Cláudio Oliveira
Repórter
Natal, Macaíba, Parelhas, Baía Formosa, Mossoró,
Currais Novos, São Paulo do Potengi, Porto do Mangue, Touros e Macau são as dez
cidades potiguares mais impactadas pelas novas tarifas de 50% impostas pelo
governo dos Estados Unidos para produtos exportados pelo Rio Grande do Norte,
vigentes desde o último dia 6. Juntos, de janeiro a julho de 2025, os produtos
exportados por esses municípios – e que estão sendo taxados – somaram US$
37.844.898,00 em valores FOB (Free on Board), ou seja, o preço da mercadoria
incluindo custos de produção e transporte até o ponto de embarque, mas sem
frete e seguro após o embarque.
Os dados foram compilados pelo Observatório da
Indústria MAIS RN, da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (FIERN),
e são semelhantes à análise da Balança de Exportação para os Estados Unidos,
elaborada pelo Sebrae-RN. O documento enumera as dez cidades que mais venderam
para o país norte-americano. Guamaré seria o município que encabeçaria a lista,
mas os produtos que a cidade exporta (Combustíveis minerais, óleos minerais e
produtos da sua destilação; matérias betuminosas; ceras minerais) ficaram
isentos da tarifa.
Excluindo Guamaré pela razão mencionada acima, a
capital do estado é a mais impactada, com US$ 13,9 milhões em produtos de
exportação no período. Entre eles estão obras de pedra, gesso, cimento,
amianto, mica ou matérias semelhantes; móveis; mobiliário médico-cirúrgico;
colchões e almofadas; aparelhos de iluminação; anúncios luminosos; pérolas
naturais e cultivadas; pedras preciosas; metais preciosos e folheados;
bijuterias; moedas; além de vestuário e acessórios, exceto de malha.
O segmento mais afetado em Natal, no entanto, é o
pescado, com exportações de peixes, crustáceos, moluscos e outros invertebrados
aquáticos (US$ 12,4 mi de janeiro a julho de 2025). Além da capital, o pescado
também impacta a economia de Baía Formosa (US$ 4,3 milhões), Porto do Mangue
(US$ 1,1 milhão) e Touros (US$ 1 milhão), que figuram, respectivamente, como a
quarta, oitava e nona cidades mais prejudicadas. Baía Formosa também sofre com
a taxação do açúcar, caramelo e produtos de confeitaria, assim como Macaíba,
segunda cidade mais impactada (US$ 5,4 milhões) e que concentra também
exportações de preparações alimentícias diversas.
Porto do Mangue sofre os efeitos da taxação do sal,
enxofre, terras, pedras, gesso, cal e cimento, que também são produtos
principais exportados por Macau, nona cidade mais impactada (US$ 789 mil).
Esses mesmos itens contribuem para Mossoró figurar como quinta da lista (US$
3,7 milhões). A capital do Oeste ainda exporta frutas, cascas de frutos
cítricos e melões, além de gorduras e óleos animais ou vegetais, instrumentos e
aparelhos médico-cirúrgicos, obras de ferro fundido, ferro ou aço e produtos
farmacêuticos. São Paulo do Potengi compartilha parte desses produtos
exportados e se coloca na sétima posição do ranking.
Na terceira posição, Parelhas somou US$ 4,3 milhões
em exportações, com destaque para obras de pedra, gesso, cimento, amianto e
metais preciosos. Produtos semelhantes são exportados por Caicó, no Seridó
potiguar, sexta cidade na lista com US$ 1,5 milhão.
O presidente da Federação dos Municípios do RN
(Femurn), Babá Ferreira, alerta que o impacto será percebido nos repasses do
Fundo de Participação dos Municípios (FPM), uma vez que 15% desse recurso é
composto do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que estão incluídos
entre os que sofrem a taxação das exportações. “A Confederação Nacional dos
Municípios (CNM) está levantando esse impacto real para todos os municípios do
Brasil, inclusive os potiguares. Mas é muito preocupante. Já tem empresas dando
férias coletivas e há o temor que isso gere desemprego nas nossas cidades”,
disse.
Para o presidente da FIERN, Roberto Serquiz, o
impacto que as tarifas impostas pelos Estados Unidos poderão causar à economia
dos municípios potiguares é motivo de preocupação. “A redução das exportações
poderá impactar a atividade produtiva local, gerando menor arrecadação de
impostos num primeiro momento e maiores consequências econômicas, caso o quadro
perdure”, alertou.
Serquiz ressalta que é cedo para avaliar todos os
impactos. “A pauta exportadora dessas localidades é fortemente composta por
produtos como pescado, sal e açúcar, todos atualmente sujeitos ao acréscimo
tarifário de 50%. As empresas estão se movimentando, buscando alternativas,
novos mercados e novas negociações”, pontuou.
Ele explica que a FIERN e sindicatos do setor
produtivo buscam assegurar que os preços das mercadorias permaneçam
competitivos no cenário internacional, mesmo diante da imposição de tarifas
elevadas.
Além disso, a entidade trabalha em “ações voltadas
ao ganho de competitividade e redução de custos logísticos”, enquanto os
setores pesqueiro, salineiro e sucroalcooleiro “intensificam a tentativa de
abertura de novos destinos na Europa, África e Ásia, visando garantir o
escoamento da produção e ampliar a escala dos setores industriais”.
David Góis, gerente de Acesso a Mercados do
Sebrae-RN, destaca que o impacto do tarifaço é grande e difícil de mensurar.
“Além dos segmentos atingidos diretamente pelo tarifaço americano, existe toda
uma cadeia de pequenos fornecedores que faturam, prestando serviços para as
empresas do segmento do pescado e do sal, por exemplo”, comenta.
Para minimizar as perdas, ele afirma que o Sebrae-RN
tem um portfólio amplo de ações para auxiliar os clientes a diversificarem
mercados, desde a busca por novos clientes em novos mercados, até a adaptação e
criação de novos produtos para manter minimamente o faturamento e a operação.
“Na área internacional, atuamos em rede com consultores locais para ajudar o
pequeno empresário na prospecção de novos mercados, desde a inteligência até a
operação”, completa.
TAXAÇÃO DE 50%
Municípios mais impactados pelo tarifaço
norte-americano no Rio Grande do Norte
(Valor US$ FOB)
Natal US$ 13.966.467,00
Macaíba US$ 5.466.533,00
Parelhas US$ 4.396.249,00
Baía Formosa US$ 4.317.408,00
Mossoró US$ 3.785.030,00
Currais Novos US$ 1.565.372,00
São Paulo do Potengi US$ 1.370.324,00
Porto do Mangue US$ 1.147.014,00
Touros US$ 1.040.578,00
Macau US$ 789.923,00
Total: US$ 37.844.898,00
Fonte: Observatório da Indústria MAIS
RN/Fiern
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