quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Mineração do RN gera 10 mil empregos diretos e movimenta a economia

 


Ícaro Carvalho
Repórter

Engenheiros de minas, geólogos, técnicos em mineração, seguranças do trabalho, mineradores, maquinistas, soldadores, entre outros. Setor em expansão no Rio Grande do Norte, o segmento de mineração gera pelo menos 10 mil empregos diretos e movimenta toda uma cadeia econômica e de prestação de serviços no estado. Os dados são da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do RN (Sedec-RN) e do Sindiminerais-RN. No interior do estado, empresas novas e tradicionais do ramo contratam mão de obra, ao passo que o ecossistema amplia a profissionalização com ações, cursos e pesquisas.

Um dos beneficiados com a exploração mineral no Rio Grande do Norte é o engenheiro de minas Brunno Andrade, 33 anos. Natural de Currais Novos, ele conta que sempre teve encantamento com a produção mineral na cidade com as extrações de scheelita na Mineração Tomaz Salustino, uma das empresas do ramo mais tradicionais do estado e do Brasil. Na empresa, são gerados cerca de 150 empregos diretos. Após se formar em Mineração no IFRN e ser aprovado no curso de Engenharia de Minas na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Brunno ingressou na Mina Brejuí como estagiário e ascendeu ao cargo que ocupa hoje, sendo responsável técnico da empresa e coordenador das atividades de lavra e beneficiamento de scheelita.

“Sou nascido e criado em Currais Novos. Fiz o técnico em Mineração em Natal e na época tinha o estágio obrigatório. Quando vim estagiar na Tomaz Salustino eu tinha 21 anos e me encantei pela primeira vez quando fui no subsolo com a minera-light. Vi a scheelita em sua fluorescência e a partir dali vi que era o que eu queria para a vida”, lembra o engenheiro de minas.

“No final do estágio passei para a UFCG. A empresa me deu oportunidade, pagou uma bolsa para me auxiliar como estudante. Me formei em 2019 e fui admitido no quadro da empresa. Estou satisfeito com minha escolha. Tenho um sentimento de orgulho de fazer parte da Mineração Tomaz Salustino, sendo uma porção dessa história de 82 anos”, explica o curraisnovense, que se orgulha de trabalhar numa empresa “perto de casa” e na área que sempre sonhou.

Em cidades como Parelhas, a empregabilidade beneficia jovens recém-formados em cursos técnicos do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), que oferece o curso de Mineração tanto no município do Seridó quanto no campus Natal-Central.

A jovem Valdéria Lima, de 21 anos, conquistou rapidamente um trabalho na Armil Mineração/Casa Grande Mineração (CGM), que juntas empregam cerca de 500 pessoas diretamente. Ela entrou na empresa como técnica, mas rapidamente alcançou o cargo de fiurista, operando uma máquina que corta as rochas ornamentais da empresa.

“Quando entrei no curso de Mineração, não tinha tanto interesse. Após aprofundar, visitarmos as minas, comecei a me interessar mais. Quando terminei o curso, pedi uma oportunidade de trabalho ao meu professor. Queria fazer Engenharia de Minas. A primeira que apareceu era na Angola, mas não tive coragem de ir. Passaram-se alguns meses e apareceu uma chance aqui na empresa. Deu certo. Passei 8 meses e ganhei a classificação de operadora de máquina de fio diamantado com um ano e agora estou nessa função. Entrei como técnica”, explica.

O presidente do Sindicato da Indústria da Extração de Metais Básicos e Minerais Não-Metálicos do RN (Sindiminerais-RN), Mário Tavares, aponta que a pujança do setor no estado gera empregos em diferentes áreas. “A expectativa é de que esse número cresça com a chegada da Aura com a exploração de ouro”, explica.

“As pesquisas apontam que cada emprego na mineração gera outros cinco. Ou seja, se olharmos indiretamente geramos 2.500 empregos”, exemplifica o sócio-proprietário da Armil Mineração, João Leal Eulálio.

