Felipe Salustino
Repórter
O Rio Grande do Norte será o quinto estado do País
mais afetado, em volume de exportações, pela taxação do governo Donald Trump,
prevista para entrar em vigor em 1º de agosto. Isso porque os Estados Unidos
responderam, no primeiro semestre deste ano, por 15,3% das vendas de produtos
potiguares ao exterior. Em valor comercializado, o RN exportou US$ 67,1 milhões
para os EUA no período, ocupando a 16ª posição no ranking brasileiro. Os dados
são do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
De acordo com o ranking das exportações para os EUA,
o Ceará pode sentir o maior impacto, levando em conta que o mercado americano
representou 51,9% das exportações daquele estado. Espírito Santo, Sergipe e São
Paulo, onde os EUA responderam, respectivamente, por 33,9%, 31,4% e 19,5% das
vendas ao exterior nos primeiros seis meses de 2025, também serão fortemente
afetados.
O economista Helder Cavalcanti avalia que os
impactos da taxação serão expressivos frente ao fato de que os itens exportados
são produtos diretamente vinculados à economia local. Além disso, ele lembra
que as exportações do Rio Grande do Norte têm apresentado sucessivos índices de
crescimento nos últimos anos. “Então, a taxação desequilibra esse momento que a
gente observa recentemente”, analisa.
De acordo com um levantamento do Observatório Mais
RN, da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (Fiern), os derivados de
petróleo foram os produtos potiguares mais exportados para o mercado americano
no primeiro semestre de 2025, com US$ 24,3 milhões em vendas. Já os peixes
frescos ou refrigerados registraram US$ 11,5 milhões em exportação para o país,
seguidos dos produtos de origem animal (US$ 10,3 milhões), pedras de cantaria
ou de construção (US$ 4,3 milhões) e produtos de confeitaria sem cacau (US$ 4,1
milhões). Os dados têm como base a plataforma Comex Stat, do MDIC.
Dentre as alternativas para fugir dos reflexos
negativos da taxação, Helder Cavalcanti defende a busca por novos mercados.
“Nós temos o BRICS [formado por países como Brasil, Rússia, Índia, China e
África do Sul] como uma pauta de reorganização da balança comercial e da
economia internacional, de onde esperamos que surjam soluções. A gente acredita
que o nosso empresariado vai amadurecer diante do surgimento de grandes players
do mercado para criar uma nova solução para as exportações”, pondera.
O setor de petróleo não será o único a ser afetado
no RN. As exportações de atum podem perder cerca de US$ 50 milhões por ano (R$
280 milhões), conforme estimativas do Sindicato de Pesca do RN (Sindipesca).
Arimar Filho, presidente sindical, disse em entrevista à TN no último dia 15
que o envio de peixe congelado aos EUA já estava paralisando por causa do
receio da taxação.
Já em valor exportado, São Paulo deverá sentir os
maiores reflexos, uma vez que o estado exportou US$ 6,4 bilhões ao mercado
americano entre janeiro e junho deste ano, seguido do Rio de Janeiro (US$ 3,2
bilhões), Minas Gerais (US$ 2,5 bilhões), Espírito Santo (US$ 1,6 bilhão) e Rio
Grande do Sul (US$ 950,4 milhões).
Petróleo terá perdas de R$ 110 mi/ano
A Associação Brasileira dos Produtores Independentes
de Petróleo e Gás (ABPIP) estima perdas anuais para as exportações de derivados
de petróleo do Rio Grande do Norte superiores a US$ 20 milhões anuais (cerca de
R$ 111 milhões). “Trata-se de um prejuízo expressivo, especialmente quando se
considera o peso dessa atividade na geração de receitas estaduais, tributos
setoriais e movimentação da cadeia produtiva local”, afirma Lucas Mota,
gerente-executivo da ABPIP.
