Situado na ponta do Brasil e sendo o local mais
próximo da Europa, além de fazer divisa com um dos estados mais ricos do
Nordeste, o Ceará, o Rio Grande do Norte se tornou peça -chave no fluxo de
ações de organizações criminosas, nacionais e locais, para estabelecimento de
territórios, tráfico de drogas, escoamento de cargas e movimentações
financeiras milionárias. A TRIBUNA DO NORTE obteve com exclusividade um
relatório que aponta 15 cidades do Estado como de “alta vulnerabilidade” pelas
forças de segurança e relatórios de inteligência sendo ponto de partida para
diversos crimes, alguns deles, com repercussão internacional.
Os municípios estão em diversas regiões do Estado,
tanto na faixa litorânea quanto em cidades do interior, além de áreas
portuárias e com rotas hidroviárias. O diagnóstico foi feito pela Secretaria de
Segurança Pública e enviado para o Ministério da Justiça, que vai realizar uma
ação de reforço e combate ao crime organizado. A operação ganhou o nome de Arco
das Divisas. A ação já foi realizada pelo Ministério da Justiça em outros anos
e com a participação do RN.
Segundo o secretário de Segurança do Estado, Coronel
Francisco Araújo, Natal não entra na lista por ter maior presença de
policiamento. “Em Natal está o maior efetivo ordinário e extraordinário do
Estado. Com todas as unidades. Há um fortalecimento maior. Ela não é
considerada vulnerável em relação às outras cidades. Nas outras há necessidade
de suplementação”, explica.
Um dos municípios é Mossoró, segunda cidade mais
populosa do RN, que é margeada pela BR-304 e é considerado ponto estratégico
para tráfico de drogas e contrabando de mercadorias. Aliado a isso, o fato de
ter a única Penitenciária Federal do Nordeste torna a cidade um ponto sensível
para a criminalidade.
No Oeste do Estado, também é citada Pau dos Ferros
como área crítica devido à presença de rotas clandestinas. Nessas duas cidades,
a proximidade com o estado do Ceará também é vista como um ponto facilitador
para as ações criminosas.
O relatório aponta ainda para as cidades de Areia
Branca e Natal, que são regiões portuárias e passaram a ser utilizadas como
posição estratégica para o tráfico internacional de drogas com destino à
Europa. Entre 2018 e 2022, por exemplo, foram apreendidos 7,5 toneladas de
cocaína no Porto de Natal, com valor de mercado podendo chegar a R$ 1,4 bilhão.
Já em relação ao interior do RN, cidades limítrofes
com a Paraíba são citadas e destacadas pela inteligência potiguar. Caicó,
Currais Novos, Nova Cruz, Jardim de Piranhas e João Dias estão entre as
vulneráveis ao estabelecimento do crime organizado. Outro ponto que corrobora é
o fato de que todas essas cidades estão “coladas” com cidades da Paraíba, como
Várzea, Frei Martinho, Picuí, Tacima, Logradouro, Caiçara, Jacaraú, Catolé do
Rocha e Brejo do Cruz. Neste último caso, João Dias foi palco de um assassinato
de um candidato à prefeitura da cidade em agosto de 2024, que segundo a Polícia
Civil, teve motivações políticas e possíveis ligações com o crime organizado.
A cidade de Jardim de Piranhas passa pelo mesmo
cenário. Uma operação apontou que um grupo lavou mais de R$ 23 milhões oriundos
do tráfico de drogas com compra de imóveis, fazendas, rebanhos bovinos e até
uso de igrejas. O esquema era comandado por dois irmãos que tinham importância
estratégica no PCC.
Em Nova Cruz, cidade limítrofe com a Paraíba, a
Polícia Civil desarticulou em novembro de 2024 uma quadrilha suspeita de
milícia privada e grupo de extermínio. Em 2020, outra investigação já havia
identificado milícia armada na cidade. Segundo as investigações, os suspeitos
abordavam os cidadãos e exigiam pagamentos pelos “serviços”. Foi apurada também
a existência de alguns inquéritos para investigação da prática do crime de
homicídios nos quais os integrantes dessa milícia armada são apontados como
supostos autores.
Chama a atenção ainda outras cidades pequenas, mas
com importante atuação no crime organizado. É o caso de Rio do Fogo, com
dificuldades relacionadas ao tráfico marítimo de drogas e contrabando de
mercadorias, como combustíveis e produtos eletrônicos. Nesse sentido,
Maxaranguape também é citada com dificuldades semelhantes, acrescentando ainda
rodovias secundárias que conectam a região a outros municípios. Já Macau, por
exemplo, é apontada como ponto de saída para tráfico marítimo e redistribuição
de mercadorias ilícitas, incluindo combustíveis e produtos contrabandeados.
“Essas
cidades são justamente as que há mais possibilidades e vulnerabilidades. São
pontos estratégicos que foram apresentados ao MJ para serem empregados na
operação. O planejamento é das forças de segurança pública, tanto da Polícia
Civil quanto da PM. Tudo com estudo de inteligência, ocorrências, fatos”,
explica o secretário de Segurança do Estado, Coronel Francisco Araújo.
