A matéria é do Blog do Dina:
Conhecido nas redes sociais como criador do “Método
Luan Lima” de emagrecimento, o personal trainer Luanderson Lima do Nascimento,
de 25 anos, levava uma rotina aparentemente comum: ministrava treinos na
academia PULSE, em Lagoa Nova, bairro de classe média de Natal, e cursava o
sexto período de Nutrição na Universidade Potiguar. No Instagram, exibia
imagens de clientes transformados por seu método, entre eles o empresário João
Eduardo Costa de Souza, seu caso mais notável.
Por trás da imagem de jovem empreendedor da saúde,
porém, a Polícia Civil identificou uma realidade que levantou suspeitas.
Luanderson era também o dono da LL Construções e Locações de Máquinas Ltda,
empresa de construção civil que, em 2023, declarou um faturamento superior a R$
4,7 milhões — mesmo sem possuir contador, funcionários registrados ou qualquer
vínculo com a área.
A construtora funcionava formalmente em um conjunto
de salas comerciais em Lagoa Nova, mas os investigadores afirmam que o endereço
servia apenas como fachada. A empresa foi encerrada em março de 2024, pouco
antes da deflagração da Operação Amicis, que apura um suposto esquema de
lavagem de dinheiro e fraudes documentais com ramificações no comércio, na construção
civil e no setor de saúde.
Um negócio oculto sob a fachada fitness
A ligação de Luanderson com o esquema veio à tona
após denúncia anônima contra João Eduardo, que usava um carro de luxo
registrado em nome de um terceiro. Ao investigar conexões entre empresas e
investigados, a polícia descobriu que Luan havia sido o proprietário anterior
de uma loja da marca SCHALK, no bairro do Alecrim. A empresa, LL Confecções
Ltda, foi posteriormente transferida para outro investigado, João Pereira da
Silva Neto — mas manteve as iniciais “LL”, em referência a Luanderson Lima.
Além disso, a investigação revelou que João Eduardo,
tido como cliente-modelo do “Método Luan Lima”, aparecia com destaque nas redes
sociais do personal trainer, inclusive em postagens enaltecendo os resultados
do programa de emagrecimento.
Apesar do alto faturamento da construtora, Luan não
possuía veículos em seu nome, apenas uma motocicleta registrada pela própria
empresa. Em bancos de dados financeiros, seus rendimentos declarados eram
modestos: R$ 3 mil como empresário da construção civil e R$ 15 mil no período
em que manteve a loja de roupas.
A teia empresarial
A LL Construções não foi o único vínculo empresarial
que chamou a atenção dos investigadores. A academia onde Luan trabalhava e
outras lojas no mesmo endereço abrigavam empresas de outros envolvidos na
Operação Amicis. Um deles, Lucas Ananias Lopes Silveira de Sousa — proprietário
do veículo usado por João Eduardo — também mantinha uma firma de saúde no
local. Empresas conectadas a João Neto e a José Ildo Pereira Leonardo, contador
recorrente nos CNPJs investigados, também operavam em endereços ligados à academia.
A própria atuação acadêmica de Luan foi confirmada
nos autos por meio de um processo judicial movido por ele contra a Universidade
Potiguar, em que contestava valores do curso de Nutrição. O documento
comprovava sua matrícula no sexto período, até julho de 2024.
O mistério permanece
Diferentemente de outros casos detalhadamente
documentados pela investigação — como a transferência da FJS Construções ou da
própria LL Confecções —, não há registros sobre como ou quando a LL Construções
foi criada. Os autos apenas confirmam que o CNPJ sempre esteve em nome de
Luanderson, sem esclarecer como um estudante e personal trainer teria obtido os
recursos para abrir e operar uma empresa com faturamento milionário.
“Chamou atenção o fato de Luan Lima, apesar de ser
instrutor em academia e estudante de nutrição, possuir vínculo com um CNPJ no
ramo de construção que teria faturamento acima de R$ 4,5 milhões”, descreve
trecho dos autos.
Medidas judiciais
No dia 25 de junho de 2025, a Justiça decretou
medidas cautelares contra Luanderson, entre elas bloqueio de bens no valor de
R$ 136.440,76, proibição de sair do país e sequestro de veículos em seu nome.
Dois mandados de busca e apreensão foram cumpridos: um em seu apartamento na
Avenida Antônio Basílio, e outro no endereço comercial da empresa.
Luan Lima é agora listado entre os 25 principais
alvos da Operação Amicis, que investiga uma rede de empresas suspeitas de
movimentações financeiras incompatíveis com seus perfis declarados. A academia
onde ele atuava, a PULSE, não é investigada.
O método sob suspeita
Apesar de figurar nas redes sociais como um
especialista em transformar corpos, o próprio Luan agora precisa explicar como
operava uma construtora milionária, sem estrutura funcional ou contábil. O
“Método Luan Lima”, ainda visível no Instagram, agora divide espaço com
perguntas que nem mesmo a investigação conseguiu responder: como esse negócio
começou — e com que dinheiro?
O Blog do Dina tentou contato com Luanderson Lima do
Nascimento, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.
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