No Dia Internacional da Síndrome de Down, celebrado
nesta sexta-feira (21), a educação inclusiva ganha destaque como um pilar
essencial para o desenvolvimento de crianças e jovens com o diagnóstico.
De acordo com dados do último Censo Escolar
divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (Inep), no Rio Grande do Norte, o número de estudantes atendidos na
educação especial pública aumentou quase 9% – com salto de 7.911 em 2022 para
8.622 em 2023. Entretanto, uma educação de qualidade ainda não é garantia para
todas as famílias atípicas.
Cristiane Braz, mãe de Maria Luisa, uma jovem de 15
anos com síndrome de Down, vivenciou de perto os desafios da inclusão escolar. Desde
a recusa de algumas instituições em aceitar sua filha até a falta de suporte
adequado dentro da sala de aula, o caminho tem sido de superação e luta por
direitos.
“Muitas
escolas enxergam a inclusão apenas no papel. Em um dos momentos mais
frustrantes, sugeriram que minha filha não precisava ser alfabetizada, como se
sua presença ali fosse apenas algo simbólico, quase como uma colônia de
férias”, desabafa.
Atualmente, Maria Luísa está matriculada em uma
escola privada onde Cristiane percebe um compromisso real com a adaptação das
atividades e o incentivo à aprendizagem.
No entanto, a mãe reflete sobre a desigualdade
educacional e destaca que sua condição financeira permitiu essa escolha,
enquanto muitas mães não têm alternativa e precisam enfrentar um sistema
público carente de professores especializados e infraestrutura adequada.
Cristiane também ressalta o papel fundamental dos
terapeutas e professores no desenvolvimento de Maria Luísa.
“Tive a sorte de encontrar profissionais que não só
ajudaram minha filha a evoluir, mas que também me deram suporte emocional e
orientação. A inclusão vai além da sala de aula, é um processo que envolve toda
a sociedade”, afirma.
Para ela, a verdadeira inclusão ainda é um desafio,
tanto na rede pública quanto na particular. “Enquanto não houver investimento
em formação de professores, acessibilidade e sensibilização dos alunos,
estaremos longe de uma escola realmente inclusiva”, conclui.
Especialista defende personalização do ensino
Para a professora Clésia Melo, coordenadora do curso
de Pedagogia da Estácio Natal, os
profissionais da área têm um papel fundamental na construção de metodologias
que assegurem o aprendizado e a autonomia desses alunos.
“A inclusão vai muito além da matrícula, é preciso
garantir um ensino significativo, com estratégias adaptadas às necessidades de
cada estudante”, enfatiza. Segundo ela, o acolhimento escolar e a formação
contínua dos professores são fatores essenciais para o sucesso na jornada de
aprendizagem.
Entre as principais estratégias pedagógicas para
alunos com Síndrome de Down, Clésia destaca a personalização do ensino, o uso de
materiais acessíveis e a aprendizagem baseada na interação.
“Crianças e jovens com o diagnóstico aprendem melhor
em ambientes que estimulam a comunicação, a criatividade e a experimentação
prática”, explica. Além disso, ela ressalta a importância da parceria entre
escola e família. “Deve existir espaço para trocas e cooperação, onde todos
atuem juntos para favorecer o desenvolvimento integral do aluno”.
Avanços na legislação garantem direitos
No cenário legislativo, um avanço importante ocorreu
em novembro de 2024, quando a Comissão de Educação da Câmara dos Deputados
aprovou o Projeto de Lei 3007/23. A proposta altera a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional e a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência,
regulamentando a educação especializada para pessoas com Síndrome de Down. O
objetivo é fortalecer as políticas públicas de inclusão e garantir que as
escolas estejam preparadas para atender às necessidades específicas desses
estudantes.
Apesar dos avanços, ainda há desafios a serem superados.
Para Clésia, a falta de recursos e a necessidade de maior capacitação docente
são entraves que precisam ser enfrentados.
“A inclusão não pode ser apenas um conceito. Ela
precisa ser uma prática real e contínua, transformando o dia a dia escolar e garantindo
oportunidades efetivas para todos”, finaliza.
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