Os servidores do Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) publicaram na última sexta-feira
(4) uma carta aberta com críticas aos argumentos utilizados pelo presidente do
órgão, Manuel Palácios, para justificar o atraso de 8 meses na divulgação de parte
dos dados do Sistema Nacional de Avaliação Básica (Saeb) de 2023.
Os funcionários do Inep dizem que entregaram todos
os resultados da avaliação no dia 14 de agosto de 2024, desconhecendo motivos
que pudessem ter gerado o atraso.
“Na perspectiva do seu corpo técnico, não há nenhum
erro ou inadequação que justifique a não divulgação dos resultados do Saeb
2023”, dizem os pesquisadores do Inep no documento.
Os funcionários descrevem que, em reunião feita no
dia 2 de abril de 2025, manifestaram inquietações à presidência do órgão sobre
a demora na divulgação desta e de outras avaliações e levantamentos organizadas
pelo instituto, como o ENADE e o Censo de Educação Básica de 2024.
Nessa reunião, Palácios teria justificado o atraso
do Saeb 2023 em decorrência de um erro de amostragem, gerando um impasse que,
conforme os servidores, deveria ter sido discutido de maneira interna.
“O Presidente trouxe à público suas argumentações,
sem prévia discussão interna com servidores”, colocam os servidores do Inep.
Os funcionários também usam o documento para
defender o trabalho executado pelo instituto: “destacamos que o INEP conta com
um corpo técnico de servidores altamente qualificado, que dialoga com diversos
especialistas e está aberto para discutir o aprimoramento de seus processos”.
A polêmica dos números omitidos
Depois de forte pressão política, Manuel Palácios
convocou na última quinta-feira (3) uma coletiva de imprensa para
explicar por que os dados do 2º ano no Saeb foram disponibilizados somente
naquele dia.
Aplicada para alunos do 2º, 5º e 9º ano do ensino
fundamental e estudantes do 3º do ensino médio, o Saeb é o principal
instrumento de avaliação da educação básica brasileira e é bancado por recursos
públicos. A avaliação mensura o conhecimento dos alunos em língua portuguesa e
matemática.
Enquanto os dados de alfabetização do Saeb ficaram
“escondidos” durante 8 meses, o governo Lula comemorou publicamente os
resultados de um instrumento criado pela própria pasta na atual gestão: o
Criança Alfabetizada.
Os números, comunicados em 31 de maio de 2024,
a partir de avaliações estaduais, mostraram que 56% das crianças estavam
alfabetizadas (porcentagem que, em teoria, revelava uma recuperação da
aprendizagem no pós-pandemia).
Em compensação, os números finais do Saeb divulgados
pelo Inep são menos entusiasmantes: indicam um nível de alfabetização de 49%
para alunos do 2º ano, 6 pontos percentuais a menos do que o apontado pelo
Criança Alfabetizada.
Em alguns estados, a diferença foi mais gritante: no
Maranhão, o Criança Alfabetizada apontou que 56% dos alunos de 7-8 anos estavam
alfabetizados; já o Saeb, 31%, com margem de erro de 5,9 pontos percentuais.
g1
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