Operação
Entre os objetivos da operação do Ministério da
Justiça estão o estabelecimento de atuação coordenada e integrada nas divisas e
fronteiras, com o intuito de promover esforços e presença estratégica do Estado
em áreas vulneráveis, além de ações de enfrentamento aos crimes
transfronteiriços, ampliando a capacidade operacional e aprimorando a
articulação entre forças locais, regionais e nacionais.
“Essa operação é antiga e iniciou nos estados onde
tínhamos fronteiras com outros países, como Mato Grosso do Sul, na Amazônia,
por exemplo. Depois o MJ reajustou para que ela atingisse também os limites, as
divisas. Nisso somos contemplados porque temos a divisa do RN com a Paraíba e
com Ceará, além do Estado fazer fronteira com o Oceano Atlântico. Temos efetivo
da PM e Polícia Civil empregado nessa operação, fazendo apreensão de armas,
drogas, captura de fugitivos. O Governo está repactuando essa operação para
fortalecê-la ainda mais”, explica o secretário de Segurança do RN, Coronel
Francisco Araújo.
Para o primeiro quadrimestre de 2025, a Operação
Arco de Divisas terá um investimento de R$ 791 mil para o pagamento de 2.364
diárias operacionais, sendo 60% para a Polícia Militar e 40% para a Polícia
Civil do RN.
Em 2024, a Operação Protetor, que tinha o mesmo
intuito, prendeu 104 pessoas por diversas ocorrências, entre eles tráfico de
drogas, contrabando de cigarros, porte ilegal de arma de fogo, roubo,
receptação, prisões por mandados, entre outras.
Ao todo, foram 54.000 maços de cigarro apreendidos
gerando um prejuízo de R$ 1,6 milhão ao crime organizado; 31kg de drogas como
maconha, cocaína, pasta base, crack, entre outras; 47 armas e 17 veículos
apreendidos.
- Veja
as cidades mais vulneráveis ao crime
Relatório produzido pelo Ministério da Justiça, com dados da Sesed, mostra a atuação do crime organizado em 15 municípios do interior do Estado. Veja abaixo de que forma as estradas e o litoral são utilizados pelos bandidos.
Mossoró: Ponto
estratégico para o tráfico de drogas e contrabando de mercadorias. A cidade é
usada como corredor logístico para transporte de drogas vindas de estados
vizinhos e redistribuição de produtos contrabandeados para outras regiões do
país e acesso ao Porto de Natal.
Pau dos Ferros: Área
crítica devido à presença de rotas clandestinas que facilitam o tráfico de
drogas e mercadorias contrabandeadas.
Nova Cruz: Ponto
estratégico para o contrabando e descaminho de mercadorias ilícitas, utilizando
rotas secundárias para evitar fiscalização.
Macau: É usada
como ponto de saída para tráfico marítimo e redistribuição de mercadorias
ilícitas, incluindo combustíveis e produtos contrabandeados.
Touros: Frequentemente
utilizada como local de desembarque de mercadorias ilícitas e drogas. A
presença de rotas secundárias facilita o transporte interno, ligando o litoral
ao interior do estado.
Currais Novos: Apresenta
rotas secundárias que facilitam o transporte de drogas e mercadorias ilícitas,
sendo também uma área de atuação de organizações criminosas.
Caicó: É um ponto
vulnerável para atividades ilícitas, incluindo tráfico de drogas e contrabando,
devido à sua posição estratégica no interior do Estado.
Extremoz: É
estratégica devido à proximidade com a capital e áreas industriais. O município
tem sido usado como rota de apoio logístico para o tráfico de drogas e
contrabando, com foco na redistribuição para mercados urbanos e costeiros.
Maxaranguape: Ponto
de vulnerabilidade para o desembarque de mercadorias contrabandeadas e tráfico
de drogas devido à dificuldade de fiscalização em áreas costeiras e rodovias
secundárias que conectam a região a outros municípios.
Rio do Fogo: Tráfico
marítimo de drogas e contrabando de mercadorias, como combustíveis e produtos
eletrônicos. Áreas remotas e o acesso limitado às forças de segurança tornam-no
um ponto crítico.
São Tomé: Enfrenta
desafios associados ao tráfico de drogas e contrabando em rotas terrestres que
conectam municípios do Seridó a outras regiões. A ausência de fiscalização
intensiva nas estradas vicinais aumenta a vulnerabilidade.
Jardim de Piranhas: Frequentemente utilizado como rota para transporte de
drogas e mercadorias contrabandeadas entre os estados vizinhos.
João Dias: Ponto
vulnerável para o tráfico de drogas e armas. A presença de rotas clandestinas e
estradas vicinais facilita o transporte de produtos ilícitos entre os estados.
Luís Gomes: Utilizado
como corredor logístico para atividades ilícitas, incluindo tráfico de drogas e
contrabando, aproveitando-se das rotas secundárias e da baixa fiscalização na
região.
Areia Branca: Possui
um porto estratégico usado como ponto de embarque e desembarque para atividades
ilícitas, incluindo tráfico de drogas e mercadorias contrabandeadas.

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