segunda-feira, 21 de julho de 2025

Natal está entre as 10 capitais com menor índice de esgotamento do país

 


Felipe Salustino
Repórter

Natal é a terceira capital do Nordeste e a oitava do Brasil com menor atendimento em esgotamento sanitário, de acordo com o Ranking do Saneamento 2025 do Instituto Trata Brasil (ITB). Os dados foram compilados levando em consideração os indicadores mais recentes do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), ano-base 2023, publicados pelo Ministério das Cidades. O índice de cobertura na capital potiguar, segundo o levantamento, é de 43,66%, o que representa uma queda de 10,13 pontos porcentuais em relação ao ranking de 2024 (ano-base 2022), que apontava Natal com 53,79% de cobertura.

Ainda de acordo com o levantamento, a capital potiguar caiu 16 posições no ranking geral, que mede o índice de cobertura de saneamento básico nos 100 municípios mais populosos do País. A Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern) esclareceu que a queda se deve a alterações na metodologia de cálculo do SNIS, que alinhou-se ao Censo mais recente do IBGE e “impactou diretamente a comparação com anos anteriores”. A Caern disse que a entrada em operação das Estações de Tratamento de Esgotos (ETEs) Jaguaribe e Guarapes deverá universalizar o saneamento na cidade.

A integralidade do serviço de saneamento na capital potiguar, no entanto, é prevista apenas para 2027, quando a ETE Guarapes deve entrar em funcionamento. Sobre a cobertura de esgotamento sanitário, a Caern informou que ela está distribuída da seguinte maneira: na zona Leste o serviço está praticamente universalizado, “atingindo mais de 98% da população”; na zona Sul, a maioria dos bairros já conta com cobertura de esgoto, de acordo com a Companhia. “As exceções são o bairro de Pitimbu (Cidade Satélite), uma pequena porção da Vila de Ponta Negra e cerca de 60% de Candelária, que ainda não possuem o serviço”, afirmou a Caern.

As demais regiões administrativas da cidade são as áreas onde a situação é mais crítica. Na zona Oeste, de acordo com a Caern, somente “os bairros de Alecrim e Quintas já são atendidos pelo sistema de esgotamento sanitário. A previsão é que os demais bairros também sejam beneficiados a partir de 2027, com a ativação da ETE Jundiaí-Guarapes”. Na zona Norte, apenas 3% do território é coberto pelo serviço.

Segundo a Caern, “a expectativa é que esse percentual suba para 43% em agosto, com a entrada em operação do primeiro módulo da ETE Jaguaribe. Até 2026, com a ativação do segundo módulo, a cobertura aumentará gradualmente para 95%”. A Estação de Tratamento Professor Cícero Onofre de Andrade Neto (ETE Jaguaribe) começou a ser construída há 8 anos, em 2017, e já teve a conclusão adiada diversas vezes.

Moradores convivem com mau cheiro

Não é difícil observar os efeitos da falta de atendimento relativo aos serviços de esgotamento sanitário na zona Norte da capital. Uma caminhada rápida por bairros como a Redinha é o suficiente para se deparar com situações como a da Rua da Paz, onde a água servida empossada em variados trechos ajuda a compor o cenário junto às casas e comércio da região. O mau cheiro é um dos primeiros problemas a ser sentido.

A vizinhança incômoda gera reclamações por parte dos moradores. A manicure Neide Souza, de 40 anos, vive na Rua da Paz desde que nasceu. Ela abriu uma esmalteria em casa há uma década e meia, mas em períodos críticos como a temporada de chuvas, a clientela simplesmente some. “Junta água de chuva com água de esgoto na rua e a situação fica insustentável. Fiz um batente na entrada para evitar alagamentos na esmalteria e em casa. Por enquanto tem dado certo, mas, quando chove o cliente não vem. É muito difícil ter qualquer comércio na Redinha, porque a situação é crítica de verdade. Além disso, a gente lida com os problemas de saúde por causa dessa falta de infraestrutura. De noite tem muito mosquito. Eu e meu filho já tivemos dengue mais de uma vez”, relata. A aposentada Maria Soares, de 67 anos, mora ao lado de Neide. Ela conta que transitar pela rua é difícil por conta do esgoto acumulado.

“Para ir à igreja, preciso dar a volta. Aqui vive muito idoso, então, essa é uma dificuldade que muita gente enfrenta junto com o mau cheiro e os mosquitos. Meu filho já teve até dengue hemorrágica. Moro aqui há 30 anos. Nunca vi essa situação mudar, mas eu e todos os moradores sonham com o dia em que tudo vai melhorar”, desabafa a aposentada. No bairro Pajuçara, também na zona Norte, a reclamação dos moradores é semelhante. A dona de casa Maria da Cruz, de 40 anos, conta que bem em frente à casa dela, na Rua Tenente de Souza, há uma espécie de ‘lagoa’, que causa diversos transtornos.

Ela conversou com a reportagem enquanto caminhava pela Rua Auriverde, quando ia buscar o filho na escola. “Moro na parte mais baixa da Tenente de Souza, então, o problema por lá se agrava. É muito mau cheiro e muito inseto. Tem de tudo – barata, rato, mosquito. Três professores do meu filho estão com dengue”, descreve a dona de casa. O motorista de transporte por aplicativo Alexsandro Dantas, de 52 anos, também se queixa da presença constante de insetos por causa do esgoto a céu aberto na rua onde ele vive, a Auriverde. “Só esta semana, matamos quatro escorpiões aqui em casa”, diz.

Alexsandro conta que tem um sumidouro na residência para evitar que o esgoto produzido chegue à rua, mas essa não é a realidade do restante do bairro. “Tudo piora quando chove, porque a água entra nos imóveis da gente quando os carros passam na rua. Aqui é uma mistura de lama e mau cheiro. Isso prejudica a minha esposa também, que tem um salão de beleza em casa, porque os clientes se afastam”, conta o motorista, que mora em Pajuçara há 40 anos. De acordo com o Ranking do Saneamento 2025, apenas Recife e Maceió, com índices de 41,59% e 34,41%, respectivamente, possuem cobertura de esgoto menor do que Natal no recorte das capitais do Nordeste.

Salvador, com 88,45% do território coberto por esgotamento sanitário, apresenta a melhor situação da região. No País, Curitiba é a única capital a registrar integralidade no serviço, com índice de 100%. Goiânia, com 99,62%, São Paulo (98,49%), Rio de Janeiro (95,80%) e Belo Horizonte (95,75%) também são destaques. Na parte de baixo do ranking estão Rio Branco (19,91%), Belém (19,34%), Porto Velho (9,27%) e Macapá (7,78%).

Natal cai da 64ª posição para a 80ª no saneamento

As atividades de esgotamento sanitário incluem coleta, transporte, tratamento e disposição final de resíduos por meio de rede coletora e estações de tratamento, com vistas a evitar contaminações ao meio ambiente e a proliferação de doenças. Essas atividades compõem os serviços de saneamento básico – mais amplos e que envolvem também o abastecimento de água potável, manejo de resíduos sólidos e drenagem de água das chuvas. De acordo com o Instituto Trata Brasil, Natal caiu 16 posições no ranking geral do saneamento, saindo do 64º lugar para o 80º, considerando-se os 100 municípios analisados.

No indicador Atendimento Total de Água, a capital potiguar registrou índice de 90,13%, uma queda de 1,74 ponto porcentual em relação ao ranking de 2024 (91,87%). No indicador Tratamento Total de Esgoto, Natal registrou queda de 6,54 pontos porcentuais (50,20% em 2024 e 43,66% em 2025). A Caern disse que “reafirma compromisso com a melhoria contínua dos serviços de saneamento básico em Natal e no Rio Grande do Norte, investindo em infraestrutura para garantir mais saúde e qualidade de vida para a população”.

A Companhia, que atribuiu as reduções nos indicativos e no índice geral às mudanças de metodologia dos dados utilizados no levantamento deste ano, disse que apenas em 2027, com a entrega da ETE Guarapes, “Natal estará em conformidade com as exigências do Marco Legal do Saneamento, alcançando a universalização do esgotamento sanitário”.

A prestação dos serviços de esgoto pela Caern entrou no rol das discussões da Prefeitura do Natal recentemente. Conforme publicado pela TRIBUNA DO NORTE na edição do dia 9 de julho, o Município avalia romper o contrato de concessão de esgotamento sanitário da capital potiguar junto à Companhia. O Município pode buscar uma parceria público-privada para gestão do contrato.

Um eventual rompimento contratual poderia resultar em uma indenização de cerca de R$ 500 milhões à estatal, segundo informação do diretor-presidente da Caern, Roberto Linhares. Ele disse ainda que o contrato foi recentemente renovado até 2051 e que um provável rompimento também precisaria de uma autorização dos municípios presentes na microrregião Litoral/Seridó, de acordo com legislação instituída em julho de 2021.

Ranking

Atendimento Total de Esgoto – % da menor para a maior cobertura por capitais
Macapá: 7,78
Porto Velho: 9,27
Belém: 19,34
Rio Branco: 19,91
Manaus: 28,46
Maceió: 34,41
Recife: 41,59
Natal: 43,66
Teresina: 47,78
São Luís: 55,73
Fortaleza: 66,47
Florianópolis: 68,13
Aracaju: 75,82
João Pessoa: 77,96
Palmas: 78,31
Cuiabá: 83,03
Vitória: 87,39
Campo Grande: 87,64
Salvador: 88,45
Brasília: 89,69
Porto Alegre: 91,76
Boa Vista: 92,43
Belo Horizonte: 95,75
Rio de Janeiro: 95,80
São Paulo: 98,49
Goiânia: 99,62
Curitiba: 100,00

Fonte: Ranking do Saneamento 2025 (Instituto Trata Brasil)

 

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