domingo, 17 de agosto de 2025

Correndo contra o Alzheimer: O poder da atividade física na proteção do cérebro

 


Os benefícios das atividades físicas para o cérebro são objetos constantes de estudo. Já se sabe que exercícios aeróbicos como caminhar e dançar promovem neuroplasticidade, a habilidade do cérebro de se reorganizar e formar novas conexões, ativando mecanismos neuroprotetores. Nos últimos 15 anos, o ato de pedalar se tornou um foco de pesquisa como estratégia para prevenir e combater sintomas de doenças neurodegenerativas como Parkinson e Alzheimer. Pesquisas indicam que o exercício tem o potencial de não só aliviar os sintomas, mas também modificar a progressão dessas doenças.

O status das pedaladas como ação neuroprotetora foi evidenciado em 2010, quando o neurologista holandês Bastiaan R. Bloem publicou um relato científico no qual um paciente em estágio avançado de Parkinson, que tinha sérias dificuldades para andar e sofria de congelamento de marcha, conseguia pedalar uma bicicleta sem tremores, instabilidade ou congelamento. A capacidade de pedalar, portanto, parece ser mantida mesmo em estágios avançados da doença.

O pedalar pode atuar não apenas como tratamento complementar, mas também como uma estratégia preventiva para pessoas com predisposição ao Parkinson, segundo John Fontenelle Araújo, professor do departamento de fisiologia e do programa de pós-graduação em psicobiologia da UFRN. “Há evidências epistemológicas mostrando que nos países em que a bicicleta é um dos principais meios de mobilidade urbana, a incidência de Parkinson é menor”, diz.

Em Natal, Fontenelle faz parte de uma ação de pesquisa conjunta entre o Laboratório de Neurobiologia Rítmica e Biológica (LNRB) da UFRN, e o Instituto Santos Dumond (ISD), para compreender os mecanismos que vão ajudar a criar, no futuro, orientações terapêuticas para o uso da bicicleta, contribuindo para a melhora da qualidade de vida das pessoas que sofrem da Doença de Parkinson, entre outras doenças neurodegenerativas.

A relação entre o pedalar e seus efeitos neuroprotetores, segundo o professor e pesquisador, acontece na forma como o exercício de movimentos cíclicos melhora naturalmente as condições de saúde dos praticantes. “Como todo exercício físico, o pedalar promove uma melhora da função cardiorrespiratória e isto beneficia a condição geral do paciente com doença neurodegenerativa”, completa.

Fontenelle explica que, durante o exercício de pedalar, ocorre um processo de estimulação sensorial que se origina nos membros superiores e promove uma atuação no sistema nervoso central, especialmente no cérebro, promovendo novas conexões cerebrais – e desta forma, uma neuroproteção natural. “E quando o ciclismo é realizado ao ar livre, os pacientes acabam tendo maior interação social, e isto melhora a condição de saúde de pessoas com doenças neurodegenerativas”, ressalta.

As estratégias terapêuticas envolvendo as pedaladas devem ser baseadas nas mudanças que ocorrem na atividade cerebral e na marcha após alguns minutos de exercício em uma bicicleta estacionária. Além de reduzir os sintomas do Parkinson, pedalar melhora a condição cardiorrespiratória e, para aqueles que podem se locomover de bicicleta, aumenta a autonomia e a interação social.

O professor ressalta que os exercícios de intensidade moderada já são suficientes para se obter os benefícios neuroprotetores desejados, sem diferença das atividades de intensidade alta. Mas em especial, no caso da bicicleta, há uma frequencia ideal de frequencia: “No caso do pedalar, no mínimo três vezes por semanas durante 30 minutos para cada sessão de exercício”, afirma.

Parkinson

As evidências que indicam o uso regular da bicicleta como forma de retardar ou atenuar os sintomas iniciais da Doença de Parkinson, conforme John Fontenelle, já existem e são vários. Segundo ele, o pedalar reduz agudamente os sintomas motores, em especial o tremor e a rigidez de marcha. “Pedalar também ajuda na melhoria da cognição dos pacientes, em especial a tomada de decisão e a estimativa de tempo”, explica. Há também a melhora do padrão emocional dos pacientes, e também do condicionamento físico, beneficiando a função cardiorrespiratória.

As pesquisas também envolvem a investigação da fraqueza muscular, que é comum no Parkinson e está associada à instabilidade postural e ao aumento do risco de quedas. Estudos mostram que a fraqueza e a lentidão dos movimentos nas pessoas com Parkinson estão ligadas à fisiopatologia da doença, incluindo a redução do fluxo de sinais do cérebro para os músculos.

A Doença de Parkinson é uma condição multifatorial que afeta cerca de 10 milhões de pessoas em todo o mundo. Ainda sem cura, o Parkinson compromete diversos sistemas do corpo, causando sintomas motores (como tremores e rigidez), cognitivos, psiquiátricos e distúrbios do sono. Um dos maiores desafios é o diagnóstico precoce.

Na maioria dos casos, os sintomas só aparecem quando 50% dos neurônios que produzem dopamina já foram destruídos. À medida que a doença avança, os problemas de marcha se tornam mais evidentes, com passos curtos e arrastados, e o bloqueio súbito de movimentos – o chamado “congelamento de marcha”.

O distúrbio de marcha é bastante incapacitante e os tratamentos atuais, como medicamentos e a Estimulação Cerebral Profunda, não são totalmente eficazes para essa condição. Por isso é importante a realização de novas estratégias complementares para melhorar a qualidade de vida do paciente e modificar a progressão da doença.

Segundo Fontenelle, o estímulo ao uso da bicicleta – que também é um objeto de democratização das atividades físicas – é importante porque melhora a qualidade de vida do paciente não só em relação aos sintomas e sinais do Parkinson, mas de uma forma geral. “Ao melhorar a qualidade de vida pelo ato de pedalar, estamos garantindo que este tenha um prolongamento de vida com saúde”, conclui.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Policial federal é preso após confusão em Nova Descoberta, em Natal

  Na noite do último sábado (16), uma confusão envolvendo um policial federal mobilizou a Polícia Militar no bairro de Nova Descoberta, Zona...