos. O projeto já atinge um Capex de US$ 434 milhões,
equivalente a R$ 2,6 bilhões na cotação atual.
“Estamos aguardando a Licença Prévia do Idema que
deve sair no início de novembro. Tendo a LP, temos a intenção de começar as
construções da mina no segundo semestre de 2026”, explica o representante da
empresa no Brasil. A empresa também negocia desapropriações e compra de terras
junto ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
A perspectiva da empresa é fazer uma extração de 2
milhões de toneladas anuais durante um período de até 16 anos. O minério foi
encontrado nas proximidades da microrregião Borborema Potiguar, entre as
cidades de Serra Caiada, Sítio Novo, Senador Elói de Souza e Lagoa de Velhos.
As pesquisas começaram em 2014 e o projeto aguarda conclusões na fase de
Licença Prévia (LP) ainda para 2025.
Sendo a grande aposta da empresa no mundo, o pellet
feed encontrado no RN é um minério de ferro considerado diferenciado e
conhecido como “minério verde”, sendo mais fino, mais rico e com baixos níveis
de impurezas. O pellet feed é considerado uma matéria-prima promissora para a
descarbonização do setor de siderurgia. Após o ferro ser processado, a
expectativa da empresa é de que o grau de teor de beneficiamento atinja 66,7%.
Segundo divulgações recentes da Fomento do Brasil, a
perspectiva é gerar de 4.500 empregos diretos e indiretos entre a fase de obras
e operação. A empresa estima ainda que o projeto vai gerar milhões em impostos,
sendo R$ 750 milhões para a União, R$ 400 milhões para o Estado e R$ 350
milhões para os municípios. Para escoar o ferro ao longo de até 16 anos, a
empresa aposta num diagnóstico feito pela própria companhia, que aponta que o
Porto de Natal, após readequações, pode auxiliar no escoamento para a Europa.
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