Diante da sequência de derrotas do governo no
Congresso, em especial a derrubada do decreto sobre o Imposto sobre Operações
Financeiras (IOF), auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmam
que o Palácio do Planalto adotará uma estratégia de pragmatismo. A ideia é
esperar esfriar a tensão e seguir dialogando com parlamentares para fazer
acordos em pautas de interesse do Executivo. O plano, porém, inclui
intensificar o discurso de “ricos contra pobres” adotado em relação a mudanças
tributárias, um dos pontos que incomodaram a cúpula do Legislativo.
O foco do governo é evitar queimar pontes com os
líderes do Congresso para não inviabilizar a aprovação de pautas que podem
servir de bandeiras eleitorais em 2026, como a isenção de Imposto de Renda para
quem ganha até R$ 5 mil. A medida foi uma promessa de campanha de Lula e a
avaliação é que representará um desgaste chegar ao fim do mandato sem conseguir
entregá-la.
Outro fator que leva o governo a insistir no diálogo
com os partidos do Centrão, em boa parte responsáveis pelas derrotas nas
votações dos últimos dias, é evitar jogar essas siglas no colo da oposição em
2026. Aliados de Lula trabalham para que siglas como PSD, União Brasil e MDB se
declarem independentes, apostando em alianças regionais com o PT.
Na quinta-feira, um dia depois de 58 dos 60
deputados do União Brasil votarem contra o governo, Lula se reuniu com o
presidente do partido, o advogado Antonio Rueda. O encontro, que já estava
previsto antes da votação da véspera, ocorreu após o dirigente partidário
afirmar, em entrevista ao GLOBO, que a federação da sigla com o PP deve apoiar
um nome de centro-direita em 2026.
A expectativa de auxiliares, porém, é que o petista
não deve procurar os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do
Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), neste momento. O gesto teria que partir
deles, já que na visão do governo houve uma quebra de acordo pela forma como a
derrubada do decreto do IOF foi colocada em votação: sem aviso prévio, sem
passar pelo colégio de líderes e numa sessão virtual.
Um ministro não petista diz que o maior risco agora
é a relação se degradar a ponto de os partidos, como PP e União Brasil,
entregarem os cargos.
A avaliação de integrantes do PT é que as recentes
derrotas sofridas pelo governo no Congresso são patrocinadas por partidos do
Centrão com o objetivo de enfraquecer Lula eleitoralmente. Líderes de partidos
ligados à base creditam principalmente ao presidente do PP, senador Ciro
Nogueira (PI), considerado padrinho político do presidente da Câmara, Hugo
Motta (Republicanos-PB), a crise vivida entre o governo petista e o Congresso.
Além disso, o senador tem se empenhado em procurar
os presidentes de outros partidos para se unir contra Lula em 2026. Na semana
passada, ele procurou os presidentes do MDB, Baleia Rossi, e do Republicanos,
Marcos Pereira.
Mesmo sendo tradicionalmente apoiador do governo, o
MDB, que tem 43 deputados, deu 41 votos favoráveis para derrubar o decreto. O
partido de Motta deu 42 votos de um total de 44. Também houve apoios
expressivos no PP, que deu 48 de 50. O PSD deu 28 de 45, o que representa mais
da metade da bancada. Todos esses partidos ocupam ministérios na gestão de
Lula.
No Senado também há atritos, principalmente em uma
disputa envolvendo o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP), e o
ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. A crise, que envolve projetos
que beneficiam empresas e podem aumentar a conta de luz e a disputa por
agências reguladoras, praticamente travou a pauta do Senado.
O deputado Mendonça Filho (União-PE), integrante da
Executiva do União, avalia que o quadro econômico e a baixa popularidade do
petista contribuem para que essas siglas se distanciem do governo.
“Esses partidos não estarão com o PT em 2026. Todos
trabalham com uma alternativa, como os governadores Tarcísio de Freitas (de São
Paulo) e Ratinho Jr. (do Paraná)”, disse ele.
Integrantes da ala do MDB mais fiel a Lula, que
inclui caciques de estados do Nordeste, admitem que os argumentos para tentar
convencer a outra parte de centro-direita da legenda a apoiar o presidente em
2026 estão se esvaziando. Esse grupo afirma que, no cenário atual, a tendência
é o MDB liberar os diretórios regionais para definirem que candidato vão
apoiar.
“Há uma preocupação dos lulistas verdadeiros com
essa relação que está constituída com o Congresso. O ministro da Fazenda não
tem uma relação próxima com o Congresso, nem o ministro da Casa Civil. Há um
problema de interlocução com a Casa. Política é relacionamento”, disse o
deputado Eunício Oliveira (MDB-CE).
Apesar da desesperança em relação a viabilidade
eleitoral de Lula para 2026, os emedebistas estão mais comedidos quando se
trata de avaliar a saída de representantes da legenda dos ministérios.
Diferentemente do União e PP, que engatilham o desembarque da Esplanada, o MDB
prefere esperar até abril do ano que vem, prazo em que é necessário o
afastamento de cargos públicos para concorrer às eleições.
“Ainda há chance de o MDB apoiar Lula, mas vai
depender da articulação do presidente nos próximos meses. É necessário ele começar
uma articulação já olhando para a reeleição, o que ainda não aconteceu”,
afirmou o deputado Hildo Rocha (MDB-BA).
Integrantes do governo, porém, defendem dobrar a
aposta no embate político e veem a questão de justiça fiscal um campo propício
para isso. A avaliação é que se o governo está nas cordas, precisa pelo menos
pautar o debate público. Na leitura de um ministro de um partido de centro, a
oposição leva desvantagem nesse tema.
O Globo
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