Lideranças petistas próximas ao presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) iniciaram uma articulação para convencer o
vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad
(PT), a disputarem a eleição em São Paulo no próximo ano. Ambos, porém,
resistem. O plano é ter Alckmin concorrendo ao Executivo para aproveitar o seu
recall de ter governado o estado por quatro vezes, enquanto o titular da pasta
responsável pela condução da economia tentaria uma das vagas ao Senado.
Na avaliação desse grupo, não há outro nome além do
atual vice-presidente que possa fazer frente a Tarcísio de Freitas
(Republicanos), possível candidato à reeleição. Caso entre na disputa, Alckmin,
na visão dos petistas, não seria favorito, mas poderia alcançar um patamar de
votação próximo ao de Haddad em 2022, quando o ministro concorreu a governador.
O vice-presidente venceu três eleições no estado, em 2002, 2010 e 2014 (em
2001, era vice e assumiu após a morte de Mário Covas).
Para lideranças do PT, um palanque forte no maior
estado do país é fundamental para Lula, caso o presidente decida mesmo tentar
um novo mandato. Sem Alckmin, os petistas dizem que há um risco de uma vitória
de Tarcísio no primeiro turno, com votação superior a 70% — por enquanto, a
hipótese de o atual governador concorrer a presidente não é considerada no PT.
Uma derrota acachapante na corrida estadual poderia
prejudicar Lula e inviabilizá-lo na disputa nacional. No segundo turno de 2022,
o presidente e Haddad tiveram praticamente o mesmo percentual de votos válidos
no estado. Lula ficou com 44,76%, enquanto o postulante ao governo teve 44,73%.
Os paulistas são 22% do eleitorado nacional.
Além de garantir um palanque, a entrada de Alckmin
na disputa significaria uma solução para liberar o posto de vice da chapa de
Lula. A vaga é considerada fundamental para atrair o MDB para a aliança. O
governador do Pará, Helder Barbalho, vê com bons olhos ser o parceiro de chapa
do atual presidente, e os petistas o consideram favorito ao posto.
Apesar da estratégia, Alckmin, segundo um aliado,
não cogita a hipótese de concorrer a governador. O ex-tucano tem dito que não
houve até agora qualquer conversa sobre o assunto e que está bem na condição
atual. Ele também comanda a pasta da Indústria e Comércio. A aposta é que
Alckmin, ao seu estilo, jogue parado e não tensione as conversas.
Garantia de pasta
Petistas dizem que a única pessoa em condições de
tratar com Alckmin sobre o tema é o próprio Lula, e que isso deve ocorrer mais
para frente, quando o cenário eleitoral estiver mais claro. Aliados apontam que
um dos trunfos que Lula poderia apresentar a Alckmin é a garantia de que, após
a eleição, caso derrotado, ele voltaria para o ministério num eventual novo
mandato.
No PSB, o movimento é mal visto. Os colegas de
partido consideram que os aliados de Lula querem mandar o vice para “o
sacrifício” ao jogá-lo numa disputa com chance real de derrota, enquanto o PT
está preocupado, prioritariamente, em manter a sua bancada de deputados
federais no estado.
— O que o PT quer é isso (Alckmin como candidato a
governador). O que o PSB quer é a manutenção dele na chapa no lugar que ele se
encontra hoje (como vice). Tem essa pequena diferença — ironiza o presidente da
sigla, Carlos Siqueira.
O ministro da Microempresa e do Empreendedorismo,
Márcio França — também do PSB e governador de São Paulo por nove meses em 2018
—, tem manifestado a aliados a intenção de ser o nome de Lula na disputa. Uma
parte dos petistas, porém, considera que ele não seria competitivo.
Apesar das divergências, PT e PSB concordam que uma
das vagas ao Senado será da direita e que precisam de um nome competitivo. O
deputado Eduardo Bolsonaro (PL) e o secretário estadual de Segurança Pública,
Guilherme Derrite, que deve trocar o PL pelo PP, são as prováveis apostas
bolsonaristas para o pleito.
Haddad é visto no PT com chances de sucesso, e uma
ala da legenda acredita que ele não negaria um pedido de Lula para concorrer. O
ministro tem afirmado a aliados, porém, que não existe possibilidade de
disputar um cargo eletivo em 2026.
O Globo

Nenhum comentário:
Postar um comentário