quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Itamaraty recomenda cautela para agenda entre Lula e Trump

 


O Itamaraty trabalha para que uma reunião entre os presidentes Lula e Donald Trump ocorra por videochamada ou telefonema nas próximas semanas. A oportunidade de diálogo entre ambos em meio à crise diplomática, detonada pelas sanções e tarifas aplicadas pelos EUA ao Brasil em razão do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro por golpe de Estado, foi revelada pelo próprio Trump durante seu discurso na aberta da Assembleia-Geral na terça-feira (23).

Segundo o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, ambos tiveram a oportunidade de se conhecer pessoalmente e combinar um possível diálogo.

“O presidente Lula sempre esteve disposto a conversar com qualquer chefe de Estado que tem interesse em discutir questões com o Brasil. Mas nesse caso isso terá de ocorrer por videoconferência ou por telefone, porque o presidente volta para o Brasil amanhã e tem uma agenda muita cheia”, disse ele à CNN Internacional. “Mas Lula está aberto a conversar e estou muito feliz que isso aconteceu.”

Vieira disse ainda que tem conversado com representantes do governo americano que o Brasil está disposto a negociar a questão das tarifas, mas sem retroceder na questão política que envolve o julgamento de Bolsonaro, que foi condenado na semana passada a 27 anos e 3 meses de prisão por golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito, organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.

Aceno a Lula

Como ocorre todos os anos, os presidentes do Brasil e dos Estados Unidos são os primeiros a discursar na abertura da Assembleia-Geral. Pela primeira vez, no entanto, Trump e Lula estiveram frente a frente.

O encontro, no entanto, foi rápido. Segundo o relato de Trump, ambos se cruzaram na antessala da assembleia, trocaram um cumprimento e combinaram de se encontrar.

“Ele me parece um homem muito bom. Ele gostou de mim, eu gostei dele. E eu só faço negócios com quem eu gosto”, disse Trump, que ressaltou ter tido uma ótima química com o petista.

Apesar do afago, no entanto, Trump também criticou o Brasil. Segundo o presidente americano, o País está “enfrentando grandes respostas a seus esforços sem precedentes de interferir nos direitos e liberdades de cidadãos americanos”. Para Trump, esse propósito contou com a ajuda de administrações anteriores dos Estados Unidos, em especial a de Joe Biden.

Minutos antes, Lula fez um discurso duro no qual criticou a pressão da Casa Branca durante o julgamento de Bolsonaro, ainda que sem citar Trump.

“Não há justificativa para as medidas unilaterais e arbitrárias contra nossas instituições e nossa economia”, disse Lula em seu discurso. “Essa ingerência em assuntos internos conta com auxílio da extrema direita e de antigas hegemonias”, criticou o petista.

O presidente também mencionou a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e disse que houve um processo “minucioso”, com amplo direito de defesa que não existe nas ditaduras.

Na véspera da fala de Lula na ONU, o governo Trump anunciou uma nova leva de sanções a autoridades do poder Executivo e do Judiciário brasileiro.

Lula calibrou seu discurso para contestar as “agressões” americanas, mas considerava cumprimentar Trump, se o encontrasse.

Cautela

Sob reserva, diplomatas brasileiros relataram que um encontro bilateral entre ambos pode ocorrer — sempre foi considerado uma possibilidade —, mas que é preciso cautela para que o brasileiro não caia na mesma armadilha em que o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, caiu em fevereiro deste ano.

Na ocasião, o ucraniano foi repreendido ao vivo por Trump, teve um almoço planejado cancelado e foi abruptamente convidado a deixar a Casa Branca.

O receio na diplomacia brasileira permanece, mesmo após o gesto de Trump na terça-feira (23).

Ainda mais porque Trump também fez, durante o discurso, críticas ao cenário político interno brasileiro — mencionou que há afrontas às liberdades no país — e sugeriu que o Brasil só irá bem se se aproximar dos Estados Unidos.

A fala do presidente americano também ocorre um dia após mais sanções serem aplicadas a autoridades brasileiras.

Bolsonarismo

Bolsonaristas minimizaram o discurso do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na terça-feira (23) na Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), em que o americano não mencionou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e fez afagos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O entorno do ex-presidente, afirma que a fala de Trump é uma estratégia para forçar Lula a ir à mesa de negociação.

Para bolsonaristas, que veem nas sanções americanas aplicadas ao Brasil uma saída para livrar Bolsonaro da condenação, Trump força Lula a negociar.

Sob reserva, aliados de Bolsonaro dizem que Trump criou um problema para Lula e que ainda ironizou dizendo que o Brasil não tem como ir longe sem os EUA. “Lamento muito dizer que o Brasil está indo mal e continuará indo mal. Eles só conseguirão se sair bem quando trabalharem conosco; sem nós, eles fracassarão, assim como outros fracassaram”, alertou.

Aliados do ex-presidente também disseram que o fato de Trump não ter mencionado Bolsonaro em sua fala faz parte de uma estratégia para forçar encontro com Lula e depois cobrar a anistia.

 

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