O presidente da Federação da Agricultura, Pecuária e
Pesca do Rio Grande do Norte (Faern), José Vieira, cobrou nesta segunda-feira
21 que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) adote uma postura
mais pragmática e busque diálogo com os Estados Unidos para tentar reverter a
tarifa extra de 50% anunciada pela gestão do republicano Donald Trump contra
produtos brasileiros.
“(Não vai resolver) Enquanto não sentar com o
governo americano e o presidente Lula parar com essas narrativas de jabuticaba,
que o (presidente dos) Estados Unidos é imperador. A gente não vê nenhum país
no mundo enfrentando dessa forma jocosa os Estados Unidos. Nós precisamos ter
maturidade e sentar à mesa e negociar”, afirmou José Vieira em entrevista à
rádio Jovem Pan News Natal.
No dia 9 de julho, Trump anunciou que a importação
de produtos brasileiros será sobretaxada em 50% nos Estados Unidos a partir de
1º de agosto. Entre as razões para a tarifa, o presidente norte-americano citou
o julgamento de Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF) por
tentativa de golpe. Para Trump, o ex-presidente brasileiro é inocente e está
sofrendo perseguição política no Brasil.
Em resposta, o Governo Lula tem argumentado que a
tarifa não faz sentido do ponto de vista comercial porque, no geral, o Brasil
importa mais produtos dos EUA do que importa. Além disso, integrantes do
governo têm reclamado do que têm chamado de “chantagem” feita por Trump.
De acordo com o presidente da Faern, a situação
preocupa produtores do Rio Grande do Norte, que têm no mercado norte-americano
um destino relevante para exportações de sal, pescado e confeitos. “No Rio
Grande do Norte, nós temos uma balança favorável em torno de US$ 40 milhões. É
de fundamental importância para o desenvolvimento do Estado”, destacou.
Segundo a Federação das Indústrias do Rio Grande do
Norte (Fiern), entre janeiro e junho de 2025, o Estado exportou US$ 67,1
milhões em produtos para os EUA, enquanto exportou apenas US$ 26,9 milhões. O
saldo é exatamente de US$ 40,2 milhões.
José Vieira lembrou que a balança comercial do
agronegócio brasileiro com os Estados Unidos é amplamente favorável ao Brasil,
o que reforça a necessidade de articulação para manter as relações comerciais.
O presidente da Faern criticou a ausência de um
diálogo efetivo do governo federal com os americanos desde a posse de Trump. “O
Brasil, até hoje, desde quando ele assumiu, não sentou com o governo americano,
como todos os outros países já fizeram. Mais de 30 países já tiveram
oportunidades de discutir a pauta econômica com o novo governo americano”,
declarou.
Vieira acredita que o governo do ex-presidente Joe Biden,
com quem Lula dialogava, e o novo governo Trump exigem estratégias diferentes.
Ele avalia que, se não houver avanço nas negociações, o tarifaço será
inevitável. “Nós estamos entendendo que vai haver o tarifaço. Porque, até
agora, o governo brasileiro, no seu primeiro escalão, não tem conversado com o
governo americano”, disse.
Ele alertou ainda que o impacto das novas tarifas
será mais severo do que se imagina. “Não é tarifa de 50%. Porque produtos já
eram tarifados. Vai agregar mais 50%. Então, nós vamos chegar a 75%”, afirmou.
“Hoje, o Brasil é o país que está com a maior taxa em relação aos demais países
do mundo.”
Durante a entrevista, José Vieira também mencionou
que a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) tem atuado para que a questão
não se transforme em disputa política. “A Confederação da Agricultura soltou a
nota justamente para que nós não podemos deixar a política atrapalhar o
desenvolvimento”, destacou.
Governo Lula avalia linha emergencial de
crédito a exportadores
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o
governo avalia um “plano de contingência” contra o tarifaço de Donald Trump,
caso as taxas realmente entrem em vigor em 1º de agosto. O plano pode incluir
linhas emergenciais de crédito, segundo o jornal O Globo.
Na avaliação de integrantes do governo, é preciso
garantir um financiamento emergencial de alguns setores, especialmente aqueles
mais atingidos pelas tarifas de 50% contra produtos brasileiros. O entendimento
é de ser difícil direncionar toda a exportação, diante do volume, ou
introduzí-la no mercado interno.
Auxiliares do presidente destacam que o plano de
contingencia deve ocorrer em várias frentes. Um deles é a procura urgente por
novos mercados para desovar seus produtos, como México e Canadá. As empresas
também negociam com os compradores a divisão do custo do imposto, especialmente
em cargas que saíram do Brasil. Como os setores são diferentes entre si, as
medidas são pontuais.
Pessoas que acompanham de perto as discussões
afirmam que encontrar outros mercados é uma tarefa hercúlea. O motivo é que o
mundo inteiro está sendo sobretaxado pelos EUA. Fazer cálculos sobre destinos
das exportações brasileiras e estabelecer de onde trazer peças para o processo
produtivo no Brasil são grandes dificuldades enfrentadas.
Questionado nesta segunda sobre uma possível linha
de crédito para os setores, o ministro disse em entrevista à CBN que pode ser
necessário “recorrer a instrumentos de apoio a setores que, injustamente, estão
sendo afetados”.
Uma sugestão que chegou ao governo é para que sejam
tomadas medidas que foram adotadas durante a pandemia de Covid19. Na época,
foram criados os programas Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda e de
Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe).
No primeiro caso, foi permitida a redução da jornada
de trabalho e do salário, com o governo complementando a renda dos
trabalhadores. Já o Pronampe garantiu linhas de crédito, para que as empresas
de menor porte garantissem seus negócios.
Desde a semana passada, o vice-presidente e ministro
do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, vem se
reunindo com representante do setor privado.
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