Em uma ação conjunta nesta terça-feira (15), o
Ministério Público do Rio Grande do Norte (MPRN), por meio do seu Grupo de
Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), apoiou o Ministério
Público do Ceará (MPCE) na deflagração da 2ª fase da operação Eco Câmara. A
ação cumpriu um mandato de busca e apreensão pessoal e domiciliar na cidade de
Natal contra um suspeito de participar de uma campanha de ódio nas redes
sociais contra a ativista Maria da Penha.
A operação teve como objetivo aprofundar as
investigações sobre uma campanha sistemática de desinformação e ataques
misóginos contra Maria da Penha Maia Fernandes, que dá nome à Lei nº
11.340/2006, um marco na luta contra a violência doméstica. Durante a ação em
Natal, foram descobertos aparelhos eletrônicos e documentos, que serão
direcionados para análise pelo Ministério Público do Ceará para dar
continuidade à apuração dos fatos.
A investigação foi motivada pela disseminação de
conteúdo calunioso que buscou desacreditar a história de Maria da Penha,
questionar uma decisão judicial já transitada em julgada sobre sua tentativa de
homicídio e, consequentemente, enfraquecer a legislação de proteção à mulher no
país. As apurações indicam que os envolvidos poderiam estar buscando também
vantagens financeiras com a repercussão das narrativas falsas.
Documentário
Dentre os fatos apurados, destaca-se a produção e divulgação do documentário
com acusações infundadas de fraude processual, bem como uso de documento falso
para subsidiar os argumentos. O conteúdo, divulgado por empresa privada de
comunicação e perfis em redes sociais, busca gerar dúvida sobre a veracidade
dos fatos e sobre a legitimidade do julgamento ocorrido, apesar de ampla
comprovação judicial e pericial em sentido contrário. Foi identificada ainda a
prática de perseguição virtual (cyberstalking), caracterizada por condutas
geográficas com o intuito de macular a imagem da Sra. Maria da Penha, além do
crime de falsificação de documento público.
Primeira fase da operação
Na primeira fase da operação, deflagrada no dia 14 de dezembro de 2024, foram
cumpridos mandatos de buscas e apreensões, atendendo ao pedido do MP. O Poder
Judiciário determinou, ainda, a suspensão do perfil de um suspeito na
plataforma Instagram pelo período de 90 dias; a ordem dele se aproximar ou
manter contato, pessoalmente ou através de pessoa interposta, com Maria da
Penha e suas filhas, bem como de se aproximar das residências delas; como
também o impedimento de se ausentar da comarca onde reside, por mais de sete
dias, sem autorização judicial, assim como o país.
Entenda o caso
No primeiro semestre de 2024, Maria da Penha passou a sofrer uma série de
ataques a membros de comunidades digitais que disseminavam o ódio às mulheres.
Ao tomar conhecimento das ameaças, o MP do Ceará acionou o Núcleo de
Investigação Criminal – NUINC, para iniciar a apuração dos fatos, e o Núcleo de
Atendimento às Vítimas de Violência (NUAVV), que encaminhou Maria da Penha ao
Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos.
Segundo as investigações realizadas pelo Ministério
Público, a campanha atingiu diretamente a honra de Maria da Penha,
atribuindo-lhe conteúdo ofensivo e de natureza caluniosa, consistindo em
possíveis delitos de intimidação sistemática virtual (“cyberbullying”),
perseguição (“stalking”/”cyberstalking”), ameaça, dentre outros.
Em breve análise às mídias sociais onde as mensagens
foram publicadas, acordadas-se um perfil, com elevado número de adeptos, que
vem produzindo conteúdos de natureza misógina (ódio, desprezo ou preconceito
contra mulheres ou meninas), deturpando informações, bem como atacando a
farmacêutica Maria da Penha, sua história e a própria Lei 11.340/2006.
De acordo com a purificação do MP, os riscos
potenciais não se limitaram às redes sociais. Observou-se a deslocação do
principal investigado na antiga residência de Maria da Penha, no bairro Papicu,
em Fortaleza, local em que ocorreu um tentativa de homicídio contra ela em
1983.
“Echo Chamber”
O nome “Echo Chamber” (Câmara de Eco) se refere a um termo usado para descrever
um ambiente em que as pessoas são expostas a informações ou ideias que reforçam
suas próprias opiniões, sem entrarem em contato com opiniões divergentes. No
contexto deste caso, o discurso do investigado contribuiu para a propagação de
uma ocorrência dos fatos dentro de um grupo de seguidores, criando um ciclo
fechado de informações.
Esse ciclo se caracteriza por um constante reforço
das mesmas ideias, sem espaço para questionamentos ou visões alternativas, o
que distorce a percepção da realidade e dificulta o confronto com informações
interessantes. Assim, ao propagar um discurso unilateral, o investigado
alimentou uma câmara de eco, onde os adeptos da ideia apenas confirmaram entre
si as implicações já lógicas, sem considerar outras perspectivas.
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