As obras de revitalização da Rua João Pessoa, no
coração do Centro Histórico de Natal, seguem em compasso de espera e já se tornaram
motivo de indignação para comerciantes, moradores e entidades ligadas ao bairro
da Cidade Alta. O projeto, anunciado como um marco para estimular a retomada
econômica da região, está há três anos em execução, mas sem conclusão. Além do
trecho inacabado, entre a Avenida Rio Branco e a Rua Princesa Isabel,
comerciantes relatam problemas estruturais e falhas visíveis na parte já
concluída.
A Associação Viva o Centro classificou a situação
como um retrato de abandono em uma das ruas mais tradicionais da capital
potiguar. “É triste de se ver, mas é a realidade. Há três anos nossa principal
via comercial está em obras. Esse trecho abandonado causa transtornos diários
para comerciantes, clientes e moradores da Cidade Alta”, destacou a entidade em
nota. A associação reforçou que o impacto vai além dos prejuízos imediatos: “A
Rua João Pessoa sempre foi um ponto de vida, cultura e economia de Natal, mas
hoje se encontra marcada pelo abandono. Está na hora das autoridades devolverem
dignidade a essa rua histórica e tão importante para todos nós”, diz a nota.
O comerciante Márcio Ribeiro, que mantém seu negócio
na via, relatou que a desorganização é constante. “Primeiro concluíram um lado
e o outro ainda está em andamento. Chegaram a instalar um fio novo e os postes
acendiam, mas depois parou. Agora ficam acendendo e apagando. É uma bagunça.
Não há previsão, ninguém informa nada. A última vez que vi trabalhadores foi há
dois meses”, disse. Para ele, a demora compromete a imagem do bairro: “Se você
começa uma obra para trazer melhorias e não termina, só piora. Não tem como
atrair pessoas para o Centro da cidade do jeito que está”.
Com um investimento de R$ 30 milhões, as obras foram
iniciadas em maio de 2023 e preveem a transformação da via em um espaço
prioritário para pedestres, com calçadão, alargamento de calçadas, iluminação
em LED e paisagismo. O presidente da associação, Rodrigo Vasconcelos, afirmou
que a frustração é crescente entre os lojistas. “Já são três anos nessa batalha
desde o início. O que foi feito, melhorou bastante, porém o que está pendente
está prejudicando mais do que o que está pronto. Atrelado a isso veio os
problemas com a chuva”, disse.
Até dezembro do ano passado, o trecho entre as
avenidas Princesa Isabel e Deodoro da Fonseca chegou a ser entregue. Contudo,
menos de seis meses após a inauguração, falhas começaram a aparecer: buracos,
blocos de concreto soltos e piso cedendo em vários pontos, sobretudo após o
período chuvoso.
Além do impacto econômico, há preocupação com a
segurança de quem circula na região. Francisco Ferreira, que trabalha em um
escritório de contabilidade na Rua João Pessoa, relatou problemas nos trechos
concluídos. “Se o pessoal andar pela calçada à noite, que é um pouco escuro,
pode tropeçar nos buracos. O tijolo é colocado em cima da areia, sem cimento, e
quando chove abre espaço e os blocos se soltam. É um risco para pedestres,
especialmente idosos e crianças”, afirmou.
Os comerciantes lembram que a Cidade Alta já vem
sofrendo com a saída de lojas tradicionais, como Americanas, C&A, Marisa e
Magazine Luiza, que funcionaram por décadas no bairro. A redução do fluxo de
clientes levou ao fechamento de dezenas de pequenos negócios, criando um efeito
dominó que a revitalização prometia estancar, mas que, na prática, acabou sendo
adiado.
Questionada, a Secretaria Municipal de Serviços
Urbanos (Semsur), responsável pela obra, limitou-se a informar que estão sendo
realizados “ajustes necessários das partes estrutural e elétrica do projeto em
andamento”. Em nota, a pasta afirmou ainda que “o objetivo é garantir a
qualidade e a segurança da obra” e que “cada etapa está sendo conduzida de
forma responsável e técnica, para assegurar que os serviços prossigam com
eficiência e padrão que o projeto merece”. No entanto, a secretaria não
esclareceu prazos, nem os motivos para a paralisação.
Enquanto o poder público não apresenta respostas
concretas, comerciantes e entidades temem que a demora consolide a imagem de
decadência do bairro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário