Lula recorre a tudo o que tem de pior sempre que fica
incomodado com a realidade
É impossível para o presidente, materialmente, achar
que há alguma ligação entre os problemas e as decisões que toma; em vez de
mudar, ele só faz mais do mesmo
O governo do presidente Lula está fazendo o que
talvez seja a última tentativa de sobreviver à sua própria ruindade: trocar uns
ministros de incompetência comprovada por outros de incompetência presumida, e
fazer com que todos saiam por aí distribuindo dinheiro à “população”, na
esperança de conseguir voto para a eleição de 2026. Está confirmando o apronto,
como se dizia antigamente no turfe. Sempre que fica incomodado com a realidade,
Lula automaticamente recorre a tudo o que tem de pior.
Nunca se viu, nos 40 anos de vida política do
presidente, um único gesto de grandeza, um pelo menos que fosse, diante de
alguma dificuldade. Ao contrário: seu instinto o carrega sempre para a defesa
intransigente do seu interesse pessoal. É inevitável, desse jeito, que se torne
um homem pequeno. Tem menos a ver com política e mais com psicologia,
possivelmente. Lula padece de um desses desvios compulsivos de personalidade
que o impedem de pensar, a sério, que existam outras pessoas no mundo.
Brasil? Responsabilidade? Interesse público? O
presidente nunca pensou no Brasil em sua vida, é irresponsável e não
reconheceria o que é interesse público se trombasse com ele no meio da rua.
Lula só é capaz de pensar e de agir em defesa de si próprio – e num momento de
tempo ruim como o que está rolando, a última coisa que lhe passa pela cabeça é trabalhar
com honestidade na tentativa de resolver qualquer dos problemas que o Brasil
tem na sua frente.
A maioria desses problemas é fruto direto da inépcia
sem limites da atuação de seu governo até agora – que está a caminho de ser o
pior da história do Brasil. Os problemas que não foram fabricados por Lula
ficaram piores com a sua gestão; os que ainda não existiam foram criados pelo
Lula-3, o Retorno. Mas é impossível para o presidente, materialmente, achar que
há alguma ligação entre os problemas e as decisões que toma. Em vez de mudar,
ele só faz mais do mesmo.
Uma reforma ministerial como essa, que supostamente
se destina a melhorar alguma coisa, só tem sentido se os novos ministros forem
nomeados com instruções para fazer o contrário do vêm fazendo os ministros
vencidos. Não está dando tudo errado? Que tal, então, fazer de outro jeito? Mas
o presidente parece convencido de que as coisas estão indo para o diabo porque
os ministros ora em processo de moagem não têm feito suficientemente mal o
serviço que lhes foi atribuído. Lula quer mudar, é verdade – mas mudar para
pior.
Na área da política, por exemplo, havia um ministro
horrível; Lula pôs em seu lugar uma ministra horrível ao quadrado. É impossível
imaginar algum problema, qualquer problema, que possa diminuir com a presença
da ministra Hoffmann no governo. Pois é justo essa que Lula escolhe. O resto é
um vale a pena ver de novo, mas rodado ao contrário – é igual ao que você já
viu, só que pior. A questão nem é com os nomes em si. É com o vírus, resistente
a qualquer vacina, que infecciona todo o organismo dos governos Lula.
O presidente só tem uma ideia para o Brasil, e essa
ideia está errada. Está convencido, e se considera absolutamente certo na sua
convicção, de que existe apenas uma maneira, e não mais que uma, para se
resolver qualquer problema deste País: socar “investimento público” em cima.
Não há nada, nunca, de investimento que faça sentido – só há mesmo despesa.
Lula diz que é o contrário: que ele “investe” e não gasta. Não muda nada.
Não há governo que consiga fazer algo de útil para
os governados com esse vírus comendo solto dia e noite – sobretudo quando se
leva em conta que o vírus não é bobo, e sempre sabe o que está fazendo. O
dinheiro público é “investido” de duas formas, basicamente. A primeira é forrar
o bolso dos amigos e do sistema que dá sustentação ao governo. É o maior
programa de concentração de renda em execução hoje no mundo. O segundo é dar
uma parte do que sobra em esmolas. É o maior programa de incentivo ao
desemprego do mundo.
O Brasil do presente regime criou uma nova
realidade. O sujeito quer ficar rico, ou mais rico? Não crie nada; seja um
amigo do governo, ou “amigo do amigo”. O sujeito não quer trabalhar? Entre no
Bolsa Família, que já passou dos 55 milhões de pensionistas; trabalhar para
que, se o governo paga para você não fazer coisa nenhuma? Lula acha que só não
está dando certo porque o governo precisa gastar mais.
O “projeto de país” da esquerda é esse: um governo
que cria imposto e imagina que está criando riqueza, e depois imagina que vai
acabar com a pobreza distribuindo a riqueza que não foi criada. Aí não há
“reforma ministerial” que resolva – nem o novo ministro da Imagem, nem o novo
presidente do Banco Central, nem as performances de Janja. Nada resolve.
J.R. Guzzo - Estadão
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