Além das exportações e do faturamento das empresas
brasileiras, o tarifaço de Donald Trump também tem derrubado negócios com
interessados em fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) no País.
Parte das operações, sobretudo aquelas que tinham como objetivo tornar o Brasil
uma plataforma exportadora − algo comum na área −, tem sido suspensa, até que o
cenário se torne mais definido.
“Negócios em setores que dependem de exportação ou
de insumos importados e que estão na tarifa retaliatória estão sendo
temporariamente suspensos”, diz Isabela Xavier, sócia do escritório de
advocacia BVA. “Alguns têm voltado para serem redesenhados e, se a nova tarifa
mostrar ser insustentável erguer uma planta de exportação para o mercado
americano, provavelmente o negócio não vai se concretizar.”
Os casos se multiplicam em escritórios de advocacia
e butiques especializadas em fusões e aquisições. No BVA, um cliente europeu
negociava a compra de uma companhia brasileira da área de máquinas e
equipamentos, que vende exclusivamente ao mercado nacional. A ideia era
transformar a fábrica em polo exportador para os EUA. O negócio foi suspenso
logo que a ameaça do tarifaço foi feita, no início de julho, e se mantém nessa
situação, até que a tarifa sobre o produto fique totalmente clara.
Na Brasilpar, consultoria especializada em
transações com empresas de pequeno e médio porte, que faturam entre R$ 100
milhões e R$ 500 milhões, a situação é parecida. No primeiro semestre, a
empresa fechou quatro negócios, sendo que três tinham estrangeiros na ponta
compradora ou vendedora. Agora, pelo menos duas operações que visavam a
exportações entraram em compasso de espera.
“O Brasil estava praticamente sozinho na festa das
aquisições internacionais, já que China e Rússia entraram em rota de colisão
com os Estados Unidos”, diz Tom Waslander, sócio da Brasilpar. “Mas negócios
baseados em projetos de exportação têm sido suspensos, pelo menos
temporariamente.”
Um dos negócios na Brasilpar, no setor de autopeças,
tinha comprador norte-americano com proposta firme na mesa. Outro, tinha alguns
interessados. Ambos entraram em compasso de espera e, no primeiro caso,
Waslander acredita que só voltará às negociações no ano que vem.
Parte da Imap, rede com cerca de 500 sócios
especializados em M&A em 50 países, a Brasilpar continua vendo o Brasil com
ativos baratos e com um mercado interno de 200 milhões de consumidores
interessantíssimo para aquisições. “Há muito interesse e muitas consultas de
estrangeiros”, diz ele.
Prova disso, afirma, são os negócios fechados no
primeiro semestre. Num deles, a japonesa Shinagawa Refractories fez sua segunda
aquisição no Brasil, com a compra da empresa de serviços industriais Reframax,
por R$ 600 milhões. Já a espanhola Tiba adquiriu a empresa de logística SMX e
os fundadores da Benefício Fácil venderam a empresa para a Pluxee (antiga
Sodexo), com envolvimento dos controladores franceses.
“Temos, historicamente, de 25 a 30 mandatos sendo
negociados simultaneamente e muitos que não envolvem exportações continuam
andando”, diz ele. “O impacto em número de transações como um todo será
pequeno.”
Estadão
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