Ícaro Carvalho
Repórter
Engenheiros de minas, geólogos, técnicos em
mineração, seguranças do trabalho, mineradores, maquinistas, soldadores, entre
outros. Setor em expansão no Rio Grande do Norte, o segmento de mineração gera
pelo menos 10 mil empregos diretos e movimenta toda uma cadeia econômica e de
prestação de serviços no estado. Os dados são da Secretaria de Desenvolvimento
Econômico do RN (Sedec-RN) e do Sindiminerais-RN. No interior do estado,
empresas novas e tradicionais do ramo contratam mão de obra, ao passo que o
ecossistema amplia a profissionalização com ações, cursos e pesquisas.
Um dos beneficiados com a exploração mineral no Rio
Grande do Norte é o engenheiro de minas Brunno Andrade, 33 anos. Natural de
Currais Novos, ele conta que sempre teve encantamento com a produção mineral na
cidade com as extrações de scheelita na Mineração Tomaz Salustino, uma das
empresas do ramo mais tradicionais do estado e do Brasil. Na empresa, são
gerados cerca de 150 empregos diretos. Após se formar em Mineração no IFRN e
ser aprovado no curso de Engenharia de Minas na Universidade Federal de Campina
Grande (UFCG), Brunno ingressou na Mina Brejuí como estagiário e ascendeu ao
cargo que ocupa hoje, sendo responsável técnico da empresa e coordenador das
atividades de lavra e beneficiamento de scheelita.
“Sou nascido e criado em Currais Novos. Fiz o
técnico em Mineração em Natal e na época tinha o estágio obrigatório. Quando
vim estagiar na Tomaz Salustino eu tinha 21 anos e me encantei pela primeira
vez quando fui no subsolo com a minera-light. Vi a scheelita em sua
fluorescência e a partir dali vi que era o que eu queria para a vida”, lembra o
engenheiro de minas.
“No final do estágio passei para a UFCG. A empresa
me deu oportunidade, pagou uma bolsa para me auxiliar como estudante. Me formei
em 2019 e fui admitido no quadro da empresa. Estou satisfeito com minha
escolha. Tenho um sentimento de orgulho de fazer parte da Mineração Tomaz
Salustino, sendo uma porção dessa história de 82 anos”, explica o
curraisnovense, que se orgulha de trabalhar numa empresa “perto de casa” e na
área que sempre sonhou.
Em cidades como Parelhas, a empregabilidade beneficia
jovens recém-formados em cursos técnicos do Instituto Federal do Rio Grande do
Norte (IFRN), que oferece o curso de Mineração tanto no município do Seridó
quanto no campus Natal-Central.
A jovem Valdéria Lima, de 21 anos, conquistou
rapidamente um trabalho na Armil Mineração/Casa Grande Mineração (CGM), que
juntas empregam cerca de 500 pessoas diretamente. Ela entrou na empresa como
técnica, mas rapidamente alcançou o cargo de fiurista, operando uma máquina que
corta as rochas ornamentais da empresa.
“Quando entrei no curso de Mineração, não tinha
tanto interesse. Após aprofundar, visitarmos as minas, comecei a me interessar
mais. Quando terminei o curso, pedi uma oportunidade de trabalho ao meu
professor. Queria fazer Engenharia de Minas. A primeira que apareceu era na
Angola, mas não tive coragem de ir. Passaram-se alguns meses e apareceu uma
chance aqui na empresa. Deu certo. Passei 8 meses e ganhei a classificação de
operadora de máquina de fio diamantado com um ano e agora estou nessa função.
Entrei como técnica”, explica.
O presidente do Sindicato da Indústria da Extração
de Metais Básicos e Minerais Não-Metálicos do RN (Sindiminerais-RN), Mário
Tavares, aponta que a pujança do setor no estado gera empregos em diferentes
áreas. “A expectativa é de que esse número cresça com a chegada da Aura com a
exploração de ouro”, explica.
“As pesquisas apontam que cada emprego na mineração
gera outros cinco. Ou seja, se olharmos indiretamente geramos 2.500 empregos”,
exemplifica o sócio-proprietário da Armil Mineração, João Leal Eulálio.