Ele descarta a inviabilização total das vendas do
setor potiguar para os Estados Unidos, mas reconhece que o RN terá dificuldades
em manter atratividade comercial para esses produtos. “A taxação não vai
inviabilizar totalmente as exportações dos derivados de petróleo do RN, mas os
embarques se tornarão economicamente menos viáveis se a medida entrar em vigor.
Uma tarifa de 50% encarece significativamente o óleo potiguar em relação a
concorrentes globais, reduzindo sua atratividade comercial”, destaca.
Mota aposta na capacidade de adaptação da indústria
para reverter os impactos. Segundo ele, mercados como Índia, China, países do
sudeste asiático e partes da Europa já importam petróleo de características
semelhantes ao exportado por aqui. O redirecionamento de volumes, segundo ele,
dependerá de ajustes logísticos e negociações comerciais.
“Mas há espaço para reposicionamento, ainda que com
possíveis impactos sobre margens e prazos”, frisa Mota. De acordo com ele, não
existe previsão, inicialmente, de redução na produção. “A parcela exportada
para os EUA pode ser redirecionada para o mercado interno ou outros destinos
internacionais. A produção local tem flexibilidade para adaptação, e as
operadoras devem priorizar a manutenção da atividade produtiva, sobretudo em
razão da estabilidade operacional”, diz.
Mobilização dos setores em busca de
soluções
Diante do anúncio feito por Donald Trump, os
principais setores de exportação do RN têm se mobilizado para buscar soluções
para a medida, que estabelece a taxação de 50% dos produtos brasileiros
vendidos aos Estados Unidos. O secretário de Desenvolvimento Econômico do Rio
Grande do Norte, Alan Silveira, disse que o Governo do Estado vem empreendendo
esforços, como a elaboração de uma carta desenvolvida pela secretaria para
incluir o RN nas negociações sobre a taxação.
“As tratativas em plano macro são lideradas pelo
Governo Federal, mas no âmbito local o governo do estado vem empreendendo
esforços, como é o caso da carta-proposta elaborada em conjunto com as
entidades do setor e com os principais players exportadores impactados pelo
anúncio do tarifaço”, esclareceu Silveira.
A mobilização conta com entidades como a Federação das Indústrias (Fiern).
Roberto Serquiz, presidente da federação, cita que os números sobre as vendas
do mercado local para os EUA correspondem a praticamente 10% do PIB Industrial
do estado. Ele sublinha que está em constante diálogo com os setores envolvidos
nas exportações e também em interlocução com a Confederação Nacional da
Indústria (CNI).
“Paralelo a isso, os presidentes de sindicatos estão
mobilizando, na mesma proporção, seus parceiros nos Estados Unidos. Esse
diálogo junto aos parceiros está tentando criar um cenário de perspectiva, de
alguma solução que, claro, não depende dessa relação, mas que pode influenciar
nos seus respectivos países. A CNI já apresentou ao governo brasileiro o
tamanho do impacto aqui no nosso estado. A apreensão é muito grande, porque há
um peso imenso, inclusive, no que se refere a empregos”, disse Serquiz.
Balanço
Participação dos EUA nas exportações dos estados brasileiros*:
- Ceará
51,9%
- Espírito
Santo 33,9%
- Sergipe
31,4%
- São
Paulo 19,5%
- Rio
Grande do Norte 15,3%
- Rio
de Janeiro15%
- Santa
Catarina14,5%
- Maranhão
13,3%
- Paraíba
12,4%
- Minas
Gerais 11,6%
- Rio
Grande do Sul 10,2%
- Alagoas
9,1%
- Amazonas
8,7%
- Bahia
8,3%
- Amapá
7,7%
- Paraná
6,6%
- Mato
Grosso do Sul 6%
- Pará
5,2%
- Goiás
5,1%
- Rondônia
4,9%
- Pernambuco
4,5%
- Piauí
3,7%
- Distrito
Federal 3,11%
- Tocantins
2,5%
- Acre
1,3%
- Mato
Grosso 1,11%
- Roraima
0,6%
*Dados referentes ao 1º semestre de 2025
Fonte: Comex Stat (MDIC)
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