Cláudio Oliveira
Repórter
Começou a vigorar nesta quarta-feira (6) a tarifa de 50% sobre produtos
brasileiros imposta pelo governo dos Estados Unidos. A medida teve impacto
direto sobre dois dos principais setores exportadores do Rio Grande do Norte: o
salineiro e o pesqueiro. Representantes das indústrias afirmam que as
exportações para o país norte-americano estão suspensas por tempo
indeterminado, até que haja uma solução que viabilize economicamente o envio de
produtos, sobretudo o sal marinho e o atum.
Apesar de uma lista com 694 exceções – que deixou de
fora itens como suco de laranja, celulose e aviões da Embraer – produtos como
sal, carne, café e pescados que forem embarcados a partir desta quarta (6)
passarão a ter a alíquota adicional aplicada.
O RN é responsável por 98% da produção de sal
marinho do Brasil, e os Estados Unidos eram o principal destino de
aproximadamente metade das exportações potiguares. Com o novo tarifário, o
setor considera inviável manter as negociações com o mercado norte-americano.
“Com esse tarifaço de 50%, ele vale mais como um embargo. Nós não temos
condições de continuar vendendo para os Estados Unidos enquanto esse tarifaço
permanecer”, afirmou Airton Torres, presidente do Sindicato da Indústria de
Extração do Sal do RN.
Embora as exportações de sal sejam feitas por navios
em intervalos mensais, o impacto já começou a ser sentido. “Diante do anúncio
feito no mês passado, nós não carregamos mais nada para lá já há algumas
semanas. E não temos a expectativa de chegar novos navios para receber sal que
iria para os Estados Unidos simplesmente porque o cliente não aceita pagar essa
tarifa tão alta”, explicou Torres.
Sem compradores internacionais alternativos
imediatos, a produção potiguar — cerca de 500 mil a 600 mil toneladas anuais
destinadas ao mercado americano — deve ser direcionada ao mercado interno.
“Esse sal vai ficar sobrando aqui no mercado interno. A consequência é que vai
haver uma oferta maior de sal no mercado interno”, acrescentou.
Por ora, o setor ainda não definiu uma redução na
produção e nem demissões. “Nós estamos no primeiro dia que a tarifa entrou em
vigor, então nada se faz com tanta antecedência. A indústria salineira tem hoje
mais de 4.200 pessoas trabalhando dentro das salinas e produzindo sal e será
muito ruim a indústria ter que fazer demissões”, ponderou.
As ações do setor salineiro estão concentradas em
duas frentes: pressionar o governo federal, por meio do Ministério do
Desenvolvimento, para que negocie a retirada do sal marinho brasileiro do
tarifaço, e contratar empresas especializadas nos Estados Unidos para tentar
reverter a medida junto ao governo americano. Nenhuma dessas alternativas
surtiu efeito até o momento.
No setor pesqueiro, a situação também é de
incertezas. O presidente do Sindicato da Indústria da Pesca do RN (Sindipesca),
Arimar França Filho, relata que as exportações do pescado também estão
suspensas e a maior parte da frota foi colocada em manutenção ou com
trabalhadores em férias.
“A gente parou os barcos, a maioria dos barcos está
parada fazendo manutenção”, afirmou. No primeiro dia do tarifaço, sete
embarcações estavam em alto mar, de um total de 32. O estado exporta cerca de 3
mil toneladas de atum por ano, sendo 80% destinadas ao mercado norte-americano.
“O que produzimos já enviamos para os Estados Unidos antes do tarifaço”,
declarou Arimar.
Em meses regulares, a média é de 300 toneladas
mensais. Durante o período de entressafra, como o atual, a média cai para cerca
de 200 toneladas. Com o tarifaço, a perspectiva de retomada das exportações é
nula. “Está todo mundo ainda atordoado, porque a gente tinha esperança que isso
seria revertido até a data prevista para começar”, reforçou Arimar.
Apesar do cenário adverso, ainda não houve demissões
formais. “Só foi colocado de férias”, disse o presidente do Sindipesca-RN. Uma
reunião com representantes sindicais está prevista para os próximos dias para
discutir medidas diante da paralisação.
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