segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Tarifaço de Trump já começa a suspender operações de fusões e aquisições no Brasil; entenda

 


Além das exportações e do faturamento das empresas brasileiras, o tarifaço de Donald Trump também tem derrubado negócios com interessados em fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) no País. Parte das operações, sobretudo aquelas que tinham como objetivo tornar o Brasil uma plataforma exportadora − algo comum na área −, tem sido suspensa, até que o cenário se torne mais definido.

“Negócios em setores que dependem de exportação ou de insumos importados e que estão na tarifa retaliatória estão sendo temporariamente suspensos”, diz Isabela Xavier, sócia do escritório de advocacia BVA. “Alguns têm voltado para serem redesenhados e, se a nova tarifa mostrar ser insustentável erguer uma planta de exportação para o mercado americano, provavelmente o negócio não vai se concretizar.”

Os casos se multiplicam em escritórios de advocacia e butiques especializadas em fusões e aquisições. No BVA, um cliente europeu negociava a compra de uma companhia brasileira da área de máquinas e equipamentos, que vende exclusivamente ao mercado nacional. A ideia era transformar a fábrica em polo exportador para os EUA. O negócio foi suspenso logo que a ameaça do tarifaço foi feita, no início de julho, e se mantém nessa situação, até que a tarifa sobre o produto fique totalmente clara.

Na Brasilpar, consultoria especializada em transações com empresas de pequeno e médio porte, que faturam entre R$ 100 milhões e R$ 500 milhões, a situação é parecida. No primeiro semestre, a empresa fechou quatro negócios, sendo que três tinham estrangeiros na ponta compradora ou vendedora. Agora, pelo menos duas operações que visavam a exportações entraram em compasso de espera.

“O Brasil estava praticamente sozinho na festa das aquisições internacionais, já que China e Rússia entraram em rota de colisão com os Estados Unidos”, diz Tom Waslander, sócio da Brasilpar. “Mas negócios baseados em projetos de exportação têm sido suspensos, pelo menos temporariamente.”

Um dos negócios na Brasilpar, no setor de autopeças, tinha comprador norte-americano com proposta firme na mesa. Outro, tinha alguns interessados. Ambos entraram em compasso de espera e, no primeiro caso, Waslander acredita que só voltará às negociações no ano que vem.

Parte da Imap, rede com cerca de 500 sócios especializados em M&A em 50 países, a Brasilpar continua vendo o Brasil com ativos baratos e com um mercado interno de 200 milhões de consumidores interessantíssimo para aquisições. “Há muito interesse e muitas consultas de estrangeiros”, diz ele.

Prova disso, afirma, são os negócios fechados no primeiro semestre. Num deles, a japonesa Shinagawa Refractories fez sua segunda aquisição no Brasil, com a compra da empresa de serviços industriais Reframax, por R$ 600 milhões. Já a espanhola Tiba adquiriu a empresa de logística SMX e os fundadores da Benefício Fácil venderam a empresa para a Pluxee (antiga Sodexo), com envolvimento dos controladores franceses.

“Temos, historicamente, de 25 a 30 mandatos sendo negociados simultaneamente e muitos que não envolvem exportações continuam andando”, diz ele. “O impacto em número de transações como um todo será pequeno.”

Estadão

 

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