A disputa entre o Brasil e os Estados Unidos
deflagrada após o tarifaço de 50% é destaque nesta terça-feira (12) no site do
Financial Times, um dos periódicos de economia e negócios mais influentes do
mundo.
Em uma longa reportagem, o jornal britânico aponta
que os entraves abertos entre Brasília e Washington são “sem precedentes”,
alerta que a situação pode se agravar “facilmente”, e que o embate entre os
países “não mostra sinais de resolução rápida”.
“Trump demonstrou no passado a capacidade de mudar
rapidamente de rumo, de modo que nenhuma disputa com seu governo é intratável.
Mas o impasse entre os EUA e o Brasil não será fácil de resolver — e pode
facilmente se agravar”.
Ao veículo, a especialista Bruna Santos, do think
tank Diálogo Interamericano, descreve o confronto como “a pior crise em 200
anos de relações bilaterais”.
Influência política
O Financial Times atribui parte do entrave à
influência de Jair Bolsonaro (PL). O ex-presidente está sendo acusado pela
justiça brasileira de planejar um golpe de Estado após perder a eleição de
2022. Ele nega as acusações.
O jornal britânico relembra que a imposição das
tarifas extras ao Brasil, oficializadas por meio de uma carta enviada no dia 9
de julho, cita o julgamento do ex-presidente como uma “caça às bruxas” que
deveria ser “interrompida imediatamente”.
Quando o Supremo Tribunal Federal (STF) ignorou o
pedido, o republicano declarou que o país representava uma “ameaça incomum e
extraordinária” à segurança nacional dos EUA. Foi oficializada, então, a
taxação de 50% sobre todas as exportações brasileiras (revertida em partes
depois, mas ainda assim relevante).
A retaliação não parou por aí. Quando o STF impôs o
uso da tornozeleira eletrônica em Bolsonaro, Washington utilizou a Lei
Magnitsky, reservada a graves infratores de direitos humanos, para impor
sanções financeiras abrangentes ao presidente do Supremo, Alexandre de Moraes.
O que não impediu Moraes de colocar o ex-presidente
em prisão domiciliar na segunda-feira passada (4), por descumprimento de
medidas cautelares.
“Trump se identificou pessoalmente com a situação de
Bolsonaro. Lula não tem poder para interromper o julgamento, mesmo que
quisesse, e vê vantagem política interna em enfrentar Washington”, escreve o
FT.
Dos males… mais um
Trump “dedica um tempo considerável ao Brasil. E
aqui está o motivo número um: ele obviamente entende que Bolsonaro é o ‘Trump
dos Trópicos'”, disse o ex-estrategista-chefe de Trump, Steve Bannon, ao FT.
“Ele é muito próximo de Bolsonaro, mas também se trata de liberdade e
autonomia.”
Apesar disso, o Financial Times entende que a
proximidade com o ex-presidente não é o único motivo de tensão entre os dois
países.
O jornal cita as tentativas de Donald Trump de
reverter a regulamentação das empresas de mídia social americanas, alegando que
o STF emitiu centenas de “ordens de censura secretas e ilegais”. O republicano
também criticou os “déficits comerciais insustentáveis” do Brasil.
Por esta razão, Bannon afirmou ao veículo que
governo Trump “continuará a pressionar o Brasil”. “Lula está tentando desafiar
o… presidente dos EUA”, disse. “Não acho que isso vá funcionar bem para o povo
brasileiro.”
Mônica de Bolle, especialista em Brasil do Instituto
Peterson de Economia Internacional, defendeu ao jornal que Trump não está
pessoalmente envolvido com Bolsonaro. “Ele é o tipo de pessoa que não tem
compromisso com ninguém, então é muito fácil para ele”, argumentou a
especialista.
“Se ele conseguir encontrar algo que lhe permita dizer
‘negociamos com o Brasil e conseguimos o que queremos’, então tudo vai passar.”
Impactos de ambos os lados
Independentemente dos motivos pelos quais o conflito
começou, “é provável que haja algum impacto negativo no curto prazo para
ambos os lados”, afirma o jornal britânico.
Isso porque, apesar da lista de 694 exceções, alguns
setores importantes ficaram de fora das isenções. Café, carne bovina,
madeira, pescados, frutas: as tarifas, em vigor no dia 6 de agosto,
tornaram a exportação destes produtos ao país norte-americano inviáveis.
CNN Brasil
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