Por Mario Sabino
Não sei se a imprensa brasileira já percebeu, parece
que resiste a cair em si, mas ela teve a sua liberdade cerceada pelo ministro
Alexandre de Moraes. Outra vez.
Jair Bolsonaro ia dar uma entrevista ontem ao novo
programa do Metrópoles no Youtube, que seria retransmitida nos outros canais do
portal. Na última hora, porém, os seus advogados ficaram com receio de que o
ex-presidente pudesse ser preso por infringir a proibição de usar redes
sociais, embora não fossem as dele.
Os advogados tinham razão no seu cuidado, como
deixou claro Alexandre de Moraes. Em nova ordem, o ministro disse que a medida
“inclui, obviamente, as transmissões, retransmissões ou veiculação de áudios,
vídeos ou transcrições de entrevistas em qualquer das plataformas das redes
sociais de terceiros”.
Como não existe imprensa sem as próprias redes
sociais, e nenhum jornal, portal ou emissora pode impedir a reprodução de parte
do seu noticiário em perfis alheios, temos uma situação esdrúxula, para dizer o
mínimo, de cerceamento : como Jair Bolsonaro pode ser preso se uma fala sua for
parar nas redes, ele não concederá mais entrevistas, inclusive coletivas, e a
imprensa não o ouvirá mais por medo de ser sancionada também por Alexandre de
Moraes.
O ex-presidente é, portanto, alvo de censura total,
até retroativa, visto que as retransmissões das suas falas passadas estão
proibidas. Os jornais, portais e emissoras, por sua vez, estão obrigados a
praticar a autocensura. É de um autoritarismo não menos do que perfeito.
Chapeau.
O ministro acha todas suas ordens de uma obviedade
ululante, mas não há nada de banal em ferir a Constituição, ainda que os
atentados a ela venham se sucedendo com frequência alarmante, infelizmente não
para todos.
Sem ter prisão decretada, Jair Bolsonaro não poderia
ser silenciado de forma nenhuma. Aliás, o precedente aberto pelo STF em relação
a Lula, em 2019, daria o direito ao ex-presidente de dar entrevistas até se já
estivesse atrás das grades.
Protegidos pela liberdade de imprensa, jornais,
portais e emissoras não poderiam sofrer restrições em entrevistas, reportagens
ou artigos de opinião veiculados em quaisquer plataformas.
Com direito a informações relevantes para o destino
do país, os cidadãos deveriam poder saber o que pensa um ex-presidente da
República acusado de tramar um golpe de Estado e que se tornou réu em processos
que o levarão à prisão. É de total interesse público.
Alexandre de Moraes mandou Jair Bolsonaro calar a
boca, calou a boca da imprensa e tapou os ouvidos de todos os brasileiros.
Metrópoles
Nenhum comentário:
Postar um comentário