Impulsionados pelo apoio de artistas nas redes
sociais, movimentos sociais de esquerda vão às ruas neste domingo (21) em
protesto contra o Congresso Nacional após a votação da PEC da Blindagem e da
urgência para o projeto da anistia.
Foram convocados, às pressas, atos em ao menos 33
cidades pelo país, incluindo 22 capitais, pelas frentes Povo Sem Medo e Brasil
Popular, ligadas ao PSOL e ao PT e que reúnem movimentos como o MST (Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e o MTST (Movimento dos Trabalhadores
Sem-Teto).
“Tinha que ser agora, no calor da indignação, porque
foi de fato uma semana em que o Congresso decidiu aprovar dois dos maiores
absurdos da história do parlamento brasileiro, não daria para ficar assistindo
só pelas redes. É necessário ter o elemento rua”, disse à Folha Raimundo
Bonfim, coordenador da Central de Movimentos Populares e da Frente Brasil
Popular.
As manifestações ocorrem em meio ao constrangimento
entre os partidos após 12 deputados do PT votarem a favor da PEC da Blindagem,
que também tem sido chamada de PEC da Bandidagem por permitir ao Congresso
barrar prisões de parlamentares e processos criminais no STF (Supremo Tribunal
Federal) contra deputados e senadores.
Apesar de terem desobedecido a orientação do partido
de ir contra a proposta, os petistas que votaram a favor da PEC argumentaram
que a postura foi parte de um acordo com o presidente da Câmara, Hugo Motta
(Republicanos-PB), para tentar barrar o avanço da pauta da anistia, que tem
sido priorizada por bolsonaristas após a condenação de Jair Bolsonaro (PL) pela
suposta trama golpista. No dia seguinte à votação, a urgência para votar a
anistia foi aprovada na casa.
O grupo tem sido duramente atacado tanto em reuniões
internas do próprio PT quanto nas redes sociais. Os parlamentares do PT alegam
terem sido ludibriados.
“Fizemos um esforço intenso aqui na Câmara dos
Deputados para tentar evitar que a anistia fosse para a frente. O Centrão
rompeu o acordo e mostrou, mais uma vez, a sua face dissimulada, mentirosa e
golpista. Hoje nós perdemos, eu perdi e aprendi com vocês uma dura lição.
Estejam certos de que não me esquecerei dela”, disse Kiko Celeguim (PT-SP),
presidente estadual do PT em São Paulo.
“É lamentável que 12 deputados do PT tenham caído
num golpe do voto”, disse Raimundo Bonfim, que é filiado ao PT.
Parlamentares da sigla também se desculparam nas
redes sociais depois da repercussão negativa. Merlong Solano (PT-PI), por
exemplo, publicou uma nota de retratação pública falando em grave equívoco com
o voto favorável.
Enquanto a participação dos presidentes dos partidos
de esquerda e parlamentares são esperadas nos palanques dos atos, em especial
os de São Paulo e do Rio de Janeiro, ainda há dúvida se os deputados que
votaram a favor da anistia pretendem comparecer.
Os ministros do governo Lula (PT), pelo menos até o
momento, não confirmaram presença, em uma orientação do Palácio do Planalto
para não agravar o atrito do Executivo com o Legislativo –as convocações, assim
como em atos recentes da esquerda, têm sido feitas sob o mote de “Congresso
inimigo do povo”.
No Rio de Janeiro, o ato será às 14h no posto 5 de
Copacabana e contará com apresentações de Chico Buarque, Caetano Veloso e
Gilberto Gil, com expectativa dos organizadores de atrair um público além dos
manifestantes alinhados à esquerda.
Em São Paulo, a manifestação será em frente ao MASP,
na avenida Paulista, também às 14h. A expectativa é de ampliar o público que
foi ao 7 de setembro no Vale do Anhangabaú, que reuniu 8,8 mil pessoas, segundo
o Monitor do Debate Político do Cebrap.
Para Ana Paula Perles, coordenadora nacional do MTST
e da Frente Povo Sem Medo, o fato de não haver receio de encontrar
bolsonaristas nas ruas, como no 7 de setembro, e a possibilidade de fazer o ato
em um local mais central ajudam na possibilidade de um público maior.
Segundo Ana Paula, os atos pretendem explorar o fato
de a anistia e a PEC da Blindagem terem sido priorizadas nas votações, enquanto
o Congresso tem travado pautas de interesse da população, como o fim da escala
6×1 de trabalho, a taxação dos mais ricos e a isenção do Imposto de Renda para
quem recebe até R$ 5.000 por mês.
“Isso não foi saudável para o Congresso e só
escancarou mais uma camada de privilégios e blindagens, o que aumentou a
revolta das pessoas nas redes”.
“Enquanto no último ato [7 de setembro], a direita
levou a bandeira dos Estados Unidos para a manifestação, mostrando alinhamento
com Donald Trump e submissão a ele, o que a esquerda tem tentado é dialogar com
os temas que realmente interessam à sociedade.”
Folha de S.Paulo
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