Um novo estudo com a orforgliprona, medicamento oral
desenvolvido pela farmacêutica Eli Lilly para o tratamento da obesidade, indica
que o produto apresenta eficácia e segurança comparáveis às terapias injetáveis
já disponíveis, como o Wegovy (semaglutida). Os resultados foram divulgados
pela empresa na manhã desta quinta-feira, 7, e ainda não foram publicados em
uma revista com revisão por outros cientistas.
Chamada de ATTAIN-1, a pesquisa está na fase 3, a
última etapa antes de um possível lançamento no mercado. Ela avaliou, ao longo
de 72 semanas (aproximadamente 1 ano e 5 meses), a eficácia e a segurança da
orforgliprona em três dosagens (6 mg, 12 mg e 36 mg), em comparação com
placebo.
O estudo contou com a participação de 3.127 adultos
dos EUA, Brasil, China, Índia, Japão, Coreia, Porto Rico, Eslováquia, Espanha e
Taiwan. Os pacientes tinham obesidade ou sobrepeso associados a alguma comorbidade,
como hipertensão, colesterol alto, apneia do sono ou doença cardiovascular, mas
sem diagnóstico de diabetes.
Após as 72 semanas, todas as doses do medicamento
atingiram os desfechos esperados, em comparação com o placebo. O desfecho
primário buscava identificar se haveria redução do peso corporal em relação ao
período basal (antes de começar o tratamento). Já os desfechos secundários
buscavam identificar os participantes com perda de peso acima de 10% ou acima
de 15%.
Os resultados apontaram que a orforgliprona 36 mg
reduziu em até 12,4% o peso corporal em comparação com 0,9% do placebo. A
semaglutida (princípio ativo do Wegovy), em comparação, tem uma perda de peso
estimada de 10% a 15%.
Nos desfechos secundários, 59,6% dos participantes
que receberam a dose mais alta perderam pelo menos 10% do peso corporal,
enquanto 39,6% perderam pelo menos 15%.
Segundo a Lilly, além de ajudar na perda de peso, a
orforgliprona também melhorou alguns indicadores de saúde do coração. Nas
análises feitas com todas as doses, ela ajudou a reduzir o colesterol “ruim”,
os triglicerídeos e a pressão alta. Em uma análise específica, a dose mais alta
também diminuiu em quase 47,7% os níveis de uma proteína ligada à inflamação no
corpo, chamada hsCRP.
Todos os participantes começaram o estudo com uma
dose diária de 1 mg. A partir daí, a dose foi aumentada gradualmente a cada
quatro semanas, até atingir a dose final definida para cada grupo: 6 mg, 12 mg
ou 36 mg por dia. Para chegar a essas doses, os participantes passaram por
etapas de aumento: quem chegou a 12 mg passou pelas doses de 1 mg, 3 mg e 6 mg;
já os que chegaram a 36 mg passaram por 1 mg, 3 mg, 6 mg, 12 mg e 24 mg. A
redução da dose só era permitida em casos de efeitos gastrointestinais, e
apenas se outras tentativas de manejo não funcionassem.
Os efeitos colaterais mais frequentes foram
gastrointestinais, como acontece com outros medicamentos da mesma classe. Os
sintomas mais comuns foram náusea, constipação, diarreia, vômito e queimação no
estômago (dispepsia). Em geral, os sintomas foram leves a moderados. Algumas
pessoas pararam o tratamento por causa desses efeitos: isso aconteceu com 5,1%
(na dose de 6 mg), 7,7% (12 mg) e 10,3% (36 mg) dos pacientes. Não foram
identificados sinais de que a molécula possa causar problemas no fígado.
“Com esses dados positivos em mãos, estamos
planejando submeter a orforgliprona para avaliação regulatória até o final do
ano e preparados para um lançamento global que será capaz de atender essa
demanda urgente de saúde pública”, afirma Kenneth Custer, vice-presidente
executivo e presidente do negócio de Cardiometabolismo da Lilly, em comunicado
para a imprensa.
Clayton Macedo, diretor da Sociedade Brasileira de
Endocrinologia e Metabologia (Sbem), classifica os resultados como animadores.
“São dados robustos e mostram que essa classe de medicamentos veio para ficar.
Ela entrega perdas de peso consideráveis e tem benefícios adicionais, que vão
além da perda de peso”, diz.
“Queremos um futuro com mais acesso (a esses
medicamentos), que (eles) sejam universais para toda a população que sofre com
a obesidade, diminuindo estigmas e trazendo mais ciência”, acrescenta Macedo.
Como a orforgliprona funciona?
A orforgliprona é uma molécula sintética
desenvolvida pela farmacêutica Chugai Pharmaceutical e, desde 2018, licenciada
para a Lilly.
Assim como a liraglutida e a semaglutida, ela imita
a ação natural do GLP-1, hormônio produzido no intestino durante a alimentação
que melhora a secreção de insulina pelo pâncreas e promove a sensação de
saciedade. O GLP-1 atua no cérebro, reduzindo o apetite, e também no sistema
digestivo, ao retardar o esvaziamento do estômago.
“A orforgliprona é o primeiro agonista do GLP-1 por
via oral para o tratamento da obesidade. A gente já tem a semaglutida via oral
para o tratamento do diabetes, o Rybelsus”, destaca Macedo.
“A obesidade é um dos maiores desafios globais de
saúde do nosso tempo, impulsionando a carga de doenças crônicas em todo o mundo
e afetando mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo. Com a orforgliprona,
nós poderemos transformar o tratamento da obesidade por meio de uma terapia
oral diária que poderá apoiar na intervenção precoce e tratamento a longo prazo
da doença, enquanto ainda proporciona uma maior conveniência em comparação aos
injetáveis”, diz Custer.
Próximos passos
De acordo com a Lilly, os resultados completos do
ATTAIN-1 serão apresentados em setembro, durante a Reunião Anual da Associação
Europeia para o Estudo do Diabetes (EASD), e publicados em um periódico
científico revisado por pares.
Também neste ano devem ser divulgados os achados do
programa ACHIEVE, que investiga o uso da orforgliprona em adultos com diabetes
tipo 2.
A molécula também está sendo estudada como um
tratamento potencial para a apneia obstrutiva do sono e hipertensão em adultos
com obesidade.
Estadão Conteúdo
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