Parceria amplia produção de caulim em Equador

Um projeto inovador, fruto de uma parceria entre a iniciativa privada e uma cooperativa de trabalhadores em Equador, a 220km de Natal, tem modificado a realidade de mineradores e propiciado oportunidades de emprego e renda. No projeto, mineradores e beneficiadores trabalham juntos num sistema de “ganha-ganha” para extração, beneficiamento e venda de minério de caulim. A extração faz parte de um Arranjo Produtivo Local de Base Mineral (APL). O caulim é utilizado na fabricação de cerâmica, papel, refratários e borrachas, por exemplo. O projeto conta com apoio do Ministério de Ciência e Tecnologia e Inovação (MCTI) em parceria com a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).

Na prática, a Cooperativa dos Trabalhadores de Minério e Agricultura do Equador e Seridó (COOTMAES) é detentora dos títulos minerários, mas não possui maquinário para extração, tampouco infraestrutura para beneficiamento, que é fornecida pela Associação dos Produtores de Caulim e Minérios de Equador (APCE). Com a parceria, há um valor agregado para os mineradores. O beneficiamento do caulim aproveita pilhas de resíduos de minérios como quartzo, feldspato e tantalita, por exemplo.

Nesse sentido, em 2008 foi criada a Cooperativa dos Trabalhadores de Minério e Agricultura do Equador e Seridó (COOTMAES), com intuito de organizar e legalizar a extração. Em 2022, surgiu a Associação dos Produtores de Caulim e Minérios de Equador (APCE), com 11 empresas associadas.

“A extração é de que forma? A cooperativa é detentora das áreas e das frentes de lavras. Temos os equipamentos, fazemos uma parceria entre a gente, numa negociação em que extraímos esse material na área da cooperativa. Esse acerto do maquinário é feito com pagamento do material e é feito esse cálculo entre a gente”, explica o presidente da APCE, Anchieta Filho. “É um associativismo e o cooperativismo trabalhando em ação”, acrescenta.

“A cooperativa foi fundada com esse objetivo: o garimpeiro e o empresário se unirem na extração e no beneficiamento. Estamos conseguindo isso agora, depois da fundação da associação, e essa é a parceria real do cooperado com a empresa”, explica Clemente Alves, presidente da COOTMAES, vinculada à OCERN. “Eles ficam com um produto e nós ficamos com outro”, acrescenta.

As operações minerais na região, conhecida como Província Pegmatítica da Borborema/Seridó e situada entre os estados do RN e da Paraíba, remontam a década de 1980. Segundo explica o professor Antônio Pedro Ferreira Sousa, da UFCG, a extração até poucos anos atrás ocorria de maneira inadequada e, em alguns casos, ilegal. Ele explica que o projeto surgiu dentro do contexto de formalização de APLs no Ministério de Minas e Energia, em 2005. “Desde 2008 estamos persistindo e só agora obtivemos resultados significativos nessa união entre eles. É o termo chave do APL: a união entre todos os atores sociais envolvidos”, completa.

“O projeto começou com o intuito de formalizarmos a profissão mineral. Aqui é formalização, para trabalhar legalizado. Temos uma informalidade grande no Brasil de micro e pequenos empreendimentos. Os pequenos produtores se juntaram e começaram a se formalizar. Hoje eles têm 10 títulos minerários, sendo quatro já com licença ambiental e mais recentemente conseguiram inserir o caulim no regime de permissão de lavra garimpeira, que antigamente não era permitido”, conta. Essa adição, na prática, significa permitir aproveitar o caulim comercialmente, segundo o professor.

“Quando nos reunimos, dos 11 mineradores apenas cinco eram legalizados no empreendimento. Hoje temos 100% de legalização na ANM, Idema, funcionários fichados, material com origem de legalidade. Tirou essa informalidade que existia”, acrescenta o presidente da APCE, Anchieta Filho.

O projeto incluiu ainda ações sociais e de beneficiamento ambiental, como a viabilização da sede onde funcionava o antigo lixão da cidade de Equador, dando dignidade a um bairro até então marginalizado e repleto de sujeira. O lixão foi efetivamente erradicado. Intitulado projeto Focus, o antigo lixão virou um bosque com produção de viveiro de mudas e ações sociais, como prática de esportes, pesquisas e aulas de campo, por exemplo.

 




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