Durante séculos, sentimentos como tristeza profunda,
apatia ou desespero foram tratados como caprichos da alma, falta de fé ou
fraquezas de caráter. Foi só há cerca de 300 anos que a ciência passou a
reconhecer a depressão como uma doença real —tão legítima quanto a hipertensão
ou o diabetes. E tão perigosa quanto.
Mesmo assim, ainda há quem duvide de sua gravidade.
Mas ignorar a depressão é subestimar algo capaz de gerar incapacidade, isolar
pessoas e, nos casos mais severos, até matar. Por isso, é importante buscar
ajuda.
O que, afinal, é a depressão?
Sentir tristeza após um rompimento, um fracasso ou a
perda de alguém querido é normal —e até necessário. A depressão, no entanto, é
um visitante mais cruel e insistente. Na depressão, a tristeza é um sentimento
constante, que se manifesta pela maior parte do dia, quase diariamente, e por
um período mínimo de duas semanas.
Ela pode até se parecer com o luto, mas não vai
embora com o tempo. É como se a dor emocional, que deveria diminuir,
simplesmente travasse o cérebro em um ciclo de desesperança. Como escreveu o
jornalista norte-americano Andrew Solomon, em seu livro "O Demônio do
Meio-Dia", o oposto da depressão não é felicidade, mas vitalidade.
Os sinais do colapso
Diferentemente do diabetes, por exemplo, a depressão
não aparece em exames. O diagnóstico é feito com base nos relatos do paciente,
sua história clínica e sinais observados por profissionais de saúde. E o corpo
todo sente o impacto.
Eles podem variar de acordo com fatores como a
gravidade e a presença de condições associadas, como ansiedade, sintomas
obsessivos ou psicóticos.
Entre os comportamentais, estão:
Fadiga e baixa energia
Agitação ou lentidão motora
Isolamento social
Perda de interesse em atividades que gostava
Alterações de apetite e sono
Queda da libido
Uso abusivo de álcool ou drogas
Dificuldade de receber ou transmitir afeto
A depressão também afeta:
O humor: com tristeza persistente, apatia,
choro fácil ou irritação constante.
A autoestima: com sensação de culpa,
inutilidade ou vazio.
A cognição: gerando dificuldade de
concentração, raciocínio lento e memória falha.
O pensamento: com pessimismo, visão distorcida
da realidade, pensamentos de morte e, em casos graves, ideias suicidas.
O corpo: com dores sem causa aparente,
distúrbios digestivos como gastrite e queda na imunidade.
Como tratar
O tratamento da depressão exige uma abordagem
multifacetada. Cada caso é único, e a combinação ideal de terapias pode variar
bastante.
1. Medicamentos
Os antidepressivos agem sobre neurotransmissores como serotonina, noradrenalina e dopamina. Há várias classes: dos mais antigos, como os tricíclicos e os IMAOs (inibidores da monoaminoxidase), aos mais modernos, como os ISRSs (inibidores seletivos da recaptação de serotonina - como fluoxetina, sertralina) e os inibidores duais, que envolvem outros neurotransmissores (venlafaxina, bupropiona).
Geralmente, levam de uma a quatro semanas para fazer
efeito. E cerca de 30% das pessoas não respondem bem logo de início, o que
exige ajustes com acompanhamento médico.
2. Psicoterapia
Feita por psicólogos ou psiquiatras, a psicoterapia
ajuda a entender e reformular pensamentos distorcidos. A terapia
cognitivo-comportamental, por exemplo, é bastante eficaz em reprogramar padrões
mentais negativos. Já as psicodinâmicas exploram conflitos emocionais mais
profundos.
A combinação da psicoterapia e de medicamentos é a
que traz melhores resultados na depressão, já que pensamentos e emoções são
mediados por neurotransmissores, em última instância. Em casos mais leves de
depressão, só a psicoterapia pode ser suficiente, especialmente se associada a
mudanças na rotina, como um estilo de vida mais saudável.
3. Estilo de vida
Mudanças na rotina são essenciais: alimentação
equilibrada, sono adequado, atividade física e evitar álcool ou drogas
contribuem para a recuperação.
4. Eletroconvulsoterapia (ECT)
Apesar da má fama (por filmes e estigmas), a ECT é
segura e eficaz, principalmente em casos graves ou resistentes, em que não há
resposta aos medicamentos. É feita sob anestesia e com monitoramento. Os
efeitos colaterais mais comuns são problemas de memória transitórios.
5. Neuromodulação
Técnicas não invasivas, como a estimulação magnética
transcraniana (EMT), vêm ganhando espaço para tratar pacientes que não toleram
ou não respondem a medicamentos. Existem ainda métodos experimentais, como a
estimulação por corrente contínua (ETCC) e a estimulação cerebral profunda
(invasiva, que funciona como um "marcapasso" no cérebro).
Existe cura?
Sim, especialmente quando o tratamento é iniciado
cedo e mantido corretamente. A maioria dos pacientes melhora com medicamentos,
psicoterapia ou ambos. Mas atenção: abandonar o tratamento por conta própria
pode levar a recaídas, além de provocar sintomas de abstinência ou efeitos de
"rebote".
O uso de antidepressivos costuma ser mantido por
pelo menos um ano após o desaparecimento dos sintomas, e qualquer redução deve
ser feita com supervisão médica.
Viva Bem - UOL
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