O Rio Grande do Norte ocupa a penúltima
posição no ranking nacional de gastos próprios em saúde e a última
posições entre os estados do Nordeste.
Os dados são do Sistema de Informações sobre
Orçamentos Públicos, do Ministério da Saúde, referentes ao mês de maio
deste ano, e foram destacados nesta terça-feira (26) pelo Ministério Público do
Rio Grande do Norte, que entrou com uma ação na Justiça visando garantir
abastecimento de hospitais estaduais no RN.
A medida, segundo o MP, busca, soluções
imediatas e urgentes para mitigar a crise de desabastecimento de insumos e
medicamentos na rede de hospitais mantida pela Secretaria Estadual de Saúde
Pública (Sesap).
A baixa aplicação de recursos, aliada a um déficit
de mais de R$ 141 milhões que deixaram de ser repassados pela Secretaria de
Fazenda para a Saúde, são apontados pelo Ministério Público como os
principais motivos para a crise de desabastecimento nos hospitais da rede
estadual.
A secretária-adjunta de Saúde, Leidiane Fernandes de
Queiroz, explicou que o aumento de leitos e a dificuldade de uma oferta maior
na rede pública causaram dificuldades em relação ao desabastecimento.
"Encaixar a despesa, o crescimento
de todo o custeio da saúde, nós abrimos muito leito de UTI, ampliamos muito as
cirurgias. A gente não pode parar esse crescimento e nem deixar que as nossas
unidades sofram com isso", disse.
Segundo o MP, a queda expressiva recursos
financeiros é causada em razão da Secretaria de Fazenda (Sefaz) contingenciar
recursos do Tesouro Estadual para o Fundo Estadual de Saúde, "o que
resultou em um déficit de recursos acumulado de mais de R$ 141 milhões entre
janeiro e até maio de 2025, considerando os valores efetivamente repassados
pela Sefaz e o montante que deveria ser repassado de acordo com o previsto na
LOA [Lei Orçamentária Anual] Saúde para o ano de 2025".
A Sefaz foi procurada pela Inter TV, mas
não respondeu à demanda até a atualização mais recente desta reportagem.
Hospitais tem falta de insumos básicos
A situação é crítica e atinge as maiores unidades de
saúde do estado, como o Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, o Hospital Santa
Catarina, o Giselda Trigueiro e o João Machado. Segundo o MP:
- No
Hospital Santa Catarina, na Zona
Norte de Natal, o estoque chegou a registrar um índice alarmante de 40% de
ausência de materiais e medicamentos em janeiro. A situação se repete em
outras unidades:
- No
Hospital Giselda Trigueiro, referência em
infectologia, também há problemas de desabastecimento.
- No
Hospital João Machado, há falta de condições
mínimas de segurança, o que já levou à uma recomendação para bloquear
leitos.
As constatações foram feitas em fiscalizações de
rotina pela Promotoria de Saúde, o que motivou o Ministério Público a acionar a
Justiça em um processo que já tramita há mais de uma década.
A promotora de Saúde, Iara Pinheiro, citou que até o
hemocentro do Estado, que historicamente não tinha problemas de
desabastecimento, recentemente apresentou.
"Nós identificamos que a situação de
desabastecimento foi se agravando, foi se espalhando, a ponto de uma unidade
que poucas vezes eu lidei com informações de desabastecimento, como o
Hemonorte, nós fizemos uma visita lá no mês de junho, e uma das principais
reclamações era desabastecimento", falou.
"O que as unidades solicitavam à
Unicat, muitas vezes tem vindo o atendimento ao pedido é muito aquém do que
precisa, mesmo as unidades mostrando que alguns itens já estavam com o estoque
zerado".
MP pede medidas urgentes
Na manifestação protocolada na 5ª Vara da Fazenda
Pública, o Ministério Público pede uma audiência urgente com representantes do
governo do Estado, secretários de Saúde e Fazenda, diretores de hospitais e da
Central de Abastecimento Farmacêutico (Unicat) para cobrar soluções imediatas.
"Buscamos o judiciário na tentativa
de alcançar uma tutela que gere ações por parte do governo para dar mais
condições a sccretaria de abastecer suas unidades", explicou a promotora
de Saúde, Iara Pinheiro.
Segundo o MP, a crise não é nova e está ligada a
dívidas de anos anteriores da Sesap, burocracia nos processos de compras do
estado e, principalmente, ao contingenciamento de recursos por parte da Sefaz.
A análise orçamentária do MP aponta uma redução
significativa nos gastos com saúde no primeiro semestre de 2025 em comparação
com o mesmo período de 2024. As despesas liquidadas tiveram um decréscimo de
67%, e as pagas caíram 68,14%.
"Nós temos reuniões frequentes. O secretário,
nossa equipe toda, tem um grupo que se reúne com o planejamento, com orçamento,
com o financeiro do governo, com o próprio Gabinete Civil. A gente já começou a
pagar alguns fornecedores", explicou a secretária-adjunta de Saúde,
Leidiane Fernandes de Queiroz.
"Nos ultimos meses a gente aportou mais de R$ 5
milhões pra os itens que eram essenciais, estamos chamando cada vez mais os
fornecedores para esse diálogo".
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