A
volta da Petrobras petista
Estatal retoma obra bilionária em meio a comício no
qual Lula diz que será reeleito ‘pelos braços do povo’
O roteiro foi cuidadosamente planejado para a
Petrobras dar a Lula da Silva o palco de que precisava para um anúncio
espalhafatoso de investimento durante uma esvaziada cúpula do Brics, no Rio de
Janeiro. A notícia só não foi bombástica porque, por exigências legais, teve de
ser comunicada ao mercado no dia anterior e detalhada pela presidente da
companhia, Magda Chambriard. Mas os R$ 9 bilhões adicionais que a Petrobras vai
destinar ao Complexo de Energias Boaventura, o antigo Comperj, representam 45%
a mais no volume previsto de R$ 20 bilhões e abre a temporada dos
“megaprojetos”, tão ao gosto do petista.
O palanque foi armado na refinaria Duque de Caxias
(Reduc) e, no comício fora de época, Lula fez acenos à classe média e ao
agronegócio, garantiu que a taxa de juros vai cair e confirmou, mais uma vez,
que pretende se lançar à reeleição: “Se preparem, porque se tudo tiver como
estou pensando, este país vai ter pela primeira vez um presidente eleito quatro
vezes pelos braços do povo”. Soou quase como ameaça.
O Complexo de Energias Boaventura, em Itaboraí (RJ),
é o item mais caro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e, quando
ainda era Comperj, foi o maior símbolo da corrupção revelada pela Lava Jato em
gestões petistas. O projeto, de 2006, previa um polo petroquímico e de refino
cercado por fábricas, formando uma verdadeira cidade industrial do segmento de
plásticos. Em sua versão mais ambiciosa, o projeto chegou a ser avaliado em
mais de US$ 26 bilhões. Em 2017, o Tribunal de Contas da União já avaliava o
prejuízo com as obras em US$ 12,5 bilhões (ao câmbio atual, cerca de R$ 67
bilhões).
A revolução que o complexo causaria na indústria
petroquímica nacional ficou somente nos delírios lulopetistas. No ano passado,
Lula da Silva “inaugurou” o polo, 16 anos depois das primeiras obras de
terraplenagem, com apenas uma unidade de processamento de gás. Agora, a
Petrobras dá sequência ao plano de integração do complexo de Itaboraí com a
Reduc, e a presidente da companhia já se refere à obra como “megaprojeto” com
promessa (mais uma vez) de dezenas de milhares de empregos. Mereceu do chefe um
elogio bem ao estilo de Lula, que disse que a executiva, a despeito de parecer
“bobinha”, tem “inteligência tratada de veneno”.
Entre promessas, bravatas e projetos faraônicos, o
lulopetismo prepara para 2026 a campanha de um presidente que não consegue
ganhar a confiança popular exatamente por insistir em repetir iniciativas que
deixaram um rastro de prejuízos incalculáveis para o País, além de ficarem
marcadas de forma indelével pela pecha da corrupção. Assombra a naturalidade
com que Lula recorre de novo à Petrobras em suas apostas arriscadas. Demorou
muito até que a Petrobras recuperasse sua vitalidade depois da razia petista, e
em grande medida isso se deveu à desistência de investimentos irracionais –
que, ao que tudo indica, estão de volta.
Opinião do Estadão
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