Lula 3 é o triunfo da ineficiência
TCU mostra que, exceto pelo Bolsa Família, o governo
não atingiu as metas de quase todos os programas inscritos no PPA 2024-2027, o
que revela a incompetência administrativa do petista
O Tribunal de Contas da União (TCU) analisou os
resultados de dez programas do governo federal no primeiro ano de vigência do
Plano Plurianual (PPA) 2024-2027. O que se pode concluir do diagnóstico do TCU
é alarmante: o governo Lula 3, naquilo que foi medido, é marcado por um quadro
de ineficiência administrativa e desprezo por princípios elementares da boa
administração. De todas as iniciativas escrutinadas pela Corte de Contas,
apenas o Bolsa Família atingiu as metas estipuladas pelo Executivo. Os demais
programas, concentrados em áreas fundamentais para o desenvolvimento do País,
como saúde, educação, infraestrutura e Previdência, apresentaram desempenho
insatisfatório, para dizer o mínimo. Juntos, eles representam nada menos do que
72,5% do Orçamento da União.
À parte o Bolsa Família, a grande estrela dos
governos lulopetistas, em apenas dois dos nove programas remanescentes –
atenção primária à saúde e educação superior – registrou-se cumprimento de
metas acima do patamar de 50% (67% em ambos os casos). Todas os demais
representam o triunfo da ineficiência sobre a boa governança.
A gravidade dos achados do TCU vai além da má
alocação de recursos públicos, por si só problemática em um país de gritantes
carências e, como se sabe, sem margem de tolerância para lambanças fiscais. O
problema é estrutural: o governo Lula da Silva ainda deve à sociedade um plano
estratégico e um compromisso com a eficiência – e não por boa vontade, mas por
se tratar de um dos princípios da administração pública inscritos no artigo 37
da Constituição. Mais bem dito: o petista não sabe governar premido pela
escassez de recursos e, portanto, é incapaz de fazer escolhas baseadas em
critérios racionais. Move-se ao sabor dos indicadores de popularidade.
À luz do parecer do ministro Jhonatan de Jesus,
relator das contas presidenciais no TCU, os problemas se repetem com uma
frequência que desmoraliza qualquer esforço do Palácio do Planalto para
transmitir uma mera ideia de planejamento. Foram observadas diversas obras
paralisadas, metas simplesmente abandonadas, prazos vencidos e ausência de
coordenação entre os entes federativos. As explicações dadas por alguns
ministérios – escassez de pessoal qualificado, entraves orçamentários e falhas
de articulação entre União, Estados e municípios – não devem ser descartadas a
priori, mas tampouco podem servir de álibi para ineficiência de um governo que
se encaminha para seu terço final sem dar sinais de mudança. Ao contrário. A má
administração só evidencia a premência de uma guinada administrativa que só
pode ser dada, por óbvio, pelo próprio Executivo.
Nesse sentido, é indispensável que o governo
incorpore de forma sistemática à gestão dos recursos públicos o mecanismo de
spending review, adotado com sucesso em países desenvolvidos. Trata-se de uma
análise crítica e recorrente dos gastos públicos, com vistas a aferir sua
efetividade, eliminar desperdícios e realocar recursos para áreas com melhor
retorno social. Basicamente, trata-se de aprimorar a qualidade dos gastos
públicos, preservando as políticas que dão bons resultados e corrigindo ou
eliminando as que falham.
O País só tem a perder enquanto o presidente da
República insistir no improviso e nessa busca frenética por popularidade a
curto prazo. É sempre bom lembrar que planejamento, execução e avaliação de
políticas públicas não são meras formalidades burocráticas – são condições
indispensáveis para que o Estado cumpra suas atribuições com eficiência. O
contribuinte, que sustenta a máquina pública com uma das mais altas cargas
tributárias do mundo, tem o direito de esperar resultados mensuráveis das
promessas supostamente feitas em nome do interesse público.
Se ainda quiser reverter a imagem de desorganização
que tem marcado seu terceiro mandato, Lula da Silva precisará fazer mais do que
gastar, o que é fácil: precisará gastar bem. E, para isso, deverá adotar
mecanismos institucionais permanentes de avaliação, revisão e correção de
rumos. Do contrário, continuará desperdiçando recursos públicos ao sabor de
suas conveniências políticas, aprofundando a crise de credibilidade de seu
governo.
Opinião do Estadão
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