Parceria amplia produção de caulim em
Equador
Um projeto inovador, fruto de uma parceria entre a
iniciativa privada e uma cooperativa de trabalhadores em Equador, a 220km de
Natal, tem modificado a realidade de mineradores e propiciado oportunidades de
emprego e renda. No projeto, mineradores e beneficiadores trabalham juntos num
sistema de “ganha-ganha” para extração, beneficiamento e venda de minério de
caulim. A extração faz parte de um Arranjo Produtivo Local de Base Mineral
(APL). O caulim é utilizado na fabricação de cerâmica, papel, refratários e
borrachas, por exemplo. O projeto conta com apoio do Ministério de Ciência e
Tecnologia e Inovação (MCTI) em parceria com a Universidade Federal de Campina
Grande (UFCG).
Na prática, a Cooperativa dos Trabalhadores de
Minério e Agricultura do Equador e Seridó (COOTMAES) é detentora dos títulos
minerários, mas não possui maquinário para extração, tampouco infraestrutura
para beneficiamento, que é fornecida pela Associação dos Produtores de Caulim e
Minérios de Equador (APCE). Com a parceria, há um valor agregado para os
mineradores. O beneficiamento do caulim aproveita pilhas de resíduos de
minérios como quartzo, feldspato e tantalita, por exemplo.
Nesse sentido, em 2008 foi criada a Cooperativa dos
Trabalhadores de Minério e Agricultura do Equador e Seridó (COOTMAES), com
intuito de organizar e legalizar a extração. Em 2022, surgiu a Associação dos
Produtores de Caulim e Minérios de Equador (APCE), com 11 empresas associadas.
“A extração é de que forma? A cooperativa é
detentora das áreas e das frentes de lavras. Temos os equipamentos, fazemos uma
parceria entre a gente, numa negociação em que extraímos esse material na área
da cooperativa. Esse acerto do maquinário é feito com pagamento do material e é
feito esse cálculo entre a gente”, explica o presidente da APCE, Anchieta
Filho. “É um associativismo e o cooperativismo trabalhando em ação”,
acrescenta.
“A cooperativa foi fundada com esse objetivo: o
garimpeiro e o empresário se unirem na extração e no beneficiamento. Estamos
conseguindo isso agora, depois da fundação da associação, e essa é a parceria
real do cooperado com a empresa”, explica Clemente Alves, presidente da
COOTMAES, vinculada à OCERN. “Eles ficam com um produto e nós ficamos com
outro”, acrescenta.
As operações minerais na região, conhecida como
Província Pegmatítica da Borborema/Seridó e situada entre os estados do RN e da
Paraíba, remontam a década de 1980. Segundo explica o professor Antônio Pedro
Ferreira Sousa, da UFCG, a extração até poucos anos atrás ocorria de maneira
inadequada e, em alguns casos, ilegal. Ele explica que o projeto surgiu dentro
do contexto de formalização de APLs no Ministério de Minas e Energia, em 2005.
“Desde 2008 estamos persistindo e só agora obtivemos resultados significativos
nessa união entre eles. É o termo chave do APL: a união entre todos os atores
sociais envolvidos”, completa.
“O projeto começou com o intuito de formalizarmos a
profissão mineral. Aqui é formalização, para trabalhar legalizado. Temos uma
informalidade grande no Brasil de micro e pequenos empreendimentos. Os pequenos
produtores se juntaram e começaram a se formalizar. Hoje eles têm 10 títulos
minerários, sendo quatro já com licença ambiental e mais recentemente
conseguiram inserir o caulim no regime de permissão de lavra garimpeira, que
antigamente não era permitido”, conta. Essa adição, na prática, significa
permitir aproveitar o caulim comercialmente, segundo o professor.
“Quando nos reunimos, dos 11 mineradores apenas
cinco eram legalizados no empreendimento. Hoje temos 100% de legalização na
ANM, Idema, funcionários fichados, material com origem de legalidade. Tirou
essa informalidade que existia”, acrescenta o presidente da APCE, Anchieta
Filho.
O projeto incluiu ainda ações sociais e de
beneficiamento ambiental, como a viabilização da sede onde funcionava o antigo
lixão da cidade de Equador, dando dignidade a um bairro até então marginalizado
e repleto de sujeira. O lixão foi efetivamente erradicado. Intitulado projeto
Focus, o antigo lixão virou um bosque com produção de viveiro de mudas e ações
sociais, como prática de esportes, pesquisas e aulas de campo, por exemplo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário