“Sair de casa com o meu filho de nove anos para ver
de perto os ídolos do time de coração já não faz mais parte dos planos nos
finais de semana. O que deveria ser motivo de alegria e emoção agora é sinônimo
de medo, puro medo”. O desabafo sincero é do eletricista Claudionor Morais, que
hoje encara uma realidade triste e decepcionante quanto à segurança dentro e fora
dos estádios de futebol em Natal. O homem que, quando garoto, sentia a energia
vibrante dos craques Marinho Chagas, Mirandinha, Baltazar, Curió e outros,
agora abandonou as chuteiras e prefere torcer de longe, bem de longe, para não
ser alvo do absurdo inadmissível que vem se repetindo nos dias de clássicos.
As últimas cenas de vandalismo, depredação e pura
violência aconteceram neste sábado (29), na partida entre ABC e América, que
disputaram o título do Campeonato Estadual no estádio Frasqueirão. Dias antes
da partida, os órgãos de segurança, já prevendo o previsível, reuniram a
imprensa para apresentar o plano de segurança e, com ele, garantir o direito
legítimo do torcedor de ir apoiar o seu time de coração ali pertinho, no campo.
O plano fracassou! Os bandidos, trajados de torcedores, criaram uma estratégia
de guerra eficaz e transformaram alguns pontos de Natal e até o próprio estádio
em arenas de conflito, manchando com horror, medo e sangue até a camisa de quem
não tinha preferência entre os dois times. Aliás, até de quem nem de futebol
gosta.
Na Avenida Nevaldo Rocha, as imagens registradas são
angustiantes e perturbadoras. Vândalos literalmente pararam o trânsito e
obrigaram motoristas de ônibus a abrir as portas para entrarem em conflito
corpo a corpo com rivais que estavam nos transportes. (veja vídeo) Em um dado
momento, passageiros foram forçados a ficar abaixados, e outros acabaram
atingidos por pedras e bombas caseiras atiradas pelos criminosos. “Foi
infernal, parecia que eles iam matar todos que estavam no transporte”, disse
uma passageira que voltava do trabalho. A correria dos vândalos, com pedaços de
madeira nas mãos, pedras e bombas, impressionava quem passava pelo trecho da
antiga Bernardo Vieira. O cenário era de guerra.
Segundo testemunhas, o conflito se repetiu em outros
pontos de Natal, mas foi lá, no Frasqueirão, que o bicho pegou. Revoltado com o
resultado da partida, um grupo de falsos torcedores do ABC não pôde se
aproximar dos também falsos torcedores rivais. Aí, sobrou para a polícia, que
usou vários recursos para acabar com a desordem. Alguns indivíduos foram mais
ousados e desafiavam, da arquibancada, os policiais em campo, fazendo gestos
que sugeriam uma luta direta. Outros jogaram objetos em direção à equipe de
segurança armada, agravando ainda mais o clima de descontrole. Os PMs,
orientados e treinados para esse tipo de evento, não podiam reagir com mais
força e recursos porque sabem que, uma vez que um desordeiro fosse atingido,
mesmo dentro da aplicação da ordem, uma hora a conta chega, e não chega para
quem deu a ordem.
Depois de algumas horas, já no início da noite, o
clima de desespero do Natalense que estava nas ruas da cidade ficou
temporariamente tranquilo. O termo que envolve tempo faz alusão a outro assunto
em discussão e medonho: a famigerada guerra das facções, que incendeia as
noites da capital do RN com rajadas de balas, como brasas no céu ou na cabeça
de quem veste uma só camisa do clube da morte.
Por: O Equilibrista
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